FESTA DO BAPTISMO DO SENHOR – Ano C – 12 de Janeiro

FESTA DO BAPTISMO DO SENHOR – Ano C – 12 de Janeiro

A mistura entre o humano e o divino

Esta oração do padre aparece diante dos meus olhos com um brilho alucinante na Festa do Baptismo do Senhor: “Que a mistura desta água e deste vinho nos leve a participar na divindade de Cristo que se humilhou para partilhar a nossa humanidade”. O celebrante da Eucaristia pronuncia esta oração sob a respiração, enquanto mistura uma gota de água no vinho, em preparação para o ofertório. Quando rezei esta oração na minha primeira missa, a cena do baptismo de Jesus veio-me à mente sem qualquer meditação prévia, e ficou comigo.

A imersão de Jesus na água insípida é uma metáfora cativante da imersão do divino na nossa natureza humana. Se Deus escolheu fazer parte desta humanidade, por mais insípida e impotente que seja, ela tem algo que capta a atenção do divino, algo que atrai o divino, ou melhor, enfeitiça o divino para uma imersão nessa natureza humana. A imersão é também uma garantia para a humanidade de que nem tudo está perdido. Eles são redimíveis. Existe a esperança de sair do fundo do poço. Isto também é verdade a nível pessoal. Ninguém pode estar tão irremediavelmente perdido.

Esta imersão é diferente da queda de Adão, que se enraizou na natureza pecaminosa da humanidade e não conseguiu libertar-se do seu defeito. Jesus purifica, torna divina a natureza humana através da sua imersão. A água que antes transportava a sujidade da humanidade pecadora torna-se agora imaculada, para além da contaminação, pela sua imersão. Agora, esta água é o sinal da fonte da vida eterna.

Jesus sai da água como um homem sem mancha. O velho Adão não podia sair do seu defeito. Aquele que andava com Deus, com a Graça, tinha caído da Graça. A imersão de Jesus simboliza também a imersão no abismo da fragilidade humana. Quando ele emerge da água, simboliza a possibilidade de uma humanidade redimida, a possibilidade de a reintegrar na graça original.

Terminada esta imersão consciente, o Pai avaliza o Filho, declarando que ele é o Filho amado. Momento em que Jesus toma consciência preeminente da sua humanidade e da sua divindade. Da sua fragilidade e da sua plenitude num mesmo momento.

Este é o Menino que afirmava que o Templo era a sua casa. Este é o Menino que queria ficar no Templo e não sair de lá. De repente, quando acontece a teofania, ele percebe que o Pai não está apenas no Templo – está em todo o lado. O mundo inteiro estava a tornar-se o templo da sua Experiência-Pai. A partir desse momento, ele invocava esse Nome, no deserto, nas montanhas, nas planícies, nos mares, quando estava sozinho ou com pessoas.

Este é também um momento em que Jesus recebe publicamente a confirmação de que não estava sozinho. O Espírito vem sobre ele de uma forma superiormente consciente e a palavra do Pai confirma-o. Ele não está sozinho, mesmo quando sente que o Pai não está presente, quando grita o Salmo: “Deus, porque me abandonaste?”. Dá-se conta de que caminha sempre acompanhado pelo Pai e pelo Espírito. O Pai não tinha de o chamar e perguntar: “Filho, onde estás?”. Adão foi abalado até ao âmago quando ouviu esta pergunta. O velho Adão tinha consciência da sua nudez; tinha consciência de que era totalmente transparente para Deus e, apesar das suas tentativas desesperadas, não havia nada que pudesse fazer para se esconder, e sentia-se envergonhado por isso. Já não podia dar-se ao luxo de ser transparente. Era pecador. Aqui está o novo Adão, que caminha com o Pai e o Espírito, completamente transparente um para o outro e não se envergonha disso. Quando a pecaminosidade é removida, a transparência é a luz do sol da vida. No eu pecador, a transparência é um pesadelo.

A Festa do Baptismo do Senhor convida-nos a olhar com esperança para a nossa saída das fragilidades. Convida-nos a caminhar ao sol da transparência divina. A falta de transparência é um lento carrasco das famílias, da alegria, da própria humanidade. Precisamos de nos libertar dela. Desejo-vos a todos um tempo emergente e reconfortante.

Pe. Jijo Kandamkulathy, CMF

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