Desporto motorizado

Notas (muito) soltas

O desporto motorizado ainda se encontra letárgico e fechado atrás das portas das grandes equipas, estando a preparar a época de 2016, desde a Fórmula 1, passando pelas diversas categorias de motos, até aos novos modelos de karts.

Algumas das notas que nos foram chegando desde o fim da temporada passada não devem ser descuradas e merecem um pouco mais de atenção.

Comecemos com as afirmações de Sergio Marchionne, o director da Ferrari. Para o “principal” da equipa de Maranello, Bernie Ecclestone, aos 85 anos de idade, já devia estar a preparar a sua retirada de cena como “Mister Fórmula 1”. Mesmo com a imagem algo afectada pelos escândalos por alegada corrupção, Ecclestone continua de pedra e cal ao comando do Grande Circo. No final do ano passado ouviu-se que três entidades – nunca identificadas – estariam interessadas em adquirir os direitos da Fórmula 1, continuando a manter o mega milionário inglês à frente da organização que gere a disciplina máxima do desporto motorizado. Porém, muitos pensam que as palavras de Marchionne têm razão de ser. De facto, aos 85 anos, não há muita margem para um longo futuro ao comando de seja o que for. Por isso, o número 1 da Ferrari aconselha Bernie a fazer planos para entregar a chefia a outra pessoa – ou outras pessoas – que tragam sangue novo, novas ideias, visões e valores diferentes, a um desporto envolvido em polémica, descrédito e confusão.

Ainda nas quatro rodas, registe-se a surpreendente decisão da Nissan de, pura e simplesmente, abandonar o Campeonato do Mundo de Resistência, sem ter dado qualquer explicação. Fê-lo por e-mail e telefone. Foi deste modo que os membros da equipa japonesa, baseada em Indianápolis, nos Estados Unidos, ficaram a saber que se encontravam livres no mercado de trabalho, uma vez que já não eram funcionários da Nissan. Sem entrarmos no mérito da decisão, foi insólito, no mínimo!

Jean Todt, o ex-navegador de ralis, que chegou a presidente da FIA (Federação Internacional do Automóvel) defende que os futuros carros de Fórmula 1 tenham o lugar do piloto coberto, ou fechado, para impedir acidentes como os que vitimaram o filho de Jackie Stewart e o jovem francês Jules Bianchi. Para o novo design, a Fórmula 1 poderá ter de recorrer – uma vez mais – à tecnologia aeronáutica, inspirando-se nas capotas blindadas dos “caças”. E quem diz a Fórmula 1 diz também as outras fórmulas. Não será tarefa fácil, até porque um carro não é um avião e os problemas que se colocam são muito diferentes.

Pat Symonds, director técnico da Williams Mercedes, afirmou que a Mercedes tem falhas na sua “armadura” que podem ser exploradas em benefício da equipa de Frank Williams. Sem desvendar as eventuais falhas, referiu que está razoavelmente optimista para este ano, porque a sua equipa fez grandes melhorias num carro já de si bastante competitivo. Symonds lembrou as três últimas temporadas em que a Williams regressou às boas exibições, sublinhando que as prestações previstas só serão (ou não) confirmadas quando os carros entrarem em pista dentro de três semanas.

De regresso ao “Mister Fórmula 1”, Bernie Ecclestone adiantou a possibilidade de uma mulher vir a integrar a grelha de largada de uma corrida de Fórmula 1. A Imprensa atacou as palavras de Ecclestone, rotulando-as de sexistas. Se virmos bem, até terá alguma razão. Desde o início da Fórmula 1, em 1950, poucas foram as mulheres que inscreveram o seu nome não só na Fórmula 1 como noutras disciplinas do desporto motorizado, incluindo a motonáutica e a aviação. Não estou a dar razão a Ecclestone. Houve, e talvez haja, mulheres capazes de competir com os homens, mas – e há sempre um mas – um piloto para poder competir no desporto motorizado, ao mais alto nível, tem que garantir patrocinadores com muito dinheiro. São poucos os directores das grandes marcas, desde os cosméticos aos automóveis, que arriscam apostar numa piloto, mesmo que tenha dado provas de ser altamente capaz e competitiva.

A terminar, damos um pulinho às duas rodas. O Campeonato do Mundo de Moto GP, na classe Moto1, acabou em discórdia e acusações dirigidas a oficiais e dirigentes da empresa que organiza o referido campeonato, a Norma, de Espanha. Na penúltima prova de 2015, Marc Marquez, espanhol, foi alegadamente derrubado pelo campeoníssimo Valentino Rossi. Muitos comentadores afirmaram o que se viu claramente nas imagens televisivas: Marquez apoiou-se em Rossi, na tentativa desesperada de não cair, pois já estava, aparentemente, desequilibrado. Rossi limitou-se a afastar-se de Marquez para não ser arrastado na queda. Estava em causa a conquista de mais um título mundial. Acontece que os comissários entenderam que Rossi foi culpado pela queda de Marquez e logo começou a confusão. Rossi sofreu várias penalizações, acabando relegado para o último lugar do “grid” na prova seguinte. A partir deste ponto estava encontrado o campeão do mundo de Moto1. Rossi necessitava de acabar à frente de um outro piloto espanhol, o seu companheiro de equipa, Jorge Lorenzo. Como se previa, foi impossível a “Il Dottore” terminar à frente de Lorenzo, que venceu a corrida… e o campeonato.

Neste caso, a combinação de elementos espanhóis levantou suspeitas, tendo dois dos maiores pilotos de motos do passado acusado a Norma de prejudicar Rossi, um piloto italiano, em benefício – nítido – de Jorge Lorenzo.

Rossi veio mais tarde deitar “água na fervura” ao defender o companheiro de equipa. Em declarações à Imprensa, elogiou Lorenzo, dizendo ser um óptimo piloto, pelo que não precisaria de manobras de bastidores para se sagrar campeão.

A verdade é que as suspeitas podem ter quebrado a credibilidade da Norma, que terá que se precaver contra a repetição de casos deste tipo ou apenas semelhantes.

Manuel dos Santos

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