E agora, Senhor Presidente?

Já sabíamos que o Senhor Presidente da República Portuguesa se considera um homem que «nunca se engana e raramente tem dúvidas»…

Também se apresenta sempre como um homem disciplinado na defesa e interpretação da Constituição Portuguesa…

Ouvimo-lo há dias afirmar que não cederia a pressões, «vindas de onde vierem», naquilo que iria fazer após as recentes eleições legislativas do País…

Concluiu publicamente, antes das eleições e entre outras considerações, que a solução política pós-eleições teria de ser encontrada pelos partidos políticos e não por ele; não era a função do Presidente e que nunca proporia um Governo de iniciativa presidencial…

Antes de conhecer os resultados eleitorais (eventualmente para nos deixar descansados), disse-nos igualmente, e de forma categórica, que estava preparado para todos os cenários políticos que surgissem após estas eleições. Razão que levou muita gente a interrogar-se porque é que, a 5 de Outubro, não se deslocou à Câmara Municipal de Lisboa para comemorar a República!?… Disse que já tinha tudo estudado!?…

Então, se o que antes afirmou é verdade, explique lá Senhor Presidente que ideia foi essa de chamar apressadamente o líder da coligação PSD/CDS, que ficou sem a maioria absoluta parlamentar, para que ele formasse Governo, sem ter em conta as outras formações políticas e a eventual plataforma governativa que se poderia formar entre elas. Esqueceu-se de falar com os restantes partidos da oposição, ou pensou que não valia a pena, porque não gosta deles? Tem alguma dúvida sobre os poderes soberanos da Assembleia da República nesta matéria?

Pois é, por muito estranho que lhe possa ter parecido (a si e a muita gente) que o PS comece a entender-se com o PCP e o BE, e surja no horizonte a possibilidade de um outro Governo através de um entendimento entre essas três forças, respeitando o essencial dos nossos compromissos internos e externos, o Senhor Presidente poderá, eventualmente, ter de vir a esquecer os seus “sábios” cenários previstos e remeter-se ao papel de Presidente de um sistema parlamentar e não de um sistema presidencial!

O Senhor Presidente acreditou naquilo que não deveria ter acreditado. Teve como certa que uma construção teórica, como é o chamado “Arco da Governação”, formado pelos partidos PS, PSD e CDS, limitava o número de partidos políticos com assento parlamentar que poderiam ter acesso ao Poder na nossa República. Os votantes nas recentes eleições legislativas desmontaram esta falsa concepção e deram origem à possibilidade de um outro quadro governativo, igualmente constitucional, legítimo e democrático.

Entretanto, o “barco” chamado Partido Socialista, cujo timoneiro António Costa foi dado como perdido na tempestade eleitoral, provocada por vagas alterosas vindas de todos os pontos cardeais, aparece agora, surpreendentemente, transformado em barco de “pesca”, com Costa agarrado ao leme e a navegar em mares “nunca dantes navegados”, balançando para a esquerda e para a direita, enquanto “simpáticas” sereias procuram aliciá-lo para a sua “cama”.

Não sei se o “barco” chegará a bom porto e, depois das extremadas fricções da batalha naval que foram as eleições, nem tenho a certeza de qual será o melhor porto. Sei apenas que essa frágil embarcação poderá afundar-se antes de chegar a algum lado, se membros da sua própria tripulação continuarem a abrir as “válvulas de fundo”.

Se o resultado da “pescaria” for bom, ou seja, se António Costa continuar a receber boas ofertas em lota, por parte de todos os compradores (PSD/CDS e PCP/BE), para o seu programa de viagens, ficará apenas a depender da decisão do seu armador (PS) para estabelecer a rota a seguir. Por Este ou por Oeste.

Esperemos que a bússola de António Costa continue a guiá-lo no bom caminho e que não avarie, em consequência da tempestade magnética que se fará sentir no País, seja qual for a opção do caminho que vier a tomar.

LUIS BARREIRA

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