No decurso da semana Portugal foi visado por toda uma série de notícias que, cada uma e só por si, pela sua gravidade e importância, mereciam ser o único tema desta minha breve crónica.
No entanto, e em consequência do relevo que devem merecer os comentários atempados, falarei um pouco sobre algumas delas destacando, desde já, aquela que está a gerar um certo pânico entre a população.
Falo naturalmente do surto de “legionnela pneumophila” que, à hora em que escrevo estas linhas, já tinha afectado cerca de 233 pessoas e provocado cinco mortos.
Ainda não completamente descansados sobre a ameaça do vírus ébola, temos agora pela frente uma epidemia provocada por uma bactéria bem conhecida por todos e com a qual convivemos todos os dias nas águas domésticas, mas que tratadas com cloro ou um outro desinfectante conseguimos anular a sua perigosidade. A inquietação provocada pelo aumento permanente de doentes afectados pela inalação das gotículas de água infectada, nomeadamente aqueles que sofrem de problemas no seu aparelho respiratório, conduziu as nossas autoridades sanitárias e responsáveis pela saúde pública a uma grande operação de pesquisa e prevenção sanitária, tentando encontrar a origem do problema, cuja concentração está (por agora) situada nas zonas de Vila Franca de Xira e seus arredores e aconselhando a população sobre os cuidados a ter.
Mudando de assunto, mas não menos enervante, foi a atitude do Governo de Timor-Leste, liderado por Xanana Gusmão, de expulsar do seu território e no prazo de 48 horas vários cooperantes portugueses, entre os quais, cinco juízes, um procurador e um oficial da PSP, que trabalhavam em Timor na área da Justiça e, concretamente, na investigação de vários ministros timorenses por suspeita de corrupção. As razões evocadas por Xanana foram a incompetência dos nossos magistrados e a defesa dos interesses de Timor…
Perante tal notícia, a estupefacção dos portugueses foi enorme e a revolta gerada por esta expulsão imediata dos nossos técnicos de justiça, sem aviso ou qualquer consideração prévia, como se se tratassem de terroristas, deixou-nos um forte sentimento de antipatia e repulsa para com um homem que beneficiou tanto da nossa amizade.
Não percebemos onde está a diversidade e independência dos poderes legislativo, judicial e executivo da sociedade timorense e muito menos como é que, estrangeiros como nós, estivessem a cooperar em funções com competências decisórias na área judicial. Mas isso foi um problema de quem o requereu, ou seja, o Governo de Timor.
A investigação sobre a alegada corrupção de alguns ministros de um país recente e, afortunadamente, produtor de petróleo, deveria constituir um reforço essencial para uma sólida construção desta jovem democracia. Mas se tal não é considerado importante, o que é que nós temos a ver com isso? Os timorenses que façam do seu país o que bem entenderem!
O que deveríamos fazer, face a este ofensivo episódio provocado por um país que tanta alegria nos deu com a sua independência e tanta confusão nos criou com as suas disputas internas, era cortar relações com ele ou, no mínimo, fazer regressar todos os nossos cooperantes. Mas o Governo português, na inesgotável “capacidade de encaixe” da sua política externa, ficou-se pelo “registo da ocorrência”, lamentando-a.
Da mesma forma se comportou o nosso Governo face às recentes declarações da “frau” Merkel que, como uma verdadeira soberana da Europa, disse que era preciso «persuadir países como Portugal e Espanha, que têm demasiados licenciados». O nosso Governo disse (para consumo interno) não concordar, mas duvido que tenha feito chegar a mensagem à chanceler.
É bem verdade que, em muitas áreas industriais, sentimos a falta de profissionais, tal como eram aqueles que saíam dos antigos cursos secundários, mas uma alemã declarar que temos muitos licenciados, quando representam apenas 17,6%, face a 25,3% da média europeia e 25,1% da Alemanha, senão é a gozar só pode estar a propor-nos que sejamos um país de maçons (não maçónicos) destinados a emigrar para a Alemanha e a trabalhar sobre as ordens dos seus licenciados.
Faltaria ainda falar, se o espaço disponível o permitisse, sobre a recente descoberta de um alegado “roubo” de centenas de milhões de euros, perpetrado por Ricardo Salgado, o antigo homem forte do Banco Espírito Santo (BES), perante a habitual “siesta”do Banco de Portugal.
Como esta “procissão ainda vai no adro” e o contribuinte português está cada vez menos disposto a “comer e a calar”, voltarei a ele mais tarde, porque eu não me calo!
Luis Barreira