Portugal como alavanca juvenil pós-Covid em tempo de guerra na Europa
Filipe Teixeira, ex-assessor de comunicação do Patriarcado de Lisboa, participou pela nona vez numa Jornada Mundial da Juventude. Questionado sobre a maior diferença que encontrou entre a edição portuguesa e as outras oito em que esteve presente, apontou o facto da JMJ Lisboa ter sido «muito desejada pelo Papa Francisco». Num exercício de memória, disse a’O CLARIM não se recordar «de uma motivação e proximidade tão grande do Papa Francisco, até mesmo no que respeita à própria organização da Jornada. Ele acompanhou de perto tudo o que se estava a fazer, até porque neste caminho tivemos a questão da pandemia que marcou a todos».
Entrevistado pelo nosso jornal logo nos primeiros dias de Francisco em Portugal, Filipe Teixeira referiu «o desejo do Papa em falar aos jovens, depois do confinamento e da situação actual que todos conhecemos, marcada pela guerra na Europa». Neste quadro, destacou o encontro do Santo Padre com «as autoridades [oficiais de Portugal] e com os estudantes da [Universidade] Católica». Neste último caso, trata-se – no seu entender – «de motivar os jovens e desafiá-los a não terem medo e serem criativos, colocando Deus no centro [das suas vidas]». «É muito da mensagem da Ecologia Integral, da [Encíclica] Laudato si que temos já trabalhado há muito».
Tendo em conta todos os documentos redigidos ou chancelados pelo Papa Francisco, Teixeira considera que «o Papa tem pautado este Pontificado por uma proximidade muito grande em relação aos problemas que tendencialmente costumamos olhar de uma forma distanciada». A título de exemplo, mencionou o actual Sínodo em curso: «Vejamos a forma como o Sínodo se está a organizar. Todos são chamados a participar. O que o Papa Francisco fez, ao propor uma série de temas aos jovens, é exactamente permitir que neste clima de sinodalidade que estamos a viver eles possam tocar, experimentar, reflectir e ter uma ideia mais clara sobre aquilo que são as preocupações do nosso tempo, preocupações que o Papa Francisco tão bem aponta nos documentos que vêm sendo publicados».
Praticamente desde os primeiros minutos da JMJ Lisboa que a capital sul-coreana, Seul, foi dada como o próximo destino da Jornada. Depois de Lisboa, Seul é opção também pela sua localização periférica, sendo que as periferias é sempre um tema recorrente nos discursos do Papa? Filipe Teixeira responde: «Há que distinguir as Jornadas, que têm um ritmo próprio – agora é na Europa e depois será fora da Europa, como normalmente tem acontecido –, das habituais viagens apostólicas. Creio que se trata de contextos ligeiramente diferentes. No que diz respeito às viagens apostólicas do Papa Francisco, quando não estão em causa acontecimentos concretos como a JMJ, tem existido a vontade de traduzir aquilo que é a mensagem do Papa Francisco: a necessidade de dar atenção às periferias. Não é por acaso que ainda há pouco tempo o Papa Francisco visitou a Mongólia, onde vive uma minoria católica. Estamos a falar de menos de um por cento da população, o que é muito significativo».
A terminar, frisou a vontade do Santo Padre em voltar a Portugal pela segunda vez no espaço de seis anos: «O facto do Papa Francisco estar em Portugal pela segunda vez é em primeiro lugar um motivo de muita alegria. O Papa não escolhe, por exemplo Espanha, para fazer uma visita apostólica e fá-lo a Portugal com o número de dias que conhecemos; é a maior estadia de um Papa aqui em Portugal. Mais uma vez, é muito significativo».
José Miguel Encarnação
Em Portugal