Quais são os motivos e circunstâncias relacionados com a Santidade?
O objecto da acção (finis operis), a intenção (ou motivo – finis operantis) e as circunstâncias, são os três elementos de uma acção que precisamos de examinar de modo a podermos julgar se um acto é bom ou não. Este facto tem algumas implicações na nossa vida espiritual. Muitas vezes, os três elementos são utilizados para analisar a gravidade de más acções, mas muitas outras vezes deixamos de os usar na avaliação das boas acções.
Do ponto de vista da Fé, somos chamados não apenas a evitar o mal ou a tentarmos ser pessoas “decentes” ou “agradáveis” (simpáticas – amáveis). Nós, cristãos, somos chamados para uma vida de santidade. Muitas pessoas pensam que as acções que teremos de fazer têm que ser realmente “grandiosas”, “excepcionais” ou “extraordinárias”, de forma a que se possam qualificar para “a corrida” ao Paraíso. Quando falamos de Santos, muitas vezes olhamos apenas os seus feitos espectaculares, esquecendo-nos das suas vidas diárias, na maior parte das vezes tão normais como as nossas. O melhor exemplo disto foi a vida de Maria e José. Não temos qualquer registo de milagres que tenham sido feitos enquanto estiveram em Nazaré.
E sim, vimos que um acto mau nunca poderá tornar-se bom, apesar das melhores intenções da pessoa ou das circunstâncias em torno do acto. Mas muitas vezes subestimamos o que esses dois elementos podem fazer para transformar um acto absolutamente comum, sem nada de excepcional, mesmo sendo uma boa acção, em algo heroico, algo santificado ou “divino”.
INTENÇÃO OU MOTIVO. Já vimos antes que a intenção pode influenciar a bondade da acção. Deixem-me usar esta pequena história para vos esclarecer melhor.
Três homens estavam a trabalhar, empurrando carrinhos de mão cheios de tijolos, numa obra de construção. Um transeunte perguntou a um deles: «– O que está a fazer?».
Ele respondeu: «– Bem, não vê que estou a transportar tijolos?».
O transeunte depois de lhe agradecer fez a mesma pergunta ao segundo operário. Este respondeu: «– Oh, estamos construir uma igreja».
Então, perguntou ao terceiro homem, que respondeu: «– Talvez não acredite, mas na realidade estou a rezar. A cada trajecto que faço, ofereço o trabalho a Deus e penso que Ele o aprecia».
Moral da história: a mesma acção, diferentes intenções, diferentes resultados.
É por isso que não devemos julgar as acções pela sua “importância” aos olhos de terceiros. As nossas intenções podem fazer uma grande diferença, mesmo se estivermos a fazer uma série de pequenas tarefas, nada de espectacular, mesmo que monótonas. As boas intenções não são suficientes para transformar uma má acção em algo bom, mas as intenções podem fazer de algo bom, algo santo.
Assim, qual é o ponto? Nos últimos tempos, o Papa Francisco relembrou-nos a responsabilidade de sermos “os santos da porta do lado” (Gaudete et exsultate, 7 – Alegrai-vos e regozijai-vos, 7) e nós devemos perguntarmo-nos como fazê-lo. Apenas temos que nos lembrar de três realidades: 1– Estar em estado de graça santificante; 2– Fazê-lo no melhor das nossas capacidades; 3– Fazê-lo para Deus.
CIRCUNSTÂNCIAS. E o que temos sobre as circunstâncias? As circunstâncias também podem aumentar ou diminuir o valor ou mérito de uma acção. Por exemplo, tomemos duas pessoas que acabaram de se doutorar. A primeira nasceu numa família pobre, com uma inteligência media, e lutou para chegar à Universidade. A outra pessoa, filho de pessoas ricas, com uma inteligência excepcional, teve todo o tempo disponível para se concentrar nos estudos. Qual deles devemos admirar mais?
As circunstâncias adversas são oportunidades para crescermos. Situações de dificuldade são ocasiões para heroísmo. Os “tempos maus”, assim como os “tempo bons”, aumentam as nossas possibilidades de sermos “os santos da porta do lado”.
Pe. José Mario Mandía