FÉ NUM DEUS ÚNICO E TRINO

Fé: a Virtude Fundamental (quinta parte)

5. FÉ NUM DEUS ÚNICO E TRINO

A Fé Cristã é fé em Deus: “Creio em Deus, criador do céu e da terra” (Credo Apostólico). Deus é o criador universal de tudo o que existe: de todas as criaturas, dos anjos, dos seres humanos. Ele é o Governador universal do mundo (cf. LG n.º 2). A sua sabedoria divina «estende-se poderosamente de um extremo ao outro da terra e ordena bem todas as coisas» (Sab., 8, 1). Nunca esquecemos que a Fé Cristã é um dom imerecido de Deus ao crente.

Mais do que acreditar no que não vimos, o dom da fé de Deus é confiar em Deus incondicionalmente – como Abraão –, como a rocha da vida (cf. Is., 7, 9). Esta confiança – uma ponte entre a fé e a esperança, ambas confiantes – ajuda-nos também a enfrentar as possíveis dúvidas na nossa fé (cf. Mt., 14, 31) e a ter uma fé forte – como o centurião e a mulher cananeia (cf. Mt., 8, 10, 15, 28). No Antigo Testamento, a fé em Deus inclui acreditar nele e nas suas palavras – nas verdades reveladas. No Novo Testamento, a fé em Jesus centra-se em acreditar que Ele é aquele que foi enviado por Deus, aceitar o seu testemunho, confessá-lo como Filho de Deus, aceitar o seu ensinamento e permanecer nele.

Através da Revelação, sabemos e acreditamos que o nosso Deus é “justo e misericordioso”, que Ele é o nosso Pai, que Ele não é um Deus solitário, mas um Deus único e três Pessoas divinas (não três deuses). Desde o início, os cristãos confessam a fé em Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo.

A fé é geralmente descrita como um encontro pessoal com Deus. A encíclica papal sobre a fé: “A fé nasce no encontro com o Deus vivo, que nos chama e revela o seu amor: um amor que nos precede e sobre o qual podemos apoiar-nos para construir solidamente a vida” (Lumen fidei n.º 4).

O encontro pessoal com Deus é o encontro sublime com a Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Jesus diz: “Quem crê em mim, não crê em mim, mas naquele que me enviou. E quem me vê, vê aquele que me enviou” (cf. Jo., 12, 44-45). O amor de Deus Pai e do Filho é o Espírito Santo, que nos ensina sobre a Trindade e os ensinamentos de Jesus. Texto surpreendente sobre a habitação da Santíssima Trindade nas nossas almas: «Quem me ama guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada» (Jo., 14, 23).

Jacques Ellul fala de forma poderosa e convincente sobre a nossa fé cristã, como sendo fé na Santíssima Trindade. Ele aponta três caminhos para nos aproximarmos do conhecimento de Deus: Deus como Totalmente Outro; Deus como amor que tudo abrange; e Deus como Trindade – um Deus em três Pessoas. Ellul escreve: “A revelação de Cristo é principalmente trinitária”. E acrescenta: “Enfatizar o monoteísmo [como os judeus e os muçulmanos] é tornar Jesus secundário”. O nosso Deus é o Deus cristão. “Deus dá-se a conhecer em Jesus Cristo e em nenhum outro lugar. Fora de Jesus Cristo, Deus é totalmente incognoscível e inacessível”. Jesus é tudo para nós: através da sua morte, ele é o nosso salvador; através da sua ressurreição, ele é a nossa esperança. Só Jesus nos revela quem é Deus, a Trindade: “A criação pelo Pai, a encarnação pelo Filho e a transfiguração pelo Espírito são a arquitectura da revelação” (“Essential Spiritual Writings”, 26). Confessamos: Creio em Deus…, e em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor… Creio no Espírito Santo (Credo Apostólico).

A fé é confiança em Deus: Uma confiança total em Deus é o remédio para as possíveis dúvidas e tentações contra a fé. A nossa fé fortalece-nos ao saber e acreditar, e acreditar que Deus não permitirá que o diabo, o Tentador, nos tente além da nossa força. Também sabemos e acreditamos que Deus nos ajudará com a sua graça e amor – sempre! E podemos ter a certeza, além disso, de que se um milagre for conveniente para a nossa salvação, Deus o fará por nós (Irmã Teresa de Ávila).

A fé é luz: A fé ilumina a vida e a sociedade (cf. LF n.º 55). A fé pode ser descrita de forma bela e poderosa como a luz do rosto de Deus sobre nós. Jesus: «Eu vim como luz para o mundo; a fim de que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas» (Jo., 12, 46). A nossa tarefa de fé: testemunhar a caridade fiel e esperançosa. Que maravilha: “A fé ensina-nos a ver que cada homem e cada mulher representam uma bênção para mim, que a luz do rosto de Deus brilha sobre mim através dos rostos dos meus irmãos e irmãs” (LF n.º 54).

Serei salvo? Jesus disse-nos que “quem crer e for baptizado será salvo; mas quem não crer será condenado” (cf. Mc., 16, 15-16). Graças a Deus, creio nele como Uno e Trino, na encarnação do seu Filho Unigénito, na presença e inspiração do Espírito Santo e em tudo o que foi revelado por Deus e proclamado pela Igreja.

Os outros serão salvos? Deus quer a salvação de todos e Jesus, o Filho de Deus, morreu pela salvação de todos (cf. 1 Tim., 2, 4). Deus comprometeu-se a dar graças suficientes, incluindo o dom da fé, a todos. São Tomás de Aquino diz algo muito consolador: uma pessoa que, de acordo com a sua razão e vontade naturais, faz o bem e foge do mal, pode ser salva: Deus revelar-lhe-á as coisas necessárias para a salvação. Como tal pode ser? O Doutor Angélico: Pela inspiração interna de Deus, ou enviando-lhe um pregador para instruí-la – como Ele enviou Pedro para instruir Cornélio (cf. Actos 10, 1-33) (cf. A. Royo Marin, “La fe de la Iglesia”).

Um último ponto consolador: a Dei Verbum do Vaticano II fala com precisão sobre a possível salvação dos nossos irmãos e irmãs que são cristãos (cf. DV n.º 15) e dos não crentes que procuram Deus honestamente (cf. DV n.º 16). Ninguém poderá dizer: Senhor Deus, não me ajudaste o suficiente. Com certeza, Ele ajuda a todos muito mais do que o suficiente!

Pe. Fausto Gomez, OP

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