Estudo da Bíblia está a crescer em Macau
Para o padre Eduardo Aguero, «a ignorância da Palavra é a ignorância de Cristo». O sacerdote argentino, responsável pelo acompanhamento espiritual dos fiéis de língua portuguesa que frequentam a paróquia do Carmo, criou um grupo bíblico na Taipa e ministra acções de formação sobre as Sagradas Escrituras todos os meses. O Domingo da Palavra de Deus celebra-se este ano a 23 de Janeiro e vai ser assinalado com um encontro de leitores no Auditório do Paço Episcopal.
A diocese de Macau vai promover a 23 de Janeiro, dia que a Igreja Católica consagra à celebração do Domingo da Palavra de Deus, um encontro que irá reunir os leitores que dão voz às Sagradas Escrituras nas igrejas do território. A iniciativa, organizada pela Comissão Diocesana da Liturgia e presidida pelo bispo D. Stephen Lee, tem como propósito celebrar o papel que os leitores desempenham, não apenas na celebração da Liturgia, mas, sobretudo, na divulgação da Palavra de Deus.
Durante o encontro, que decorrerá no Auditório do Paço Episcopal, entre as 14 horas e 30 e as 16 horas, D. Stephen Lee vai aprofundar a leitura da Carta ApostólicaAperuit Illis. O documento, emitido “Motu proprio” pelo Papa Francisco, a 30 de Setembro de 2019, instituiu a observância anual, no 3.º Domingo do Tempo Comum, do Domingo da Palavra de Deus, consagrado à celebração, ao estudo e à difusão das Sagradas Escrituras.
Aquando da apresentação da referida Carta Apostólica, o Sumo Pontífice exortou as comunidades católicas espalhadas pelo mundo a celebrar o Domingo da Palavra de Deus com a solenidade que lhe é devida, de forma a tornar evidente o valor normativo das Sagradas Escrituras. Às dioceses, o Papa Francisco concedeu a possibilidade de celebrarem o Rito do Leitorado, com o propósito de chamar a atenção da proclamação da Palavra de Deus na Liturgia.
Em Macau, a Aperuit Illisabriu as portas a um interesse renovado por uma compreensão mais aprofundada da Bíblia, considera o padre Eduardo Aguero. O sacerdote explicou que um tal interesse se reflecte não apenas em termos numéricos, mas também qualitativos. A pastoral de língua portuguesa da paróquia do Carmo instituiu uma dúzia de novos fieis no final de Novembro, um gesto que pautou o início de uma nova abordagem aos caminhos da fé. «Os leitores são instituídos porque constituem um ministério dentro da vida da Igreja. Na nossa paróquia, na comunidade de língua portuguesa, fizemos a formação dos nossos leitores», disse o padre Aguero. «Este processo não está, no entanto, completo. Todos os meses temos uma acção de formação. E a formação tem dois aspectos: há o aspecto da Liturgia e o aspecto da Palavra. Nós estamos a estudar a Palavra de Deus e a Liturgia ao mesmo tempo. A Palavra tem que ser proclamada e a pessoa que a proclama vive a Palavra. É por isso que é importante preparar as pessoas que proclamam a Palavra de Deus», acrescentou o missionário da Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus.
A Palavra de Deus, acentuou, faz parte essencial da vida da Igreja, mas o papel dos leitores não se esgota no gesto de coadjuvar o sacerdote na celebração eucarística. A expressão “Aperuit Illis” (“Abriu-lhes”) evoca uma passagem do Evangelho de São Lucas: «Abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras» (Lc., 24,45), na qual Jesus Cristo convida os Apóstolos a aceitarem a verdadeira dimensão da Bíblia enquanto mensagem de Deus e a partirem para anunciar a Boa Nova. O mesmo convite, sustentou o missionário dehoniano, é feito aos leitores sempre que são desafiados a proclamar a Palavra de Deus: «A Carta Apostólica Aperuit Illisfala da importância dos Ministérios da Igreja. A Liturgia não é algo exclusivo dos sacerdotes. Há outros ministérios que ajudam na celebração, na participação também. Há actividades diferentes na Liturgia e estas são matérias laicais, da responsabilidade dos leigos. É o caso da Palavra, da leitura da Palavra, mas também do acolitado», recordou o padre Eduardo Aguero. «No que diz respeito ao leitorado, a formação é bíblica e litúrgica. Começamos por uma abordagem geral da Bíblia e avançamos depois para o estudo de alguns dos Livros, em concreto. Por exemplo, houve um período, em Novembro e Dezembro, em que tínhamos muitas leituras do Livro dos Hebreus e nós estudamos o Livro dos Hebreus; procurámos abordá-lo de uma forma mais detalhada. Mas mais do entender a Palavra de Deus, quem lê a Palavra de Deus tem que a proclamar. Não se trata só de entender», alertou.
UMA RELAÇÃO PESSOAL COM DEUS
Para o padre Eduardo Aguero, o maior dos méritos da Carta Apostólica Aperuit Illisé, no entanto, o de convocar os católicos a uma vivência da fé mais aprofundada. Segundo ele, só é possível viver a fé em toda a sua plenitude quando se consegue construir uma relação pessoal com Deus. «Aquilo que muitas vezes acontece é que as pessoas, mesmo as que participam na Missa Dominical, já não mantêm este relacionamento pessoal com o Senhor. Nós temos que aprofundar isso. O encontro com a Palavra de Deus faz-nos descobrir a essência, a vida de Deus e ajuda a construir um relacionamento pessoal com Deus», defendeu. «A Palavra de Deus e a Eucaristia têm que ser entendidas como sendo o centro da vida cristã. Por isso, também é importante que os fiéis também tenham a noção da importância e da dimensão da Palavra, que meditem sobre a Palavra e pratiquem a Palavra e o encontro pessoal com Deus, por via da Palavra de Deus».
Mas o interesse renovado pelas Sagradas Escrituras não se reflecte apenas no número de leitores instituídos na paróquia do Carmo. O padre Eduardo Aguero apadrinhou também a formação de um grupo de estudo bíblico que se deve reunir este mês pela terceira vez. «Há muito interesse em conhecer a Palavra de Deus. Para além destes encontros com os leitores, na paróquia do Carmo há também um grupo de estudo bíblico. Já tivemos dois encontros e este mês vamos ter o terceiro. As pessoas que fazem parte deste grupo estão muito interessadas e eu, pessoalmente, acho que temos de facultar a oportunidade para que as pessoas conheçam a Palavra de Deus. Eu sou biblista e, para mim, a Palavra de Deus é muito importante», disse, concluindo: «Estudo muito a Bíblia e gosto muito. Por isso, quando há pessoas que estão interessadas na Palavra de Deus, eu também tenho muito interesse em partilhar, em ajudar as pessoas a meditar, a penetrar e a sentir a Palavra de Deus».
Marco Carvalho