Pensar bem
O rapaz queria comer um gelado. Ao aproximar-se o empregado, fez-lhe uma pergunta de grande importância:
«– Quanto custa um gelado com cobertura de chocolate?».
O empregado respondeu de um modo brusco:
«– Dois euros».
O rapaz consultou as finanças e voltou a perguntar:
«– E um gelado sem cobertura de chocolate?».
O empregado nem queria acreditar no tempo que estava a perder.
«– Um euro e meio. Queres o gelado ou não?».
Era evidente que o rapaz, quando tivesse o gelado na mão, iria fugir sem pagar – pensava o empregado. A juventude era assim: não respeitava ninguém. E ele, com a idade que tinha, mesmo que se esforçasse, nunca o conseguiria apanhar.
«– Então, poderia dar-me um gelado simples, sem cobertura de chocolate?».
O empregado trouxe o gelado e deixou a conta em cima da mesa. Retirou-se para atender outros clientes. No entanto, manteve um olho crítico no rapaz.
Este agarrou no porta-moedas, pôs em cima da mesa algum dinheiro, segurou no gelado com cuidado e retirou-se do estabelecimento com um ar de felicidade.
O empregado aproximou-se da mesa com a certeza do que iria encontrar. Ficou admirado quando viu um euro e meio em cima da conta. Ficou profundamente perturbado quando observou cinquenta cêntimos à parte: era a sua gorjeta.
Sentiu uma enorme vergonha e saiu a correr da gelataria. Queria pedir desculpas pelo modo como lhe tinha respondido e pelo que tinha pensado dele. Porém, como tinha previsto antes, não o conseguiu apanhar.
Pensar mal dos outros é sempre mais fácil. Se não tivermos cuidado, surge no nosso interior de um modo natural.
Pensa mal e acertarás. Será que não nos damos conta de como é injusto este adágio popular?
Mais do que expressar uma verdade objectiva, este ditado expressa uma realidade subjectiva. Tendemos a pensar mal e acreditar piamente que estamos na verdade.
O único modo de vencer esta tendência é o esforço sincero por pensar bem dos outros. Procurar compreender o seu modo de actuar, pondo-nos antes nas suas circunstâncias. Isto é especialmente importante quando nos relacionamos com os jovens.
Como é fácil ouvir falar mal da juventude a quem já não a possui!
A juventude exterior é um dom emprestado. A juventude interior é um dom conquistado. Um dom que está relacionado com o esforço diário por não nos deixarmos arrastar pelo mais fácil e imediato.
Uma característica essencial desse esforço é pensar bem dos outros.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria
Doutor em Teologia