DOMINGO DE RAMOS COM RESTRIÇÕES DEVIDO À PANDEMIA

DOMINGO DE RAMOS COM RESTRIÇÕES DEVIDO À PANDEMIA

Semana Santa convoca fiéis de Macau

A Igreja universal encontra-se às portas da Semana Santa, que tem início este Domingo, 10 de Abril, por meio da celebração do Domingo de Ramos. Em Macau, devido à pandemia, não haverá a tradicional Procissão dos Ramos, realizando-se apenas a habitual entrada solene antes das missas. Aos fiéis é solicitado que cheguem às igrejas, pelo menos, dez minutos antes da celebração eucarística, para que possam receber os ramos, a fim destes serem abençoados pelo sacerdote logo no início da Missa. Quem desejar obter mais ramos abençoados, poderá fazê-lo, por exemplo, no Cartório da Sé nas Segunda e Terça-feira Santas.

No Domingo de Ramos a Igreja recorda a entrada de Cristo em Jerusalém, montado num jumento, rumo ao Seu mistério pascal. Em 2021, por esta ocasião, o Papa Francisco afirmou em homilia proferida na Praça de São Pedro: «Todos os anos, esta liturgia cria em nós uma atitude de espanto, de surpresa: passamos da alegria de acolher Jesus, que entra em Jerusalém, à tristeza de O ver condenado à morte e crucificado. É uma atitude interior que nos acompanhará ao longo da Semana Santa».

“Jesus entra em Jerusalém aclamado como o filho de David, aquele que traz a Salvação. ‘Hosana’ quer dizer ‘salva-nos’”, escreve o professor Felipe Aquino, membro da Canção Nova, num dos seus artigos sobre o Domingo de Ramos.

Segundo Aquino, “pela entrada de Jesus em Jerusalém manifesta-se a vinda do Reino que o Rei-Messias vai realizar pela Páscoa da Sua Morte e da Sua Ressurreição. A entrada ‘solene’ em Jerusalém foi um prelúdio das Suas dores e humilhações. Este povo tinha visto Jesus ressuscitar Lázaro há poucos dias e estava maravilhado. Tinham a certeza de que este era o Messias anunciado pelos profetas; mas este mesmo povo tinha-se enganado no tipo de Messias que Cristo era. Esperavam um Messias político, libertador social, que fosse arrancar Israel das garras de Roma e devolver-lhe o apogeu dos tempos de David e Salomão, e dominar todo o mundo”.

No entanto – recorda o professor – para deixar bem claro ao povo que Ele não era um Messias temporal e político, um libertador efêmero, mas o grande “Libertador do pecado”, a raiz de todos os males, o Senhor entra na grande cidade, a Jerusalém dos patriarcas e dos reis sagrados, montado num jumentinho – expressão da pequenez terrena. “Ele não é um Rei deste mundo! Era a semana da Páscoa dos judeus, e Jesus, por vontade própria, ‘apressa o passo rumo à Sua venerável e feliz Paixão, para levar à plenitude o mistério da salvação dos homens’ (Santo André de Creta, sermão 9 sobre o Domingo de Ramos)”.

Aquino destaca que aquela “entrada triunfal” de Jesus em Jerusalém foi para muitos bastante pobre; as palmas dos Hosanas murcharam rapidamente. Pois cinco dias depois o povo gritava furioso: “Fora, fora, crucifica-o… Não temos outro rei além de César!”. “Era a decepção de um povo que queria um Messias grandioso, libertador político, e no entanto recebe um Messias que diz a Pilatos: ‘O meu Reino não é deste mundo!’” destaca o académico.

O Catecismo da Igreja Católica refere, no ponto 677, que “a Igreja não entrará na glória do Reino senão através dessa última Páscoa, em que seguirá o Senhor na sua morte e ressurreição. O Reino não se consumará, pois, por um triunfo histórico da Igreja segundo um progresso ascendente, mas por uma vitória de Deus sobre o último desencadear do mal, que fará descer do céu a sua Esposa. O triunfo de Deus sobre a revolta do mal tomará a forma de Juízo final, após o último abalo cósmico deste mundo passageiro”.

Filipe Aquino considera que “o Domingo de Ramos ensina-nos que a luta de Cristo e da Igreja – a nossa também – é uma luta contra o pecado, a desobediência à Lei sagrada de Deus, que hoje é calcada aos pés até mesmo por muitos cristãos que preferem viver um Cristianismo ‘light’, adaptado aos seus gostos e interesses e segundo as suas conveniências”. Neste âmbito, cita Bento XVI que disse estarmos perante a «a ditadura do relativismo».

Tendo por base o Evangelho de Mateus, Aquino recorda que o “Reino pertence aos «pobres de espírito» (Mateus 5:3); aos pequenos, àqueles que são como as crianças, isto é, aos que o acolheram com um coração humilde. Foi aos ‘pequenos’ que o Pai se dignou revelar o que permanece escondido aos sábios e aos entendidos”. Mais – continua o académico – “Jesus veio para todos, mas principalmente para os pecadores (Marcos 2:17), para os que estavam ‘doentes’: Convida-os à conversão, sem a qual não se pode entrar no Reino, mas mostrando-lhes, com palavras e actos, a misericórdia sem limites do Pai por eles e a imensa alegria no céu por um único pecador que se arrepende (Lucas 15:7). A prova suprema deste amor será o sacrifício da sua própria vida em remissão dos pecados (Mateus 26:28)”.

Jesus veio para libertar a Humanidade das correntes do maligno, consequência da desobediência e queda de Adão e Eva no pecado. Para Aquino, “a inauguração do Reino de Deus é a derrota do reino de Satanás. Jesus afirmou: «Se é pelo Espírito de Deus que eu expulso demónios, então chegou a vocês o Reino de Deus» (Mateus 12:28)”.

Já a concluir, o professor Filipe Aquino explica que “Jesus expulsa o demónio e liberta os homens do seu domínio. É uma antecipação da grande vitória de Jesus sobre ‘o príncipe deste mundo’. É pela Cruz de Cristo que o Reino de Deus será definitivamente estabelecido: ‘Deus reinou do alto do madeiro’”.

O estudioso deixa uma reflexão a todos os fiéis, neste início da Semana Santa: “O Domingo de Ramos ensina-nos que seguir a Cristo é renunciar-nos a nós mesmos; morrer na terra como o grão de trigo para poder dar fruto, enfrentar os dissabores e ofensas por causa do Evangelho”.

M.A.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *