Padroeira de Damão voltou a iluminar Macau.
A igreja de São Lourenço acolheu no primeiro sábado deste mês uma missa solene em honra de Nossa Senhora das Candeias. A festa da padroeira de Damão foi celebrada no território pelo 29º ano consecutivo, sendo cada vez mais um importante factor de coesão para a diminuta comunidade damanense que vive e trabalha em Macau.
A pequena comunidade dos naturais de Damão radicados em Macau reuniu uma vez mais no início de Fevereiro para celebrar a festa de Nossa Senhora das Candeias, padroeira da antiga possessão portuguesa no golfo de Cambaia.
Quase uma centena de devotos – entre damanenses, macaenses e fiéis de outras origens – associaram-se a uma celebração que evoca uma página há muito esquecida da História da Expansão Portuguesa na bacia do Índico: a reconquista de Damão.
A 2 de Fevereiro de 1559, fez no início do mês 460 anos, D. Constantino de Bragança tomou a cidade, à época uma florescente praça a meio caminho entre Goa e Baçaim. Uma das primeiras decisões tomadas pelo 7º Vice-Rei da Índia foi a de ordenar a realização de uma missa campal em pleno centro da cidade, uma tradição que se enraizou deste então e que ganhou um novo fôlego nos últimos anos. «Tenho 54 anos e desde que me lembro que é celebrada uma missa em frente aos Paços do Concelho», explicou Óscar Noruega, em declarações a’O CLARIM. «O presidente do Conselho Municipal de Damão é actualmente um hindu, mas tomou a iniciativa de dar continuidade à celebração da festa de Nossa Senhora das Candeias. Este gesto é, no meu entender, muito significativo, até porque a festa de Nossa Senhora das Candeias sempre esteve muito associada a Portugal e à comunidade portuguesa», acrescentou Noruega, residente em Macau desde 1989.
A abertura evidenciada pelas autoridades daquele que é o mais pequeno território federal da União Indiana atribuiu, no entender de José Colaço, um novo significado à evocação de Nossa Senhora das Candeias. O decano da comunidade damanense na RAEM considera que a devoção à Virgem é parte indissociável da identidade da antiga possessão portuguesa. «A celebração tornou-se também importante para os não católicos. Muitos passam por ali, fazem uma vénia e veneram Nossa Senhora das Candeias. Os católicos, obviamente, continuam a ser os grandes impulsionadores dos festejos, mas vemos cada vez mais os muçulmanos e os hindus a associarem-se, com muito respeito e com muito rigor, ao ritual que é próprio dos católicos», referiu Colaço.
Em Macau a festa em honra da padroeira de Damão é assinalada de forma ininterrupta desde 1990, um ano depois de Óscar Noruega ter chegado ao território. A celebração confere ainda à pequena comunidade damanense que tem a RAEM como casa o melhor dos pretextos para se reunir. «É algo que ajudar a consolidar a nossa união, a união dos naturais de Damão. Em Macau estarão umas seis a oito famílias com raízes em Damão», acentuou Noruega. «Desde há alguns anos que começámos a juntar outras comunidades que não apenas damanenses. Os próprios macaenses fazem questão de estar presentes. Alguns já nem precisamos de os convidar. Esta festa já cativou o coração e a alma de muitos deles», sublinhou.
A exemplo do que tem sucedido ao longo dos últimos anos, a festa de Nossa Senhora das Candeias foi celebrada com uma missa solene na igreja de São Lourenço, a que se seguiu um pequeno convívio em roda da mesa onde não faltaram sons e iguarias de matriz indo-portuguesas, como o vindalho, o sarapatel ou a bebinca, entre outros sabores da Índia Portuguesa.
Marco Carvalho