São João Maria Vianney é este Domingo celebrado
A festividade litúrgica de São João Maria Vianney, conhecido como Cura d’Ars (“cura”, sinónimo de “pároco”), é celebrada este Domingo. Foi um grande confessor, com dons extraordinários como curar e ler as mentes e os corações. Recebia ataques físicos do demónio e viveu entregue à mortificação e à oração. À semelhança de um pouco por todo o mundo, também em Macau será lembrado nas celebrações eucarísticas deste Domingo, 4 de Agosto – o seu dia festivo. Na igreja da Sé Catedral, entre os inúmeros santos ali expostos, está a imagem de São João Maria Vianney, num altar lateral à nave central da catedral.
João Baptista Vianney nasceu no pequeno povoado de Dardilly (França), no dia 8 de Maio de 1786, no seio de uma família de camponeses, pobre em bens materiais mas rica na humanidade e fé. Foi baptizado, segundo o costume da época, no mesmo dia do seu nascimento. Em criança confiara à mãe: «Se eu fosse sacerdote, gostaria de conquistar muitas almas».
A infância e adolescência foram dedicadas ao trabalho no campo e à pastagem de animais, a tal ponto que, com dezassete anos de idade, ainda era analfabeto. No entanto, sabia de cor as orações ensinadas pela sua piedosa mãe, Maria Belusa, e alimentava-se da religiosidade que se respirava em família. Muitas vezes era encontrado num canto da casa, no jardim ou no estábulo, a rezar, de joelhos, as orações que lhe haviam ensinado: o Pai-Nosso, a Ave-Maria… Nutria na alma o desejo de se tornar sacerdote, objectivo que não lhe foi fácil alcançar.
João Vianney é um daqueles homens a quem se aplicam as palavras de São Paulo: «O que o mundo considera vil e desprezível é que Deus escolheu; escolheu os que nada são, para reduzir a nada aqueles que são alguma coisa…» (1 Coríntios 1:27-29).
AS DIFICULDADES NO SEMINÁRIO E A GRAÇA DA SANTIDADE
Tendo escapado ao serviço militar de Napoleão, pôde matricular-se no Seminário menor de Verrières e, mais tarde, no Seminário maior de Santo Irineu. Enquanto seminarista, João Vianney sentiu dificuldade em acompanhar os seus colegas, pela confusão mental que fazia diante de uma simples página de Filosofia ou de Teologia por falta de bases educativas. Os seus mestres, desanimados, deixaram até de interrogá-lo. «– É uma lástima», disse um deles ao vigário-geral, «porque é um modelo de piedade». «– Um modelo de piedade?», exclamou este, «então eu promovo-o e a graça de Deus fará o resto».
João Vianney tinha uma intuição invulgar para as coisas de Deus. Chegou à ordenação presbiteral, graças à ajuda de sacerdotes sábios como o padre M. Balley, que não se detiveram pelos seus limites humanos, intuindo o horizonte de santidade que se delineava naquele jovem verdadeiramente singular. Deste modo, no dia 13 de Agosto de 1815, foi ordenado sacerdote com 29 anos de idade. Depois de muitas incertezas, não poucos reveses e muitas lágrimas, pôde subir ao altar do Senhor e realizar o sonho da sua vida.
João Vianney, pela Ordenação, acrescentou “Maria” ao seu nome, dada a sua grande devoção à Virgem Santíssima.
DO VILAREJO DE ARS PARA O MUNDO
João Maria Vianney foi enviado para o pequeno vilarejo de Ars (França), como vigário-capelão, para assumir uma pequena capela, mas sem autorização para confessar, pois julgavam-no incapaz de guiar as consciências. Após um ano de aprendizagem em Ecully, sob a direcção do padre Balley – a quem se atribui o mérito de haver percebido no humilde jovem os ocultos carismas da santidade –, João Vianney tornou-se num dos mais considerados confessores da história da Igreja.
Ars, localizado sobre o planalto de Dombes, não possuía paróquia, apenas uma pequena capela. Tinha menos de trezentos habitantes, que viviam em casas com tectos de palha. O povo era totalmente avesso à religião, e nem se importara com a chegada do novo padre. Na pequena capela abandonada, João Vianney fazia a limpeza, preparava ele mesmo as suas simples refeições e orava incessantemente. Passava longas noites em adoração diante do Santíssimo Sacramento. Penitenciava-se e suplicava a Deus pela conversão daquelas pobres almas.
O povo começou então a admirar aquele dedicado sacerdote e João Vianney, aproveitando este interesse, iniciou as suas catequeses tendo visitado as famílias e exortando-os a abandonar os vícios pagãos: a bebedeira, os cabarés, o trabalho aos Domingos, as blasfémias… Fazia-o com incomensurável bondade e generosidade, cativando as pessoas de Ars, que aos poucos foram aproximando-se da Igreja e dos Sacramentos.
Dez anos após a sua chegada, Ars ficava completamente transformada, com as tabernas desertas e a igreja povoada. Com o passar do tempo, milhares de pessoas das redondezas acorriam a Ars, atraídas pela santidade do vigário do pequeno vilarejo. E aos poucos o confessionário da capela do pároco Vianney começou a ser “assediado” dia e noite, de modo que nem mais podia alimentar-se ou descansar. Tomava em média três refeições cheias por semana. O “cardápio” não constava senão de verduras, pão seco e água. O sono era repouso, muitas vezes, de duas horas apenas. Quando se tratava da conversão de um pecador, mais apertava o jejum e a cama era trocada pelo chão. Vinte vezes esteve doente e vinte vezes se curou subitamente, facto que causou grande admiração aos médicos.
João Maria Vianney era capaz de privar-se de sapatos e meias, e se encontrasse um pobre infeliz, na estrada, era capaz de trocar até as calças se as do mendigo estivessem piores que as suas.
Morreu aos 73 anos, a 4 de Agosto de 1859. Antes mesmo que Pio XI o declarasse santo, Ars já se havia transformado em destino de peregrinação. Certa vez um romeiro afirmou: «Vi Deus num homem!».
O Senhor permitiu que o sofrido corpo de São João Maria Vianney ficasse incorrupto e com flexibilidade até aos nossos dias, como testemunho da grande santidade do Cura d’Ars. O santo repousa na igreja da paróquia de Ars.
João Maria Vianney foi beatificado em 1905, pelo Papa Pio X, e canonizado em 1925, pelo Papa Pio XI, que o proclamou, em 1929, “padroeiro dos párocos do mundo”.
UM MODELO PARA OS SACERDOTES
Em 1959, por ocasião do centenário da sua morte, São João XXIII dedicou-lhe a encíclica “Sacerdotii Nostri Primordia”, apresentando-o como um modelo dos sacerdotes.
Volvidos cinquenta anos, em 2009, pelo 150° aniversário da sua morte, Bento XVI propôs um “Ano Sacerdotal”. A 5 de Agosto de 2009, na audiência-geral das quartas-feiras, afirmou que «gostaria de voltar a percorrer brevemente a existência do Santo Cura d’Ars, frisando algumas das suas características, que podem servir de exemplo também para os sacerdotes desta nossa época, certamente diferente daquela em que ele viveu, mas sob vários aspectos marcada pelos mesmos desafios humanos e espirituais fundamentais. (…)Eu quis inspirar-me neste aniversário para proclamar o Ano Sacerdotal que, como se sabe, tem como tema “Fidelidade de Cristo, fidelidade do sacerdote”. Dependem da santidade a credibilidade do testemunho e, em última análise, a própria eficácia da missão de cada sacerdote». O Santo Cura d’Ars manifestou sempre uma elevadíssima consideração pelo dom recebido. «Afirmava: “Oh! Como é grande o Sacerdócio! Não o compreenderemos bem, a não ser no Céu… Se o compreendêssemos na terra, morreríamos, não de susto, mas de amor!”», realçou Bento XVI.
São João Maria Vianney, rogai por nós!
Miguel Augusto
com Felipe Aquino, padre J. B. Lehmann e Libreria Editrice Vaticana