A maior catedral medieval de Portugal
A nossa rápida visita a Évora – de que vos falámos na crónica anterior – deu ainda tempo para uma deambulação pelas antigas ruas desta bela cidade alentejana. Claro está que o passeio não ficaria completo sem visitarmos a Sé Catedral. Aliás, dificilmente o majestoso edifício de granito consegue passar despercebido no emaranhado de ruas, ruelas e becos que compõem a miríade de vias de circulação, essencialmente pedonal, da antiga “Ebora”.
Aquele que é o maior templo medieval de Portugal, oficialmente denominado como “Basílica Sé de Nossa Senhora da Assunção”, fica no Largo do Marquês de Marialva e domina a silhueta urbana quando observado à distância, visto encontrar-se no local mais alto da cidade.
Na zona circundante podemos ver também o Templo de Diana e os edifícios históricos onde estão instalados o Museu da cidade e o Centro de Arte e Cultura Eugénio de Almeida.
Ao percorrermos as ruas e ruelas, e as suas escadarias que ajudam a alcançar o ponto mais alto de Évora, rapidamente nos apercebemos desta enorme estrutura que começou a ser edificada em 1186, mas que apenas foi dada como terminada em 1250. Entretanto, fora consagrada em 1204… e é um exemplo excelente do período de transição do Românico para o Gótico.
O esplendor da estrutura começa logo pelo elaborado portal que dá acesso à estrutura principal. No entanto, as intervenções de que foi alvo ao longo dos séculos alterou consideravelmente o projecto arquitectónico inicial.
No Século XVIII a catedral tornou-se mais rica com a construção da capela-mor, apadrinhada por D. João V. Aqui, os mármores provenientes de Estremoz assumem particular importância na surpreendente conjugação com a rigidez das linhas romano-góticas. Se bem que, segundo nos explicaram, o detalhe mais importante da catedral encontra-se no exterior, mais propriamente na torre-lanterna que é encimada por uma agulha de escamas de pedra – uma obra prima do reinado de D. Dinis.
Para além da entrada do pórtico principal, há ainda a Porta do Sol, com arcos góticos, e a Porta Norte, reconstruída no período Barroco.
Este templo contempla também claustros ao estilo gótico, área onde se encontra a capela funerária do Bispo D. Pedro, o fundador da catedral. Numa nota mais recente, é-nos dado saber que já no Século XX também ali deixaram repousar eternamente os Arcebispos de Évora.
Visita que se preze à Sé Catedral de Évora tem de incluir uma demorada passagem pelo Museu de Arte Sacra para se apreciar o seu riquíssimo espólio de paramentaria, pintura, escultura e ourivesaria. A quantidade de relíquias ali depositadas, e que podem ser apreciadas, é demasiado extensa para estarmos a destacar apenas algumas. Este museu, só por si, merece mais de que um dia para ser visitado e entendido na sua plena dimensão. Encontra-se instalado no antigo Colégio dos Moços do Coro da Sé, edifício adjacente à catedral.
Outro dos locais que merece ser “contemplado”, e que pode ser aproveitado para um bom descanso após horas de visitas a pé, é o jardim interior do claustro – local que irradia tranquilidade e que em dias de calor oferece uma frescura oportuna vinda da envolvência do granito presente em toda a estrutura.
A catedral, com notórios aspectos românicos e góticos, mas também maneiristas e neoclássicos que advêm de intervenções posteriores, tem uma marcada feição regional dado que se podem ver algumas influências da arquitectura típica das Rotas de Santiago. Exemplo disso são os azulejos de fábrica sevilhana quatrocentista e a capela-mor em estilo neoclássico joanino, adornada com esculturas da escola de Mafra.
Num dos guias a que tivemos acesso pode ler-se que no pórtico da catedral está aquele que é considerado o mais monumental apostolado da arte medieval portuguesa e no qual trabalhou Telo Garcia, o mesmo artista que já havia lavrado o túmulo do arcebispo bracarense D. Gonçalo Pereira. “O zimbório, elemento que identifica porventura as fontes de influência do primeiro ciclo de edificação do templo, lembrando protótipos que, irradiando de Perigord e Poitou, têm expressão suprema na catedral de Zamora”.
Apesar de toda a sua monumentalidade e imponência, durante a visita que fizemos o que mais nos impressionou foi a forma equilibrada da iluminação natural que é filtrada através do uso de granito negro e mármore branco.
Outro aspecto que nos tocou especialmente, pois nunca havíamos tido a oportunidade de o apreciar, foi o órgão que saiu das mãos de Heitor Lobo, um dos raros exemplares quinhentistas ainda existentes em Portugal. Há outro exemplar no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, cidade onde estudei e local que visitava frequentemente, uma vez que vivia ali bem perto.
João Santos Gomes