Como é que os animais reagem?
Já vimos como é que o Homem e os animais reconhecem (entendem) o mundo exterior por intermédio dos sentidos (conhecimento sensorial). Mas o Homem e os animais não reconhecem apenas – eles também reagem àquilo que reconhecem. Deixem-nos dar uma vista de olhos em como é que tal acontece.
Os sentidos internos, em particular o poder estimativo ou instinto, identifica cada objecto que reconhece como útil ou perigoso para si. Existem duas vertentes ou tendências inatas (Aristóteles chamava a essas inclinações de “orexis” e São Tomás de Aquino chamava-as de “appetitus” [apetite]), que correspondem a estas duas percepções.
São Tomás chama à primeira destas inclinações “apetite concupiscível” (o verbo latim “concupiscere” significa cobiçar, ansiar ou desejar ansiosamente). O apetite concupiscível é a tendência que o Homem e os animais possuem em relação ao que é útil ou adequado e não relacionado com o que pode magoar ou causar-lhe danos. O objecto do apetite concupiscível são bens prazenteiros e apetecíveis, coisas das quais gostamos (Summa Theologiae I q81, a2).
Chamava à segunda inclinação “apetite irrascível” (em Latim o verbo “irasci” significa irar-se, tornar-se irrascível, zangar-se). É a tendência a resistir a qualquer coisa que nos impeça de conseguir o que nos é útil ou adequado. O objecto do apetite irrascível é qualquer coisa “árdua, difícil”, coisas que não gostamos ou sejam difíceis. A inclinação ou tendência deste apetite “é ultrapassar ou passar para além dos obstáculos existentes” (Summa Theologiae I q81, a2).
As inclinações são possibilidades ou capacidades de resposta. Quando efectivamente uma pessoa responde chamamos a esse acto “paixões” ou “emoções” ou “sentimentos”.
Aristóteles identificava seis paixões que surgiam do apetite concupiscível, eram elas: alegria ou satisfação, tristeza, desejo, aversão ou fastio (aborrecimento), amor e ódio. O amor a que Aristóteles se referia é a mais baixa forma de amor (sim, há formas mais elevadas de amor). Esta espécie de amor animal é o que normalmente podemos chamar de “gostar”.
Também identificava cinco paixões que surgiam do apetite irrascível. Eram estas: esperança, desespero, coragem, medo e raiva. A esperança que Aristóteles mencionava era do tipo animal, que é diferente da virtude sobrenatural da Esperança.
Estas acções não são apenas actos da Alma. Também produzem reacções físicas. Por exemplo, é fácil ver-se pela face de uma pessoa se ela está feliz ou triste, com medo ou raiva. Tal como os sentidos necessitam do corpo para levarem a cabo as suas funções, as emoções também envolvem o corpo nos seus actos.
Nos animais o processo começa com o estímulo e termina com uma reacção ou resposta que é quase automática. Normalmente dizemos que as suas reacções são instintivas. Por exemplo, vimos como os cães de Pavlov reagiam ao estímulo relacionado com a comida, de uma forma automática, e que a reacção podia ser detectada por uma alteração corporal (a salivação).
Mas mesmo nós, seres humanos, muitas vezes reagimos como animais. Quando enfrentamos algo que nos ameace, instantaneamente nos distanciamos do perigo. Quando algo nos ofende, imediatamente sentimos uma onda de raiva. Quando alguém nos ataca, ou fugimos ou contra-atacamos. Por vezes as nossas acções são ditadas pelo nosso conceito de gostar ou não gostar.
Não obstante, os seres humanos também tem a capacidade de agir imprevisivelmente, por vezes de formas misteriosas. Somos capazes de ir para além do comportamento animalesco. Ao contrário dos animais, cujas acções (e reacções) são condicionadas pelo Meio Ambiente, o Homem é capaz de exceder os limites impostos pela situação em que se encontra. Como? Isso é o que iremos estudar da próxima vez.
Pe. José Mario Mandía