Devoção para o mundo inteiro.
Mais do que nunca, a devoção a Nossa Senhora de Fátima deixou de ser exclusiva dos portugueses, tendo atravessado as fronteiras para o resto do mundo. Quem o diz é o padre José Carlos Nunes, director da revista Família Cristã. A ideia é secundada pelo padre José Rafael Espírito Santo. Para o vigário geral do Opus Dei em Portugal, «Fátima é um factor de congregação dos povos».
Desde a eleição de Pedro Hispano (Papa João XXI) para a cadeira de São Pedro, em 1276, que a Igreja Católica em Portugal não vivia um momento tão alto como as comemorações do Centenário das Aparições de Fátima, em que foram canonizados os pastorinhos Francisco e Jacinta Marto. Claro está que esta ideia peca por falta de dados que a comprovem, mas no coração dos fiéis portugueses não andará longe da verdade.
«Foi o ponto alto da vida da Igreja Católica em Portugal», disse a’O CLARIM o padre José Carlos Nunes, director da revista Família Cristã e comentador da RTP para os assuntos religiosos. «As cerimónias marcaram toda a gente – católicos e não católicos – pela canonização dos pastorinhos. Duas crianças foram elevadas ao altar pelo seu testemunho de vida. É algo extraordinário que nos orgulha», referiu.
Embora a canonização tenha feito esquecer por momentos o motivo principal da deslocação do Papa a Portugal – o Centenário das Aparições de Fátima – o padre José Carlos acentuou a importância da efeméride: «Fátima deixou de ser uma devoção dos portugueses para passar a ser uma devoção do mundo inteiro. A prová-lo, estiveram mais de cinquenta países representados no Santuário».
E como uma peregrinação não se faz sem um líder, o Papa Francisco assumiu essa tarefa, tendo reunido centenas de milhares de pessoas na Cova da Iria. «O Papa disse que tinha de vir a Fátima; pela sua devoção mariana, pela importância de Maria para a Igreja Católica e pela actualidade da mensagem de Fátima».
Desafiado a eleger as três ideias mais relevantes proferidas pelo Papa, o padre José Carlos começou por salientar «a insistência do Papa sobre a Luz na noite do dia 12», no período reservado à bênção das velas e da recitação do Santo Rosário. «O Papa falou da luz da mensagem de Fátima. É a luz de Cristo em oposição às trevas em que vivemos; a luz que nos conforta, ilumina e guia».
Para o sacerdote, a segunda ideia recai no conceito de “mãe”, repetido pelo Sumo Pontífice em mais de uma ocasião: «Temos uma mãe, disse o Papa na homilia do dia 13, lembrando o Evangelho “Mãe, este é o teu filho. Filho, esta é a tua mãe” (Jo., 19, 26-27). É Maria como mãe de Deus, a nossa mãe».
Em terceiro lugar, o director da Família Cristã elegeu as palavras do Papa sobre o culto mariano: «Só é cristão quem é mariano. Maria é modelo da Igreja para a evangelização. Devemos olhar para Maria como legado da evangelização».
Sobre o acolhimento dado ao Papa Francisco por parte dos fiéis, lembrou que «as pessoas tinham uma grande expectativa. Não nos podemos esquecer que o Papa Francisco é muito mediático. Os Órgãos de Comunicação Social têm tido um papel fundamental na projecção da sua imagem. Direi que foi a confirmação da coerência, da ternura e do estilo de vida e forma de estar do Papa».
A terminar, o padre José Carlos destacou a emoção revelada pelo Santo Padre «no anúncio da canonização e no adeus a Fátima. Foi o primeiro Papa a acenar o lenço branco a Nossa Senhora».
Conversão, Paz e Esperança
O padre José Rafael Espírito Santo, vigário regional do Opus Dei em Portugal, considera que o Papa deixou uma mensagem de «conversão, testemunho, paz e esperança», inspirado naquele que é o símbolo oficial do Centenário das Aparições de Fátima: o Imaculado Coração de Maria.
Questionado pel’O CLARIM sobre o papel de Fátima na aproximação dos fiéis à Igreja, respondeu: «Fátima é um factor de congregação dos povos. Nossa Senhora deixou a mensagem que Portugal não havia de perder a fé. Os católicos têm que fazer um esforço, nomeadamente na aprovação de leis que defendam a vida, a família e os costumes. Fátima ajuda a que não se perca o rumo».
Estando o Opus Dei muito vocacionado para a santificação do homem através das obras do dia-a-dia, quisemos saber de que forma o padre José Rafael viu o trabalho desenvolvidos pelos voluntários que se associaram às comemorações. «Em cada ano, em cada peregrinação – e nesta em particular, pela dimensão que teve – é tudo sustentado por pessoas que fazem um trabalho não visível», disse, acrescentando: «O importante é que este voluntariado seja feito sem se estar à espera de reconhecimento. Fazemos coisas para Deus. O mesmo deve acontecer no nosso dia-a-dia, no trabalho, na família e nos períodos de descanso».
O sacerdote acredita que a presença do Papa na Cova da Iria «abriu com chave de ouro os próximos meses de cerimónias em torno do Centenário das Aparições de Fátima».
O padre José Rafael Espírito Santo concelebrou a Santa Missa na qual foram canonizados os beatos Francisco e Jacinta Marto.
José Miguel Encarnação
em Fátima (Portugal)