Matrimónio, um valor a preservar.
A vida conjugal deve ser constantemente estimulada, sob o perigo de entrar num círculo vicioso que poderá resultar em divórcio, assegura Filomena Yip, para quem é preciso ter em atenção os primeiros cinco anos de casamento. A’O CLARIM a secretária-geral do Movimento Católico de Apoio à Família em Macau fala sobre os casos de católicos e não-católicos que chegam à instituição, dos problemas com os primeiros filhos, da influência das sogras e do trabalho por turnos.
Fundado em 1981, o Movimento Católico de Apoio à Família em Macau centra a sua actividade no cuidado e na promoção da vida familiar, através da melhoria da relação entre os seus membros, especialmente dos casais.
«Actuamos a três níveis. O primeiro é na prevenção, com a realização de conferências para a comunidade de modo a promover a relação conjugal e convidar os casais a demonstrar o básico. Por exemplo, como dizer amo-te, em vez de “amo-te”? Pode ser através de um copo com chá ou a lavar os pratos. Ou talvez com um pequeno postal. Há muitas maneiras», explica Filomena Yip, secretária-geral da instituição, sedeada na Rua da Concórdia (Fai Chi Kei).
«O segundo é na divulgação do nosso centro para as pessoas saberem que podem vir falar e partilhar [as suas preocupações]. O terceiro é, obviamente, o aconselhamento. Há que ir ao fundo das questões e saber o que se passa no momento. Por vezes, há que ir ainda mais a fundo, ao que se passou antes do casamento, às raízes de cada pessoa», descreve, acrescentando: «Também realizamos o planeamento familiar e as reuniões pré-nupciais para quem contrai o matrimónio pela Igreja».
O Movimento Católico de Apoio à Família acompanhou 162 novos casos no ano passado, dos quais cerca de 80% estiveram relacionados com problemas conjugais originados pela dificuldade de comunicação, pela intenção de pedir o divórcio, por relacionamentos extra-conjugais, pela problemática interacção com outros membros da família e dificuldade em tomar conta dos filhos.
«Destes 162, apenas um terço são casais católicos, porque a maior parte dos utentes são não-católicos. É grande a percentagem dos que dizem não ter religião», revela Filomena Yip, assegurando que a instituição «está aberta a todas as comunidades do território», desde que «falem o Chinês ou o Inglês», porque «além de utentes de etnia chinesa, também temos de outros países asiáticos e até mesmo não-asiáticos».
«Nos últimos cinco anos temos vindo a desenvolver mais acções de divulgação no seio da diocese de Macau e das comunidades locais, por isso temos tido mais casos de pessoas que nos contactam directamente. Anteriormente, lidávamos maioritariamente com casos remetidos por outras instituições de cariz social. As pessoas também começaram a saber da nossa existência através do “Facebook” ou da Internet. Por vezes, através de amigos», salienta.
Factores
Segundo Filomena Yip, os problemas começam geralmente nos primeiros cinco anos de casamento, especialmente após o nascimento do primeiro bebé, com a mãe a ficar muito compenetrada nos cuidados da criança e o pai a sentir que é posto de parte. «A mulher até poderá ter que acordar de madrugada, estar cansada e não ter muito interesse na relação conjugal, no sexo», justifica.
Os pequenos desajustes também são notados, porque o casal já não namora como antes, não tem as atenções que costumava ter entre si, nem fala das tarefas sobre quem faz o quê. «Há situações de casais que estão no vazio e precisam de olhar para dentro da relação, em vez de falarem dos filhos ou de outros assuntos», assinala.
Já a relação com as sogras pode originar problemas «a qualquer altura do casamento», porque «exercem grande influência no casal, especialmente na comunidade chinesa».
«Acontece muito após o nascimento do primeiro bebé, porque “quem vai tomar conta dele? A tua mãe ou a minha?” Por vezes, há valores diferentes [entre eles]. O factor económico também pesa: “Quanto dinheiro vais dar aos teus pais? E quanto vou eu dar aos meus? E por que dás assim tanto aos teus? A equidade e a justiça, são assuntos do género [que norteiam as discussões]», exemplifica.
Perigos
«Durante a vida conjugal podem procurar-nos por diferentes razões, mas se juntarmos tudo dizemos sempre que há cinco armadilhas na vida conjugal: a situação financeira, a vida sexual, a relação com as sogras, os filhos e o tempo que passam juntos», diz Filomena Yip.
A indústria do Jogo também origina problemas conjugais: «A maior parte das pessoas trabalha por turnos, o que diminui consideravelmente o convívio entre o marido e a mulher. Quando estão juntos prevalece o cansaço do trabalho, por isso não têm vontade de falar ou de sair juntos. Passam a maior parte do tempo com os colegas ou com os amigos. Tornam-se estranhos em casa e não têm muito para falar entre si».
A mesma responsável é prudente ao abordar a percentagem dos casos de sucesso da instituição que dirige: «É difícil avançar com números. Assim, por alto, diria que entre um quarto e um terço são dos que optam por dar uma nova oportunidade ao casamento. Por vezes, deixam de vir ao nosso centro quando melhoram a relação. Nestas situações ficamos sem saber o resultado. Outros, ficam tão frustrados que desistem de nos procurar. Depende do estágio em que se encontram e do tipo de iniciativa que têm através do aconselhamento conjugal».
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
pedrodanielhk@hotmail.com