Testemunhos de fé.
A propósito do falecimento de D. Arquimínio Rodrigues da Costa, O CLARIM partilha dois episódios do prelado açoriano com recurso às vetustas edições que mantém em arquivo: a sagração como bispo de Macau, na qual aparecem menções a Ho Yin, e a reprodução parcial de uma mensagem pascal em que fala sobre a ressurreição.
“A Sé Catedral vestiu as suas melhores galas para receber o seu novo Antístite, e os Revmos. Prelados que vieram presidir à cerimónia litúrgica, simples na forma, mas eloquente e brilhante no seu significado. Dísticos em português e chinês engalanavam o frontispício do templo e saudavam o novo Prelado com o dizer evangélico: «BENDITO O QUE VEM EM NOME DO SENHOR»”, menciona a primeira página da edição d’O CLARIM, publicada no Domingo, 28 de Março de 1976.
“Nas primeiras bancadas, destacava-se a presença de Sua Exa. o Governador, Coronel Garcia Leandro, de sua Exma. Esposa, Sra. Dona Maria da Graça Garcia Leandro, de Madre Maria Clemência da Costa, irmã de D. Arquimínio”, comparecendo também nesta cerimónia clérigos estrangeiros e demais personalidades.
“Às 17.25 horas, chegava à Catedral D. Arquimínio Rodrigues da Costa, na companhia do Bispo Sagrante, D. João Baptista Wu, de Hong Kong, e do Bispos consagrantes (…)”, lê-se na mesma edição.
“A igreja regurgitava de fiéis. Muitos mal puderam acompanhar o desenrolar das cerimónias, dando nós, então, toda a razão a quem tinha sugerido o Estádio da Pelota Basca para local da sagração”, refere O CLARIM, acrescentando que D. Aquimínio partira dos Açores em 1938, para frequentar o Seminário de São José, sendo o terceiro bispo de Macau natural da ilha do Pico, após D. João Paulino de Azevedo e Castro e o então cardeal D. José da Costa Nunes.
“Nas primeiras palavras dirigidas ao povo por D. Arquimínio como bispo de Macau”, conforme a mesma edição, diz o novel prelado a dada altura: “Um dia, ser-me-ão pedidas contas do modo como exerci as minhas funções pastorais. Conforta-me, porém, o pensamento de não estar só, mas sim, acompanhado duma multidão de amigos e irmãos dispostos a prestar-me todo o seu apoio e colaboração”.
Ho Yin
A edição de quinta-feira, 29 de Abril de 1976, frisa: “o Sr. E a Sra. Ho Yin homenagearam, na passada segunda-feira, o Senhor Bispo de Macau, D. Arquimínio Rodrigues da Costa, e sua irmã (…)”, estando também presentes “o Sr. Roque Chói, secretário do Sr. Ho Yin, e os Revdos. Vigário-geral, Pe. Domingos Lam, Chantre António André Ngan, Pe. Ramiro dos Anjos Marta, Pe. Luís Lei Xavier e o director deste bissemanário [padre José Barcelos Mendes]”.
“Como todos sabem, Ho Yin vem desempenhando, desde longa data, um papel preponderante na sociedade luso-chinesa local. Por ela se tem sacrificado, inclusivamente nas longas sessões e debates do Conselho Legislativo, onde vem sendo o representante da Comunidade Chinesa junto da Administração Portuguesa”.
“Ho Yin, consciente da presença da igreja Católica em Macau, com tão vasta rede de escolas e de instituições de assistência social, não quis ignorar, desde a primeira hora, a elevação à dignidade episcopal de D. Arquimínio Rodrigues da Costa”, mas “afazeres profissionais (…) inibiram-no de participar no banquete realizado no Hotel Lisboa no dia 25 de Março, para o qual fora convidado pela Comissão Organizadora dos Festejos”.
“Honrando a cabeça da Diocese, Ho Yin honrou todo o corpo e demonstrou mais uma vez, inequivocamente, aquele espírito de tolerância e respeito mútuos que vem caracterizando esta sociedade de Macau, em que há diferenças não só étnicas mas ainda de ideologias e de ideias. Maravilhoso exemplo de coexistência pacífica, a comunidade chinesa, que é um «mare magnum» [mar grande, em Latim] relativamente à comunidade portuguesa, teve condigna expressão no gesto do Sr. Ho Yin (…)”, assinala O CLARIM.
Ressurreição
A edição de Domingo, dia 17 de Abril de 1977, reproduz a mensagem pascal de D. Arquimínio efectuada aos microfones da E.R.M. no dia da Páscoa. As palavras realçam a têmpera do então bispo de Macau.
“É evidente que a nossa trasladação do poder das trevas para a luz do reino de Deus, iniciada no baptismo, só atingirá a sua plenitude na ressurreição final. Enquanto dura a vida presente, a nossa libertação das forças do mal nunca é completa, como não é perfeito o reino de Deus em nós. Podemos até, pelo pecado, voltar ao estado de degradação donde Cristo nos libertou, ao associar-nos ao Seu mistério pascal”, sustentava.
Assim continuava: “chegará, porém, o momento da nossa total e definitiva libertação, quando Cristo transformar o nosso corpo corruptível à imagem do seu corpo glorioso”.
Nesse sentido, “basta que, pela Fé e pelo amor, nos mantenhamos vitalmente unidos a este corpo. Se assim vivermos e assim morrermos, a nossa ressurreição é tão certa como se fosse já um facto consumado. Tão certa como a ressurreição de Jesus. É esta a nossa Fé. Esta a nossa esperança”.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
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