Encontro secreto do Vaticano em Pequim

Conferência dos Bispos quer Papa na China.

Decorreu em Pequim a segunda ronda das negociações entre o Vaticano e a República Popular da China, iniciadas em Junho de 2014. A delegação da Santa Sé visitou o bispo de Pequim e o Seminário Nacional, cujo reitor é o presidente da Conferência dos Bispos da Igreja Católica na China, D. Joseph Ma Yinglin, que gostaria de ver o Papa Francisco em solo chinês.

O não anunciado encontro entre uma delegação do Vaticano e representantes do Governo chinês, que decorreu em Pequim no passado dia 11 de Outubro, é encarado como um sinal de que as negociações entre os dois lados estão a seguir em frente, tal como revelou o Papa Francisco no voo de regresso entre os Estados Unidos e Roma, a 27 de Setembro.

Embora não sejam conhecidos pormenores quanto à delegação, uma nota de Imprensa emitida pelo Instituto Verbiest, situado em Leuven (Bélgica), avança que terá sido composta por seis pessoas, não havendo qualquer informação em relação ao lado chinês.

Segundo o instituto belga, o encontro realizou-se sob a capa do Sínodo sobre a Família no Vaticano, que muitas atenções ajudou a desviar das declarações que foram proferidas dos dois lados da “cerca”. Terá ficado acordado que os assuntos mais delicados ficariam de fora da agenda.

Aparentemente, a nomeação de bispos e a ordenação de padres não foram abordados, bem como a situação do bispo D. Thaddeus Ma Daqin, que está em prisão domiciliária, em Xangai, desde que foi nomeado em 2012. Presume-se igualmente que não foi discutida a situação dos bispos entretanto “excomungados” pelo Vaticano.

Apesar de todas as limitações, o Instituto Verbiest refere que as actividades realizadas pela delegação do Vaticano após o encontro são um sinal de que a Igreja está a prosseguir as negociações com Pequim, salientando que os primeiros rumores sobre a possível deslocação de uma delegação a Pequim ocorreram em Julho deste ano, pelo que se não tivesse havido uma esperança realística no alcance de determinados objectivos a visita não teria acontecido.

O instituto revela que a 14 de Outubro a delegação visitou o bispo de Pequim, D. Joseph Li Shan, o que é encarado como um sinal positivo de que o encontro com as autoridades chinesas decorreu de forma amistosa. Embora D. Joseph Li esteja mandatado pelo Papa, chegou a participar na ordenação ilícita de um bispo no passado.

No dia seguinte, a delegação visitou o Seminário Nacional em Pequim, onde foi recebida pelo reitor, bispo D. Joseph Ma Yinglin. Este foi ordenado de forma ilícita em Kunming, em 2006, não estando reconhecido pelo Papa. O bispo D. Joseph Ma é o presidente da Conferência dos Bispos da Igreja Católica na China, um organismo cuja validade também não é reconhecida pelo Vaticano, que o considera nocivo e instrumento das políticas do Governo para a Igreja.

O Instituto Verbiest acentua que embora as referidas visitas não tenham sido publicitadas ambas contaram com a presença de vários padres que puderam testemunhar os momentos vividos. Um sacerdote terá afirmado que «as autoridades civis da China não teriam autorizado estas visitas se as negociações não fossem na direcção certa», assim como «uma delegação oficial do Vaticano jamais aceitaria visitar o Seminário Nacional – directamente controlado pela Associação Patriótica – e encontrar-se com um bispo ilícito se não tivesse me mente uma solução para a situação ilegal dos seus anfitriões».

O bispo D. Joseph Ma e os dois vice-presidentes da Conferência dos Bispos da Igreja Católica na China, D. John Baptist Yang Xiaoting e D. Vincent Zhan Silu, estiveram nos Estados Unidos durante a visita do Papa Francisco em Setembro.

A agência UCAN noticiou que os três bispos pediram a um bispo americano para oferecer uma Bíblia ao Papa em seu nome, com a seguinte mensagem: “Amamo-lo, rezamos por si, esperamo-lo na China”.

Apesar de D. John Baptist ter sido nomeado bispo com a aprovação do Vaticano, o seu envolvimento na Conferência dos Bispos da Igreja Católica é considerado problemático pela Santa Sé.

Até ao momento, ambas as partes não divulgaram qualquer comunicado oficial sobre a deslocação da delegação do Vaticano a Pequim. Muito possivelmente ainda estão a ser ultimados alguns detalhes sobre o que foi discutido e acordado, não sendo certo que venha a ser emitida alguma nota sobre o assunto. Esta é a segunda ronda de encontros desde Junho de 2014.

Embora poucos desenvolvimentos se possam esperar a curto prazo, as duas visitas realizadas pela delegação do Vaticano pode significar que a Conferência dos Bispos da Igreja Católica está na sua mira, podendo haver novas negociações a esse nível, o que reforça a ideia do Papa de que as coisas estão a seguir em frente. Contudo, nem todos partilham do mesmo optimismo.

«Duvido que o Presidente Xi Jinping tenha a coragem de tratar a Igreja Católica com sinceridade», escreveu um “blogger” na China, que se auto-identifica como Thomas, refere a UCAN.

«As relações entre a China e o Vaticano não se irão reforçar apenas porque estamos próximo das eleições em Taiwan, ou devido à paixão do Papa Francisco pela China», acrescentou o “blogger”.

«Qualquer mudança nas relações entre a China e o Vaticano está dependente da sinceridade, do pragmatismo, da compreensão e da transformação do Governo de Xi Jinping. Sem estas condições iremos assistir ao desenrolar das negociações sem que nada seja materializado, como tem acontecido nas últimas três décadas», concluiu.

In Sunday Examiner

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