EPM e São Paulo em torno do Presépio
Sob a forma de representações teatrais com uma forte componente musical, ou de momentos eucarísticos com recurso à montagem do Presépio e da organização de actividades direccionadas para alunos com necessidades especiais, a alegria do Natal chega, por esta altura, à maioria das escolas de Macau. Mas o ruído comercial que rodeia a quadra, a par de diferenças culturais irrefutáveis, nem sempre facilita a assimilação da verdadeira mensagem da Natividade.
Para cerca de quatrocentas crianças que frequentam a Escola Portuguesa de Macau, o Natal chegou mais cedo, embalado por uma chuva de confetes e de um arraial de cor e de canções que destacam o espírito de partilha, compaixão, generosidade e respeito que é apanágio desta quadra.
No passado sábado, o ginásio do estabelecimento de ensino recebeu a habitual Festa de Natal da EPM, ainda que este ano a celebração se tenha dividido, por indicação da Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude, em dois momentos distintos. Num recinto menos lotado que o habitual, pais e encarregados de educação viram actuar, primeiro, as crianças que frequentam o 1.º e o 2.º ano. Uma hora depois, subiram ao palco os alunos do 3.º e do 4.º ano, com a mensagem clara de que só a bondade e a partilha trazem cor ao Natal. «Eles ficam sempre muito contentes por reviver esta época, que é muito especial para eles e também para nós. Eu tento nas canções fazer-lhes reavivar – e no caso daqueles que não conhecem, fazer com que conheçam – as tradições portuguesas. Falamos das rabanadas, da aletria, do bacalhau. Tento que eles entendam, mesmo junto dos meninos que não são portugueses, a forma como o espírito natalício se manifesta em Portugal», explicou Ana Isabel Carreiro, em declarações a’O CLARIM. «Tento contextualizá-los, tento explicar-lhes as letras todas e tento que eles percebam que o Natal é, antes de qualquer outra coisa, o nascimento do Menino Jesus. Não é receber o presente do Pai Natal, mas sim o nascimento do Menino Jesus. É isso que estamos a comemorar. Tento sempre comunicar-lhes essa mensagem: a importância do nascimento de Jesus», vincou a professora de Educação Musical.
Mas num território com uma matriz cultural bastante diferenciada, nem sempre é fácil transmitir a verdadeira mensagem de Natal. Trata-se de um desafio que na Escola Portuguesa de Macau se tem vindo a intensificar ao longo dos últimos anos, com a admissão de um número crescente de alunos de língua materna não-portuguesa. «A maior dificuldade para montar um espectáculo como este é a língua», disse Ana Isabel Carreiro, tendo acrescentado: «Fiz festas há doze anos em que não havia este problema, porque a maioria dos alunos eram portugueses ou falavam a língua. Agora temos algumas dificuldades em ensinar a língua correctamente para que eles consigam cantar as canções. Mas as crianças são verdadeiras esponjas, absorvem tudo muito bem. Reagem muito bem e acabam, quando estão em palco, por cumprir os requisitos que são necessários para que tudo corra muito bem».
Já na Escola São Paulo (ESP) a língua não é problema mas o inquestionável peso de uma matriz cultural que encara o Natal com uma celebração “importada” faz-se sentir com outra densidade. O estabelecimento de ensino, que se rege pelos princípios e valores da Ordem Dominicana, procura comunicar a mensagem da Natividade de Cristo a um corpo discente amplamente não-católico, um esforço nem sempre é nem sucedido, referiu o padre Lawrence The Reh. «O Natal não constitui propriamente uma novidade para os nossos alunos. Quando chega Dezembro, conseguimos ver decorações de Natal e o Presépio por todo o lado, e a escola também tenta fazer com que os alunos se familiarizem com o Natal», explicou o missionário birmanês. «Quando nos aproximamos do Natal, a escola procura fazer com que se apercebam de que esta quadra esta a chegar. Na Escola São Paulo, durante o tempo do Advento, os professores de Religião mostram o Presépio aos seus alunos e explicam o significado do Natal e da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo. É fácil descrever o Natal aos estudantes através da história do nascimento de Cristo, mas não é fácil explicar a mensagem do Natal em toda a sua amplitude. Não são muitos os que estão preparados para a ouvir», admitiu o sacerdote.
A exemplo do que sucede na Escola Portuguesa de Macau, na ESP o Presépio é um dos elementos essenciais da celebração da quadra natalícia. Erguida na capela da escola, a representação do nascimento de Cristo mobiliza os professores de Artes e Educação Visual e funciona como pano de fundo para a celebração eucarística com que a Escola São Paulo assinala o Natal no último dia de aulas do Primeiro Período. «Antes das férias de Natal, a 18 de Dezembro, os alunos, professores e funcionários da escola vão-se reunir para celebrar a Missa do Advento, para lembrar que o Natal está à porta. No final da Missa estão previstas algumas actuações, regressando os alunos às salas de aula para continuarem a celebrarem com os colegas de turma e com os professores. Cada turma tem a sua própria celebração», ilustrou o padre Reh. «Este ano, devido à pandemia, com as limitações impostas ao número de pessoas que podem estar reunidas num mesmo espaço, pedimos a um número limitado de alunos para assistir à Missa no pátio do recreio, sendo que o resto dos estudantes vão seguir a celebração nas salas de aula, para onde será transmitida por vídeo. É a melhor forma de garantir que a mensagem chega a toda a escola».
Na Escola São Paulo, Natal é também sinónimo de solidariedade e de atenção para com os outros, salientou o padre birmanês: «Há outras actividades de Natal organizadas pela associação de estudantes e pelos alunos que integram a associação Best Buddies, que promovem uma iniciativa direccionada para os estudantes com deficiência intelectual e necessidades especiais. Brincam e participam juntos em actividades».
Partilha e generosidade são também palavras de ordem na Escola Portuguesa de Macau. O Departamento de Matemática e Ciências Experimentais vai sortear na próxima semana um cabaz de Natal e entregar à Cáritas as receitas obtidas com a venda das rifas. No Verão passado, o mesmo departamento entregou um donativo no valor de sete mil e 500 patacas à organização liderada por Paul Pun.
Marco Carvalho