Foco nos jovens e nas novas tecnologias
A poucos dias do início da Assembleia Continental do Sínodo, que decorreu em Banguecoque entre 24 e 26 de Fevereiro, os bispos da Conferência Episcopal do Laos e Camboja (CELAC), reunidos em Phnom Penh para a sua assembleia anual, reiteraram a prioridade no anúncio da Boa Nova junto dos mais desfavorecidos, de forma a poder criar “perspectivas de esperança” naqueles que “as nossas sociedades deixam à beira da estrada”. Uma vontade expressa que não deixa de ser significativa. Sobretudo se aplicada em dois países onde a comunidade católica é residual…
No Laos há aproximadamente 45 mil membros da Igreja Católica Romana (muitos dos quais de etnia vietnamita), concentrados nos principais centros urbanos ao longo do rio Mekong, no centro e sul do País. Ou seja, 0,5 por cento da população. No Camboja existem apenas cerca de vinte mil católicos; 0,1 por cento da população total. Não há dioceses; em contrapartida, mantêm-se activos um Vicariato Apostólico e duas Prefeituras Apostólicas.
Numa altura em que as famílias têm cada vez menos filhos e os recém-baptizados com frequência se casam com não cristãos, a Igreja no Laos e no Camboja presta especial atenção à formação do clero local. O Laos conta apenas com vinte sacerdotes laosianos; o Camboja, umas quantas dezenas de khmers. “De que forma podemos cativar os nossos jovens para, através do sacerdócio, melhor servirem as suas comunidades?”, perguntava ao repórter do Vatican News um pároco khmer, lembrando a sua aposta nos seminaristas, “pois só eles podem assegurar o futuro das igrejas locais”. A pertinente questão surgiu no âmbito da ordenação sacerdotal do primeiro jovem da etnia phnong, evento marcado por uma procissão acompanhada com a música e as danças tradicionais daquela etnia do Camboja. Com a presença dos 52 sacerdotes das três dioceses do País, a celebração eucarística fôra presidida por D. Olivier Schmitthaeusler, vigário apostólico de Phnom Penh. O prelado, nativo de Estrasburgo (França), evocara na sua homilia as características que a vida sacerdotal deve ter: “ser ‘alter Christus’ (ser outro Cristo na terra), participar da família dos demais sacerdotes, ouvir e proclamar a Boa Nova, ter uma vida de oração, administrar os Sacramentos, especialmente a Eucaristia e a Reconciliação e, por fim, entregar a sua vida, como fez Jesus Cristo”. A ordenação sacerdotal teve lugar na igreja de São João Baptista, na comunidade de Busra, nordeste do Camboja, região habitada sobretudo pela minoria étnica phnong. A comunidade católica local tem origem em quinze famílias dessa etnia que durante a guerra civil fugiram para o Vietname e ali se converteram do Animismo ao Catolicismo. Estabelecida a paz, regressaram. Hoje, a paróquia de Busra conta com mais de trezentos católicos, camponeses na sua maioria.
O Cristianismo no Camboja surgiu e medrou, a partir de 1555, graças à intensa actividade de diversos missionários portugueses, entre os quais o famoso franciscano Gaspar da Cruz. Porém, o feroz regime de Pol Pot, de 1975 a 1979, dizimaria aquela que era já uma considerável e reputada comunidade, tanto em termos de infraestruturas quanto de recursos humanos. Todos os bispos, padres, leigos e um grande número de fiéis foram mortos e os missionários estrangeiros expulsos do País. Finda a guerra, reatariam a sua actividade os católicos; mas só em 2001 seriam ordenados os quatro primeiros padres “filhos da terra”.
Além da falta de quadros locais, a Igreja no Camboja e no Laos enfrenta também dificuldades linguísticas. No Camboja, por exemplo, noventa por cento do pessoal a fazer serviço pastoral é estrangeiro e, no geral, não há capacidade para traduzir os textos em Khmer ou Laosiano já que a maioria dos leigos não domina qualquer idioma estrangeiro.
Na sua assembleia anual, os bispos da Conferência Episcopal do Laos e Camboja, conscientes do papel das redes sociais que “nos moldam com algoritmos e nos guiam inconscientemente todos os dias”, chamaram a atenção para a importância de cativar os jovens, pois eles representam mais de cinquenta por cento da população dos seus países. São jovens que cresceram no campo e em três tempos chegaram às cidades, vendo-se aí catapultados para uma cultura pós-moderna e ultradesenvolvida, entrando inevitavelmente em contacto com realidades que influenciaram fortemente “o seu desenvolvimento humano, cultural e espiritual”. Urge, pois, acompanhar de perto esses jovens para que possam “desenvolver as suas potencialidades, no caminho da santidade”. Eles que muitas das vezes são deixados de lado quando deveriam ser protagonistas na vida das igrejas. Tendo em conta o facto de os jovens asiáticos estarem na vanguarda do uso dos novos meios de Comunicação Social, os bispos da Conferência Episcopal do Laos e Camboja decidiram que “o anúncio do Evangelho nas novas culturas e no mundo virtual” fosse um dos temas a serem abordados na Assembleia Continental do Sínodo em Banguecoque.
Outro assunto sobre o qual se debruçaram foi a relação da Igreja Católica com tradições espirituais asiáticas, em particular com o mundo budista, largamente maioritário nos seus países. Lembram eles que “os ensinamentos espirituais e as práticas meditativas podem ajudar-nos a reorientar melhor o essencial: a nossa união com Deus feito homem em Jesus Cristo”, para viver plenamente “uma relação pessoal com Deus”, fonte de toda a experiência missionária.
Joaquim Magalhães de Castro