Somos livres!
Caiu uma águia-real. A tempestade daquela tarde fez com que este imponente animal caísse num enorme lamaçal.
Ali estava ela – uma cabeça majestosa, umas plumas brilhantes e uma envergadura de asas de quase três metros. Ali estava ela no meio da lama, aturdida e em estado de choque.
Um rapaz, com o desejo de possuir tamanha riqueza, atou à pata da águia uma corda e a outra ponta a uma árvore que estava por perto.
Quando a águia despertou, abriu as asas com solenidade, olhou para o céu de frente e começou a voar. No entanto – atada como estava – caiu de novo na lama.
Voltou a olhar para cima e vislumbrou umas simples pombas a deslizar pelo céu. Com novo ânimo e força redobrada, tentou outra vez, e outra vez caiu no lodaçal.
Cinco, dez, vinte vezes voltou a tentar e cinco, dez, vinte vezes voltou a cair.
Por fim, desanimada diante de tanto esforço inútil, resignou-se a esperar pela morte atada à árvore.
Mas diz-nos a história que com a última tentativa de chegar até às nuvens, a corda tinha cedido devido ao desgaste – a águia-real estava livre.
Se tivesse tentado mais uma vez, nada a impediria de voar pelas alturas. Mas ali ficou, no meio da lama, porque já não acreditava que fosse possível.
É um velho conto que se torna realidade todos os dias.
O único verdadeiro fracasso na nossa vida é desistir. Desanimar, cruzar os braços e convencer-se de que o esforço por melhorar é inútil. Não é verdade!
Possuímos muitas capacidades que nunca pusemos em prática. Somos chamados a voar alto, muito alto, mesmo que em numerosas ocasiões nos contentemos com rastejar pelo chão e ir andando pela vida.
Somos livres!
Somos aquilo que queremos ser!
Configuramos a nossa personalidade com as nossas acções livremente escolhidas.
A partir do momento em que chegamos ao uso da razão, tornamo-nos pais e mães de nós próprios. Os outros podem aconselhar-nos, indicar-nos o bom caminho, mas no final somos sempre nós que escolhemos, que temos a última palavra.
E é com base nessas escolhas que construímos ou não o nosso carácter. Quantas vezes nos esquecemos da dimensão imanente do nosso actuar!
Quando escolhemos – bem ou mal – o mais importante não é aquilo que se produz fora, mas sim o que se constrói ou destrói dentro de nós. Por isso, não devemos actuar somente para fazer o bem, mas sim para ser bons.
Uma acção livre é, antes de tudo, uma decisão da vontade, uma decisão interior. A luta entre o bem e o mal não acontece no exterior, mas dentro do nosso coração.
Vítor Frankl dizia:
«O homem, porque é verdadeiramente livre, é causa de si mesmo. É o ser que sempre decide aquilo que é.
É o ser que inventou a música de câmara – mas também é o ser que inventou a câmara de gás. E também é o ser que caminhou para ela, de cabeça erguida, com passo firme, rezando o Pai-nosso».
Pe. Rodrigo Lynce de Faria
Doutor em Teologia