Filosofia, uma dentada de cada vez (41)

O que observamos nos animais e no Homem?

Falámos sobre a capacidade das plantas reagirem a estímulos. Para além de reagirem à luz (fototropismo) e à gravidade (geotropismo), algumas plantas também reagem ao contacto. Este acto é denominado “tigmotropismo”.

A possibilidade de reagir aos estímulos leva-nos a duas outras capacidades distintas encontradas em todos os seres vivos: uma é a capacidade ou poder de detectar ou receber estímulos, a outra é a capacidade ou poder de responder a esses estímulos; um é uma função de “entrada” – aquisição – (cognição) e a outra é uma função de “saída” (resposta). Agora deixem-nos examinar estas características nos animais e no Homem.

Se comparados com as plantas, vemos que os animais têm capacidade de receber e processar uma maior variedade de estímulos e que também possuem uma maior capacidade de resposta. No campo da aquisição ou cognição podemos encontrar, no mínimo, cinco sentidos: visão, audição, olfacto, tacto e sabor. Na vertente “saída” (resposta) as possibilidades são inúmeras. Os animais, ao contrário das plantas, possuem uma capacidade adicional de movimento (locomoção).

A Biologia descreve a transmissão física dos impulsos nervosos desde a recepção de estímulos até à reacção ou resposta e chama-lhe “arco reflexo”. Tanto nas plantas como nos animais a resposta específica a certos tipos de estímulos são previsíveis. Por exemplo, quando um animal tem fome e vê comida produz saliva. O fisiologista russo Ivan Pavlov chamava a esse facto uma “resposta não condicionada”, isto é, o cão não necessitou aprender esta resposta (reacção); ela é pré-programada (nota: em termos filosóficos a resposta específica a um estímulo deriva da natureza do cão). Assim sendo, a resposta do animal a um estímulo específico é altamente previsível.

Mais: em 1890 Pavlov descobriu acidentalmente o que chamaria de “resposta condicionada”. Verificou que os cães começavam a salivar sempre que entrava no quarto, mesmo quanto não lhes trazia comida. Admitiu a hipótese de que os cães associavam a sua chegada com comida. Decidiu então experimentar tocar um pequeno sino de cada vez que servisse comida aos cães. Eventualmente, o som do sino também induzia os cães a salivar, mesmo que não houvesse trazido comida. Concluiu que qualquer coisa que um animal associasse com o estímulo (comida) podia induzir a salivação.

Quando falamos de seres humanos vemos uma ainda maior capacidade cognitiva e de resposta. Além disso, a resposta dos seres humanos a um estímulo específico pode variar drasticamente. Enquanto verificamos que o ser humano, como os animais, têm algumas respostas de raiz, ou pré-programadas para alguns estímulos, podemos também observar que o Homem tem a capacidade de responder de forma diferente ou de alterar a resposta inicial a um dado estímulo. As respostas do ser humano não são previsíveis.

Por exemplo, enquanto que cada ser humano com fome responde à comida da mesma forma, tal não significa que uma pessoa irá necessariamente comer quando tem fome. Poderá adiar a sua refeição e até mesmo jejuar.

Os seres humanos tem a capacidade de irem para além do que está pré-programado. Têm a capacidade de alterar (ou substituir) respostas automáticas a estímulos específicos. Este facto revela-nos algo sobre os seres humanos que os diferencia dos animais.

O facto das reacções dos seres humanos não serem completamente previsíveis tem uma aplicação (impacto) importante nas ciências humanas. Campos de estudo como a Psicologia, Sociologia, Economia, Política, etc., nunca poderão ser consideradas como ditas “ciências exactas”, tais como a Matemática, a Física e a Química. Mas há ainda um outro factor que determina as acções do Homem. É disso que falaremos nos próximos artigos.

Pe. José Mario Mandía

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