“Quem roubou o meu queijo?”
O título deste texto é de um livro que esteve na berra há uns anos. Segundo ouvi dizer, conta a história de uns ratinhos que viviam num labirinto e que dependiam do queijo como alimento para sobreviverem. Tinham descoberto um lugar onde havia abundância de queijo e, apoiados nessa segurança, viviam felizes e contentes.
Certo dia, porém, deram-se conta de que o queijo tinha acabado. A reacção de cada um deles foi diferente. Uns continuaram a procurar o queijo no lugar habitual com o argumento de que sempre tivemos alimento aqui e isso agora, evidentemente, não vai mudar. Outros, pelo contrário, já se tinham dado conta de que o queijo estava a terminar. Por isso, prudentemente, tiveram a preocupação de procurar esse alimento noutros lugares. Como o tinham encontrado, já não dependiam somente do queijo daquele local para sobreviverem.
Esta história faz-nos pensar que a nossa vida muda com muita frequência. Por isso, o modo como realizamos o trabalho e os meios com que contamos para o fazer podem vir a tornar-se obsoletos.
Cada um de nós acumula, com o passar do tempo, uma série de costumes e experiências que determinam o nosso estilo de trabalhar e também o nosso estilo de viver. Um belo dia, porém, damo-nos conta de que essas rotinas já não funcionam: necessitam de ser adaptadas às novas circunstâncias. Por esse motivo, entre outros, somos seres inteligentes, com capacidade de adaptar-nos às novas situações. Dizer isto, no entanto, não é o mesmo que dizer que tudo na vida é mutável, passageiro e efémero. Se tudo fosse mutável, uma pessoa com princípios éticos seria obsoleta por definição.
Se os princípios mudam com as circunstâncias, das duas uma: ou não sabemos o que são princípios ou não os temos. Como dizia uma personagem sem princípios enquanto negociava: «– Que fique claro que estes são os meus princípios. Se não gosta deles, eu arranjo outros. O único importante é fecharmos hoje o negócio».
Os princípios, se o são de verdade, não só não nos impedem de adaptar-nos às novas circunstâncias, como são a base firme que nos permite um apoio nessas mudanças. Talvez por isso – entre outros motivos – o Papa Bento XVI convocou o Ano da Fé (2012-2013), para que conhecêssemos bem os princípios da fé cristã e que redescobríssemos a alegria de acreditar e o entusiasmo de comunicar a fé como aquilo que é: o maior tesouro que Deus nos deu. Uma fé que, como dizia Bento XVI, tem de ser professada, celebrada, vivida e rezada. Uma fé que não é uma teoria – é o encontro com uma Pessoa que vive na Igreja.
Os tempos mudam – as circunstâncias também – mas a nossa fé permanece e permanecerá sempre a mesma. E é a partir dela que podemos adaptar-nos à conjuntura actual e empenhar-nos numa nova evangelização. Uma evangelização que é nova mas que procede da fé de sempre: aquela que nos deixou Jesus Cristo e que a Igreja tem a missão de guardar e transmitir com fidelidade.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria
Doutor em Teologia