A Cadeira de São Pedro, Apóstolo
A Cadeira, ou Cátedra (do Latim “Cathedra”) de São Pedro, Apóstolo, é, doutrinalmente, um símbolo da doutrina católica sobre a sucessão e a autoridade dos bispos, baseada no mandato de Cristo a São Pedro e aos seus sucessores romanos. De facto, em Mateus 16, 17, Jesus assim disse: «Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja». Desta forma, põe-se em relevo a missão de mestre e pastor conferida por Cristo a Pedro.
No dia em que os romanos costumavam honrar a memória dos seus antepassados celebra-se o dia natal (primeiro) de São Pedro na Cadeira Apostólica. Esta festa cristã sabe-se que era celebrada nesse dia dos antepassados em Roma no Século IV, mas então já com o significado da unidade da Igreja, fundada sobre o Príncipe dos Apóstolos. Pode-se resumir também como sendo uma Festa na qual é lembrado o ministério do Santo Padre.
Com efeito, os primeiros martirológios indicam que duas festas litúrgicas eram celebradas em Roma em homenagem às primeiras “cátedras” associadas a São Pedro, uma das quais foi mantida na capela baptismal da antiga Basílica de São Pedro (ou Basílica de Constantino), a outra na catacumba de Priscila, nos arredores, a Norte de Roma. As datas destas celebrações caíam a 18 de Janeiro e 22 de Fevereiro. Nenhuma das cadeiras sobreviveu, refira-se. Na actualidade, a cadeira que subsiste é um trono de madeira que a lenda medieval identifica com a cátedra episcopal pertencente a São Pedro como primeiro Bispo de Roma e Papa. Esta cadeira foi doada por Carlos, o Calvo (imperador da parte ocidental, a Francia, do império carolíngio, anos 875-877) ao Papa João VIII (Papa entre 872 e 882), no Século IX, por ocasião da sua viagem a Roma para a coroação como Imperador Romano do Ocidente (em 875, portanto). Este trono está preservado como relíquia na Basílica de São Pedro de Roma, numa magnífica composição barroca, obra de Gian Lorenzo Bernini, executada entre 1656 e 1666. A obra de Bernini está no presbitério da Basílica de São Pedro, emoldurada por pilastras. No centro encontra-se o trono de bronze dourado, no interior do qual se encontra a cadeira medieval de madeira e que está decorada com um relevo representando a “traditio clavum”, ou “entrega das chaves” (a Pedro). O trono assenta sobre quatro grandes estátuas, também em bronze, que representam quatro Padres ou Doutores da Igreja: em primeiro plano Santo Agostinho de Hipona e Santo Ambrósio de Milão, para a Igreja Latina, e Santo Atanásio e São João Crisóstomo, para a Igreja Oriental. Acima do trono surge um sol de alabastro decorado com estuque dourado rodeado de anjos que emoldura um vitral onde está representada uma pomba com 1,62 metros de envergadura, símbolo do Espírito Santo. É o único vitral colorido de toda a Basílica de São Pedro. Todos os anos nesta data, o altar monumental que alberga a Cátedra de São Pedro permanece iluminado durante todo o dia com dezenas de velas e numerosas missas são celebradas desde a manhã até ao anoitecer, concluindo com a Missa do Capítulo de São Pedro.
Embora ambas as Festas tenham sido originalmente associadas à estada de São Pedro em Roma, a forma do Martyrologium Hieronymianum do Século IX acabou por associar a Festa de 18 de Janeiro à sua presença em Roma, e a Festa de 22 de Fevereiro à sua estada em Antioquia, outra sede patriarcal importante. As duas Festas viriam a ser incluídas no calendário tridentino com a categoria de Festa Dupla, que o Papa Clemente VIII elevou em 1604 à recém-criada categoria de Dupla Maior. Todavia, em 1960, o Papa João XXIII excluiu a Festa de 18 de Janeiro do Calendário Romano Geral, juntamente com outros sete dias festivos que eram Festas duplicadas de um único santo ou mistério. A celebração de 22 de Fevereiro tornou-se, no entanto, uma Festa de segunda classe. Este calendário foi incorporado no Missal Romano de 1962 do Papa João XXIII, cujo uso continuado o Papa Bento XVI autorizou nas condições indicadas no seu “motu próprio” Summorum Pontificum. Na nova classificação de dias santos introduzida em 1969, por Paulo VI, a celebração do dia 22 de Fevereiro tem o estatuto de Festa. Os católicos tradicionalistas, que usam calendários mais antigos, tridentinos, principalmente, continuam a celebrar ambos os dias festivos: a Cátedra de São Pedro em Roma, a 18 de Janeiro, e a Cátedra de São Pedro em Antioquia, a 22 de Fevereiro.
As Festas passaram, assim, a ser associadas a um conceito abstracto da “Cátedra de Pedro”, que por sinédoque significa o cargo episcopal do Papa como Bispo de Roma, cargo considerado exercido pela primeira vez por São Pedro e assim estendido à Diocese, a Sé de Roma.
Vítor Teixeira
Universidade Fernando Pessoa