Empresas reféns da subsídio-dependência

DEPOIS DA CRISE DE SAÚDE PÚBLICA VIRÁ A CRISE ECONÓMICA

Empresas reféns da subsídio-dependência

Para se ter uma ideia do que estamos a falar, num restaurante de duzentos metros quadrados, que anteriormente conseguia receber, sem grandes problemas, entre quarenta a cinquenta clientes sentados, se agora conseguir sentar oito clientes já é muito bom. As mesas têm de estar espaçadas dois metros entre si, pelo que num espaço de seis metros quadrados apenas podem ser colocadas duas mesas, e em cada mesa apenas uma pessoa. Só serão autorizadas várias pessoas por mesa, caso vivam na mesma habitação. Isto, se o conseguirem comprovar, claro está!

Para fazer face a estas restrições, o Governo não tem sido tímido nas medidas de apoio, e na semana passada anunciou mais uma linha de financiamento, subsidiada em oitenta por cento, a fundo perdido (verbas provenientes do fundo de quinhentos mil milhões de euros aprovado por Bruxelas), para pagar as despesas relativas ao cumprimento das novas normas. Estão também em vigor outras ajudas, havendo já um número sem fim de consultoras a anunciar na Internet os seus serviços de apoio às empresas. É um negócio em que todos saem a ganhar, mas que muitos parecem esquecer que mais cedo ou mais tarde tudo terá de ser pago. Os tais oitenta por cento a fundo perdido, são “perdidos”… por agora.

Pessoalmente, olho para tudo isto com muita desconfiança, pois não auguro grande futuro para a economia portuguesa. Não falo do futuro imediato, mas sim do futuro dentro de uma década ou mais. Como já referi, um dia todos os empréstimos terão de ser liquidados, e a factura vai ser muito pesada.

Os tratamentos paliativos do momento vão surtindo efeito, a todos deixando mais ou menos satisfeitos, mas a longo curso não acredito ser esta a solução. A atribuição de subsídios nunca foi a melhor forma de preparar as empresas para a competitividade. Tenho para mim que as empresas que não conseguem enfrentar as crises devem, pela ordem natural das coisas, desaparecer, e dar lugar a novas empresas que sejam capazes de se adaptar e de se regenerar face aos novos desafios. Viverem dos apoios do Governo, com o único propósito de se manterem activas, não é a melhor maneira de lidar com as dificuldades. Infelizmente, todo o tecido empresarial em Portugal olha para a subsídio-dependência como o modo normal de combater os problemas. Para se ter uma noção do “choro” e do corrido de queixas dos empresários basta ler a imprensa diária ou ver os serviços noticiosos das televisões portuguesas.

Mas se há quem viva à custa das ajudas do Governo, outros há que realmente delas necessitam para florescer. É pois deste lado da barricada que se encontram todas as empresas de consultoria especializadas em conseguir apoios para os seus clientes, retendo uma percentagem do montante afiambrado, para além dos honorários, pagos à cabeça. Esta é uma prática que existe desde que Portugal entrou para a então Comunidade Económica Europeia (CEE). De lá para cá, foram muitos os escritórios de advogados, de contabilistas e de outras profissões, que se especializaram nesta matéria. Assim, nasceu mais um lóbi, o que vem resultando no desvio de muitos milhões, sem que se saiba onde param.

Como já dissemos em crónicas anteriores, toda a nossa actividade de Verão foi pelo “cano abaixo”. Todos os eventos que estavam agendados até finais de Setembro foram cancelados, o que nos obrigou a repensar a agenda para os próximos meses.

Não tendo nós qualquer evento planeado, tivemos de colocar de parte outros projectos e de buscar soluções que não passassem pelos apoios “atirados” pelo Governo. A primeira decisão foi a de trabalharmos diariamente, no mesmo local, uma vez que trabalhando nós em regime de “take-away” não fomos obrigados a suspender o negócio e até mesmo a adaptação às novas regras poucas alterações nos trouxe. Até ao momento, apenas a presença do desinfectante das mãos destoa de todos os procedimentos de higiene que sempre adoptámos. Trabalhar com géneros alimentícios num espaço de dois metros quadrados, onde duas pessoas não param de se movimentar, obriga sempre a grandes cuidados, o que sempre foi a nossa forma de trabalhar.

Entretanto, com o gradual desconfinamento anunciado pelo Governo, lembramo-nos de criar num terreno da nossa família um pequeno parque com carros de comida ambulante, em regime de “take-away”. Estamos há mais de uma semana à espera do parecer da Câmara Municipal. Em princípio, teríamos somente que comunicar à edilidade, dado que não se trata de um espaço público, mas preferimos não avançar sem que haja uma reacção por parte do Município. Se este projecto se vier a concretizar, nos meses de Verão que se avizinham iremos estar na Estrada Nacional 109, na Vila de Mira, apetrechados com cachorros, hambúrgueres “premium”, tripas de Aveiro, comida tailandesa e sumos naturais. O local é aprazível e oferece um amplo espaço para estacionamento. Os veraneantes poderão escolher o que querem levar para a praia, ou para casa, providos de toda a segurança alimentar, qualidade e higiene. É algo nunca antes tentado em Portugal, mas que já é regra em alguns países europeus e nos Estados Unidos.

Apesar de estarmos totalmente empenhados no novo projecto, não descuramos o dia-a-dia e continuamos a servir almoços em regime “take-away” e a entregar jantares ao domicílio. Felizmente não tem faltado trabalho.

Também para minimizar o impacto negativo do cancelamento dos eventos de Verão iremos, entre Julho e Setembro, uma semana por mês a Lisboa para que os nossos clientes da capital possam saborear as especialidades da família Santos Gomes. Os dias em Lisboa serão passados no AlfraPark, em Alfragide, sendo devidamente anunciados nas nossas redes sociais.

João Santos Gomes

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