Fé católica distorcida por muitos
O negócio do aborto e da pornografia são uma fonte de corrupção que espalha injustiça pelo mundo. Há dias, vieram a público os salários astronómicos dos dirigentes da “Planned Parenthood”, uma das maiores empresas de aborto: mais de cinquenta mil dólares por mês! Os lucros anuais desta empresa cifram-se em cerca de dois mil de milhões de dólares, em parte resultantes de subvenções do Governo norte-americano. O dinheiro que corre entre as organizações abortistas e o mundo da política é um escândalo. Mas o negócio é tão rentável que é difícil dominá-lo.
Há um ano, o Supremo Tribunal dos Estados Unidos decidiu acabar com o seu papel criativo, apreciando as leis de acordo com as opiniões pessoais dos juízes, e passou a cingir-se ao texto da Constituição. A primeira consequência foi a sentença “Dobbs vsJackson” que reconheceu que o aborto não está previsto na Constituição. Até agora, embora a Constituição norte-americana não defenda o aborto, o Supremo Tribunal declarava-o como um direito constitucional, aproveitando o facto de que nenhum órgão pode impugnar as decisões do Supremo.
Este progresso notável – de reconhecer que o Supremo Tribunal deve verificar honradamente a constitucionalidade das leis, sem abusar da sua posição para impor certos pontos de vista – é o fruto de uma ampla mobilização da sociedade norte-americana, desejosa de maior honestidade e transparência.
Ao completar-se um ano desta decisão do Supremo Tribunal, de se cingir a interpretar a Constituição, 31 congressistas pró-abortistas publicaram uma declaração a justificar o aborto “com base nas suas convicções católicas”. É óbvio que, tal como queriam continuar a invocar a Constituição inventando-a sem escrúpulos, interpretam a doutrina católica inventando-a à sua maneira.
A Conferência Episcopal norte-americana teve de se pronunciar claramente: “Os membros do Congresso que recentemente invocaram a sua fé católica para justificar o aborto ou apoiar um suposto direito ao aborto distorcem grosseiramente a fé. É errado e incoerente pretender que pôr termo a uma vida humana inocente na sua fase mais vulnerável seja coerente com os valores que apoiam a dignidade e o bem-estar dos necessitados. A vida humana deve ser respeitada e protegida absolutamente desde o momento da concepção, mesmo no direito civil [Catecismo da Igreja Católica, n.os2270 e 2273]. O aborto viola este direito das crianças por nascer e causa um sofrimento indescritível a inúmeras mulheres”.
Mais: “(…) A consciência [individual] não é uma licença para cometer o mal e acabar com vidas inocentes. A consciência não pode e não justifica o acto ou o apoio ao aborto. (…) Além disso, o facto de que os ainda não nascidos são nossos irmãos e irmãs vivos não é apenas uma questão de fé, mas é atestado pela ciência e pela razão sã”.
José Maria C.S. André
Professor do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa