A Caminho do Jubileu da Vida Consagrada
Há uns anos, atrevi-me a escrever um livro sobre caminhos de vida consagrada por ser… o Ano da Vida Consagrada. Esta breve reflexão é motivada por termos vivido no passado Domingo, 2 de Fevereiro, o Dia do Consagrado, e ainda para mais em ano de Jubileu.
Vou referir um livro único que também fala sobre consagração, o Dicionário de Português. Entre vários significados, diz que CONSAGRAR é dedicar a Deus e que CONSAGRADO é aquele que se dedica ou foi dedicado ao serviço de Deus. Já não é pouco este sentido de vida. Ocorre interrogar-se se é mais significativa a forma reflexa ou a forma passiva do verbo: consagrar-se, o próprio, ou ser consagrado. Parece que as duas valem nas várias modalidades de consagração na Igreja. Digo na Igreja, mas não se exclui que qualquer pessoa, mesmo fora dela, se consagre ao serviço de Deus, e acrescento que o serviço de Deus, como o amor, não pode excluir o serviço aos outros.
Outra reflexão muito oportuna é a procura dos modelos de consagrados. Ao falar de modelos já deparamos com um mundo deles, embora alguns jornalistas e comunicadores se inclinem tantas vezes, talvez por motivos de atrair leitores, a evidenciar mais anti-modelos de consagração que de bem-fazer aos seus semelhantes. Uma questão me vem à mente sobre modelos e anti-modelos: quais serão os mais numerosos ou, na linguagem de democracia, quais são maioria para ditar as normas sociais, as quais, apesar do que se alardeia, raramente são maiorias para impor actos que contrariam as leis da vida humana. Na terminologia cristã, todos os Sacramentos são modos de consagração e os que recebem alguns deles não são minorias. Pena é que alguns não tomem consciência disso, nem pareçam viver essas modalidades de vida consagrada a Deus para o servir e servir os seus irmãos.
De toda a maneira, em vez de nos determos no número pequeno ou grande dos que caminham ao serviço de Deus e do próximo e sejam consagrados assumidos, olhemos neste ano do Jubileu da Vida Consagrada, que irá realizar-se nos dias 8 e 9 de Outubro, na Santa Sé, para o próprio Jesus. Estará certo afirmar que se aplica a Jesus Cristo este título como autor das palavras que deram origem ao livro referido acima? Se o consagrado é aquele que se dedica ao serviço de Deus e, por outras palavras, aquele que faz a vontade de Deus, não há dúvida que Jesus fez-se carne para fazer a vontade do Pai. O Evangelho, o livro sobre Ele, está cheio de afirmações que o atestam.
Jesus era o Consagrado e o modelo dos consagrados de todos os tempos até ao fim do tempo. Modelo e guia de consagrados por ser a Palavra de Deus, como celebrámos no último Domingo. Uma outra confirmação do que vimos dizendo foi lida precisamente nesse dia. Resumo livremente: o Espírito está sobre Mim e consagrou-me para ir em serviço a socorrer os pobres, os doentes, os prisioneiros e a proclamar um ano de graça. Um Jubileu. O livro do Evangelho que todos os baptizados, muito e pouco letrados, lerão como leitura diária e mais que o telemóvel, confirma dezenas de vezes que Jesus vive consagrado ao Pai: acolhe doentes, perdoa os pecadores, ora a sós, convida a deixar tudo e a segui-Lo e pede que não se envergonhem de O anunciar, nem de comunicar o bem que os consagrados fazem.
Pe. Aires Gameiro
Membro da Ordem Hospitaleira de São João de Deus