Os três desafios

FOI LINDA A MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO NA VIAGEM AO CONGO

Os três desafios

Como a sabedoria jesuíta concluiu que os ouvintes fixam melhor três ideias-chave, e só três, o Papa estrutura assim cada discurso. Na recente viagem ao Congo, no encontro com os padres, diáconos, consagrados e seminaristas, na catedral de Nossa Senhora do Congo, falou de três desafios da vida espiritual.

«– Quero deter-me brevemente nestes três: a mediocridade espiritual, a comodidade mundana e a superficialidade».

A felicidade de todo o povo depende da luta espiritual daqueles que o servem:

«– Servidores do povo (…)que experimentaram a alegria do encontro libertador com Jesus e a oferecem aos outros. Lembremo-nos disto: o sacerdócio e a vida consagrada tornam-se áridos se os vivemos para “nos servirmos”. (…)Fomos chamados para oferecer a vida pelos irmãos e irmãs (…)».

Surgem então os três desafios a enfrentar, a mediocridade, a comodidade e a superficialidade.

«– Vencer a mediocridade espiritual. Como? (…)A prioridade da nossa vida é o encontro com o Senhor, especialmente na oração pessoal, porque a relação com Ele é o fundamento do nosso agir. Não esqueçamos que o segredo de tudo é a oração».

Muitos discursos do Papa Francisco desenvolvem-se em diálogo, como foi este, cheio de interpelações:

«– Dir-me-eis: É verdade! Mas com os compromissos, as urgências pastorais, as canseiras apostólicas, etc., corremos o risco de ficar sem tempo nem energia suficiente para a oração».

«– Quero, por isso, partilhar alguns conselhos: (…)A celebração Eucarística diária é o coração pulsante da vida sacerdotal e religiosa. (…)E não descuremos também a Confissão: sempre precisamos de ser perdoados, para poder dar misericórdia. Outro conselho: (…)é preciso reservar diariamente um tempo intenso de oração, para comunicar de coração a coração com o Senhor: um momento prolongado de adoração, de meditação da Palavra, de rezar o santo Terço; um encontro íntimo com Aquele que amamos acima de todas as coisas. Além disso, quando estamos em plena actividade, podemos também recorrer à oração do coração, a breves “jaculatórias” – são um tesouro –, palavras de louvor, de agradecimento e de invocação que se hão de repetir ao Senhor onde quer que nos encontremos».

Combater a mediocridade é fulcral: «Sem oração, não se vai longe… Para superar a mediocridade espiritual, nunca nos cansemos de invocar Nossa Senhora – é nossa Mãe – e de aprender dEla a contemplar e seguir Jesus».

O segundo tema é a comodidade.

«– Vencer a tentação da comodidade mundana, duma vida cómoda em que se organizam mais ou menos todas as coisas e se continua por inércia, buscando o conforto e arrastando-nos sem entusiasmo».

Cair no comodismo é apegar-se ao dinheiro ou descuidar o celibato sacerdotal.

«– Ao contrário, como é belo manter-se transparente nas intenções e livre de compromissos com o dinheiro. (…)E como é belo ser luminoso, vivendo o celibato como sinal de total disponibilidade para o Reino de Deus! (…)Por favor, vigiemos sobre a comodidade mundana».

«– Finalmente, o terceiro desafio é vencer a tentação da superficialidade». O remédio é a formação, para os padres e para todos:

«– A formação do clero não é facultativa (…): é um caminho a percorrer continuamente ao longo de toda a vida. Chama-se formação permanente: formação sempre, por toda a vida».

Em síntese, “mediocridade”, seria viver sem oração, sem Missa diária e Confissão frequente; “comodidade”, seria apegar-se ao dinheiro e abandonar o celibato; “superficialidade”, seria descuidar a formação. Estas três vitórias pessoais são o testemunho de que a Igreja precisa:

«– Temos de enfrentar os desafios de que vos falei se quisermos servir o povo como testemunhas do amor de Deus, porque o serviço só é eficaz se passar através do testemunho. Não esqueçais esta palavra: o testemunho».

E como é grande o fruto deste testemunho:

«– Sois preciosos, importantes: vo-lo digo em nome da Igreja inteira. Espero que sejais sempre canais da consolação do Senhor e testemunhas jubilosas do Evangelho (…). Agradeço-vos muito, irmãs e irmãos! Obrigado mais uma vez pelo vosso serviço e zelo pastoral. Abençoo-vos e levo-vos no coração. E vós, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Obrigado!».

José Maria C.S. André 

Professor do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa

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