CISMAS, REFORMAS E DIVISÕES NA IGREJA – CLIII

CISMAS, REFORMAS E DIVISÕES NA IGREJA – CLIII

Os Amish – VIII

Cantam em Alemão, sem órgão, sem acompanhamento musical, em uníssono, sem harmonia musical. Mas impera a harmonia. No culto, como na vida amish, é a uma das palavras-chave, a par de tradição. Os seus hinos são longos, mas nem sempre são cantados, não há sequer notação musical, apenas a repetição da memória desde há séculos, transmitidas de geração em geração, a maioria com origem em canções folclóricas sagradas ou seculares e cantos religiosos da época da fundação. Como certos homens da congregação têm talento musical natural, aprendem as melodias ao longo dos anos e depois são eles a liderar os cânticos de culto: os “Vorsingers”.

Já vimos que os jovens, depois do “rumspringa”, aderem ou não à igreja Amish, através do baptismo, ficando submetidos ao “ordnung” para o resto da vida. Depois da sua confissão de fé, concordam com a obediência à ordem amish, onde o comportamento tem que ser de acordo com o que se espera e prevê nos regulamentos não escritos e transmitidos pela tradição. Quem quebrar esse compromisso ou depois se recuse a arrepender-se e a confessar os seus pecados, será então excomungado, ou, como dizem os amish, “evitado”. Há sempre uma tentativa de regeneração em muitas comunidades, de acolher de novo o “filho pródigo”, “rebelde”, de o fazer cooperar com a igreja, mas se continuar a desobediência, então não há outra opção que não seja a de banir, para manter a comunidade pura. Os “evitados” ficam proibidos de qualquer forma de interacção social, afastados dos amigos ou dos parceiros de trabalho. Não é porém comum este afastamento, mas não deixa a sua ameaça de servir como forma de controlo e preservação da pureza espiritual entre os amish.

OS “MINISTROS” AMISH

Os ministros são uma espécie de auxiliares, parecidos com os “ministros da comunhão” católicos. Cada distrito tem geralmente dois ou três ministros, bem como um diácono e um bispo. Este pode superintender dois distritos. Mas para se ser ministro ou daí passar a diácono ou até bispo, não é necessário frequentar uma faculdade de Teologia ou um Seminário para ser um ministro numa igreja amish. Não existe o conceito de vocação ou discernimento, ninguém é “trazido” por Deus ou sente o Seu chamamento para vir a servir como pregador. Os ministros são assim escolhidos por sorteio entre os homens da congregação de cada distrito amish. Os diáconos são também escolhidos por sorteio e os bispos escolhidos pela mesma forma entre os ministros. Desde que sejam reconhecidos pela comunidade como aptos para os cargos.

Mas ser ministro não é encarado como uma honra, um privilégio, mas antes uma responsabilidade muito séria e pesada. Os ministros costumam servir de forma vitalícia, não recebendo salário. Na maioria das comunidades amish, já se viu que um jovem só pode ser baptizado na fé depois da “provação” e discernimento do “rumspringa”, mas ao receber o baptismo terá que estar consciente e disposto de que está apto para se tornar ministro, caso seja um dia escolhido. Por norma, a escolha recairá sobre um homem casado. Quando um ministro morre, terá que ser substituído. E quando um distrito se torna muito grande e deve-se dividir em novos distritos, novos ministros serão escolhidos, diáconos e até bispos.

A escolha de um novo ministro é considerado um dos actos mais emocionantes e importantes na vida de um membro dos amish. O anúncio de que um novo ministro será escolhido é feito geralmente pelo menos duas semanas antes do serviço de comunhão, para que todos tenham tempo para orar e meditar, para se prepararem espiritualmente. Não deve haver discussões ou especulações entre os membros das comunidades sobre quem poderá ser “nomeado”, bem como ninguém deve mostrar ter desejo de se tornar ministro, o que seria “hochmut”. A votação é concluída pela congregação após o serviço de comunhão; aqueles que receberem três ou mais votos são nomeados candidatos. Cada candidato escolhe depois um hinário (livro de hinos). Aquele que encontrar um pedaço de papel com um verso escrito dentro do hinário escolhido é considerado como escolhido por Deus na congregação para se tornar ministro.

Outro aspecto a considerar é o da morte. Como todos os grupos religiosos, os amish têm tradições que observam após a morte de um membro da família. E, como em muitas das suas cerimónias religiosas, os amish são lembrados, no ritual funerário, de que o seu foco não deve estar centrado nesta vida e neste mundo, mas antes na eternidade, no que está para vir. Nos seus rituais fúnebres, o corpo do amish falecido é levado a uma agência funerária local que esteja familiarizada com os costumes funerários dos amish. Os membros da família podem lavar o corpo antes da chegada do agente funerário. Este vai então embalsamar o corpo, revestindo de roupas longas, do falecido, antes de o colocar no caixão. Os caixões têm seis lados, com duas peças nas dobradiças que se dobram para revelar o corpo do peito para cima. Tudo é feito e revestido com material fabricado e fornecido pelos amish. O caixão é então devolvido pela funerária à família amish. O corpo geralmente é vestido com roupas brancas por membros da família, do mesmo sexo do falecido. Para os homens, vestem-se calças brancas, colete e camisa; para as mulheres um vestido branco, capa e avental. Em muitos casos, a capa branca e o avental são os mesmos usados no dia do casamento de uma mulher.

Enquanto se cumprem estes preparativos, divulgam-se notícias sobre a morte junto dos seus parentes e restantes membros do distrito da igreja, aparecendo mesmo um obituário no jornal local. Antes do dia do funeral e do enterro, geralmente três dias após a morte, amigos e vizinhos vêm à casa para velar o corpo. É um momento sombrio, com homens e mulheres vestidos de preto, sentados em silêncio num ou dois quartos. Os visitantes cumprimentam os membros da família, que perguntam se eles gostariam de ver o corpo. Os familiares conduzem-nos ao caixão e o lençol ou pano branco é puxado para trás para revelar o rosto do falecido. De recordar que o corpo não é nunca “maquilhado” ou alterado pelo agente funerário no embalsamento. Depois, realiza-se um serviço religioso em casa, com sermões por parte dos ministros, mas sem elogios do falecido; em vez disso, reflectem principalmente sobre a história da Criação. Depois do serviço religioso, ordenam-se as caroças para o cortejo fúnebre, devidamente numeradas a giz, com uma delas a servir de “carro” fúnebre, uma carruagem fechada em forma de caixa, puxada por um cavalo. A longa fila de carruagens em direcção ao cemitério é uma visão solene e impressionante, de silêncio e interioridade. No cemitério, lê-se um hino e ora-se ao Senhor em silêncio. O silêncio reina, a ordem impera, a vida continua….

Vítor Teixeira

Universidade Católica Portuguesa

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