Francisco pede sacerdotes solidários com as «lágrimas» da Humanidade
O Papa pediu que os sacerdotes sejam misericordiosos e solidários com as «lágrimas» da Humanidade, durante a celebração da Missa Crismal, a que presidiu na Basílica de São Pedro.
«Queridos irmãos, a nós – seus Pastores –, o Senhor não pede juízos de desprezo contra quem não crê, mas amor e lágrimas por quem vive afastado. Quando as situações difíceis que vemos e vivemos, a falta de fé, os sofrimentos que tocamos, entram em contacto com um coração compungido, decididamente não suscitam a polémica, mas a perseverança na misericórdia», referiu, na homilia da celebração.
«O Senhor procura, especialmente entre as pessoas que lhe estão consagradas, quem chore os pecados da Igreja e do mundo, fazendo-se instrumento de intercessão por todos», insistiu.
Francisco, que leu a sua própria intervenção, de vários minutos, alertou para atitudes de «dureza e recriminação, egoísmo e ambições, de rigidez e insatisfações» na vida sacerdotal.
«Irmãos, pensemos em nós próprios e interroguemo-nos quão presente estejam a compunção e as lágrimas no nosso exame de consciência e na nossa oração. Perguntemo-nos se, com o passar dos anos, aumentam as lágrimas», apelou.
No dia em que a Igreja Católica iniciou o Tríduo Pascal, evocando a instituição da Eucaristia e do Sacerdócio, Francisco disse que «a cura do pastor acontece quando, feridos e arrependidos, se deixam perdoar por Jesus».
«Hoje, numa sociedade secular, corremos o risco de ser muito activos e, ao mesmo tempo, sentir-nos impotentes, com o resultado de perdermos o entusiasmo e sermos tentados a deixar de remar, fechar-nos em lamentos», frisou.
O Papa fez referência ao facto de se tratar da Quinta-feira Santa do Ano da Oração, de preparação do Jubileu de 2025, para explicar a opção de centrar a sua homilia na «compunção» interior.
«Não é um sentimento de culpa que te lança por terra, nem uma série de escrúpulos que paralisa, mas uma picada benéfica que queima intimamente e cura, pois o coração, quando se dá conta do próprio mal e se reconhece pecador, abre-se, acolhe a acção do Espírito Santo», precisou.
«Quem retira a máscara e se deixa olhar por Deus no coração, recebe o dom destas lágrimas, as águas mais santas depois das do Baptismo», acrescentou.
Francisco destacou que este choro é diferente de «sentir pena» de si mesmo, mas um sinal de arrependimento pelo pecado, pedindo atenção para não cair na «hipocrisia clerical».
O Papa deixou aos cerca de dois mil membros do clero que participaram nesta Eucaristia a recomendação de olhar para a vida para além da «perspectiva de eficiência e imediatismo», abrindo tempo e espaço para uma «oração que não seja obrigatória e funcional, mas livre, calma e prolongada».
«Obrigado, queridos sacerdotes, obrigado, pelo vosso coração aberto e dócil; obrigado pelas vossas fadigas e o vosso pranto; obrigado porque levais a maravilha da misericórdia de Deus – perdoai sempre, sede misericordiosos – aos irmãos e irmãs do nosso tempo. Que o Senhor vos console, confirme e recompense», concluiu.
In ECCLESIA