Correios, Alfandega, Burocracia... Como contorná-los?

Correios, Alfândega, Burocracia… Como contorná-los?

Numa altura em que muito se fala em apoiar Portugal, principalmente pelos portugueses que vivem fora do País, por que razão estes não optam por comprar o material médico de protecção e intervenção a empresas de Portugal?

Nos grupos que proliferam na Internet, sejam de Macau ou de qualquer outro país com uma grande comunidade portuguesa, as críticas centram-se, sobretudo, nos problemas que vão existindo nos serviços de correio e de alfândega.

No caso de Macau, no grupo do Facebook que mais participantes tem, o Macau Solidário, encontramos um extenso rol de queixas. Umas bem fundamentadas, outras nem tanto, mas tal não é importante. Na maioria das vezes, as máscaras ficam retidas ou são cobradas verbas avultadas para serem desalfândegadas, com o argumento de que as mesmas não obedecem às normas da União Europeia.

Pessoalmente, não compreendo como podem as autoridades portuguesas estar a aplicar esta normativa tão “à letra” numa circunstância destas. Mas tudo bem! Afinal de contas, lei é lei, e quem somos nós para a criticar?

Mas, se assim é, se há os referidos problemas, por que razão não se opta por comprar o material médico em Portugal, em vez de recorrer a outros países. É que em Portugal há vários locais onde estão a ser fabricadas máscaras e outros itens de protecção. Deste modo, “matava-se dois coelhos de uma só machadada”, como se costuma dizer: não havia a questão da certificação e dos constantes atrasos na entrega das encomendas.

As fábricas que se reconverteram para produzir o material necessário ao combate à pandemia espalham-se por todo o País. Apesar de ser do conhecimento público que há carência deste tipo de produtos, as fábricas vêem-se obrigadas a exportar. O caso mais conhecido é o de Penafiel, mas há outros.

Aqui em Mira, um amigo de longa data, que produzia todo o tipo de produtos para marcas como a Dunlop, Decathlon e Goodyear, entre outras, está agora a concentrar a sua produção em equipamento de protecção pessoal: máscaras de filtro de carbono, batas protectoras, protector de calçado; todos reutilizáveis e que podem ser utilizados por qualquer pessoa. A prioridade é fornecer o sector público e este amigo têm-no feito, em grande medida, de forma gratuita, com a doação de muito material a centros de saúde, centros de dia e hospitais. Claro está que também vende por meio da Internet, pois há escassez em quase todo o mundo. À parte a publicidade, a empresa chama-se Mafipro (www.mafipro.pt/protecao-individual).

Coincidentemente, enquanto estava a escrever este texto, chegou a nossa casa uma encomenda de sete máscaras – de variados tamanhos e cores – e quatro viseiras que iremos utilizar quando estivermos a entregar comida ao domicílio e a trabalhar mais perto de outras pessoas.

Quando um saco de máscaras cirúrgicas, com dez unidades, custa cerca de dez euros (e é preciso conseguir encontrá-las…), os 25 euros que cobram por uma máscara reutilizável, com filtros de carbono, não me parece que seja um custo muito exagerado.

Há mais exemplo de empreendedores, de Norte a Sul de Portugal, sejam de grande ou pequena dimensão, que se têm desdobrado em esforços para fabricar, por exemplo, armaduras para as viseiras de protecção. São inúmeros os grupos de pessoas, que têm impressoras 3D, que se juntaram para conseguir fazer as estruturas plásticas em quantidade suficiente, com o objectivo de as colocar nas viseira e entregá-las aos profissionais de saúde e a outras pessoas que lidam diariamente com infectados ou pessoas de risco.

Aqui em Portugal temos notado que de dia para dia surgem mais iniciativas, nomeadamente das Juntas de Freguesia, que entre outras tarefas vêm informando as populações dos serviços disponíveis nas suas áreas de residência: restaurantes que entregam comida ao domicílio, lavandarias, farmácias, etc. É o tipo de informação que para os mais novos está acessível na Internet, mas que no caso dos idosos precisa ser transmitida pessoalmente.

Assim como vos dei a conhecer a Mafipro, considero que o Governo devia criar uma base de dados, na qual estivesse o nome e os contactos de todas as empresas que vêm efectuando um trabalho – quase uma missão, diria – que é fundamental para o combate ao Covid-19.

Sabendo-se o que se produz e onde se produz em Portugal, todos os que quisessem ajudar a partir do exterior, em vez de esbarrarem com burocracia e outros entraves, poderiam muito bem encomendar directamente a uma empresa que porventura estivesse localizada perto do destinatário.

Sinceramente não estou a par do preço das máscaras reutilizáveis na China. Mas sei que a Xiaomi, por exemplo, as vende a cerca de 35 euros em Espanha. Se a este valor adicionarmos portes de envio, batemos facilmente a fasquia dos quarenta euros. As “Made in Portugal” custam 25 euros cada e não há portes de envio dentro do território nacional.

Nós, como não fazemos máscaras – nem temos como, mesmo que quiséssemos –, vamos contribuindo com o que podemos. Além de estarmos sempre disponíveis para ajudar nas várias iniciativas de voluntariado, entregámos há dias, pela primeira vez, um conjunto de refeições aos Bombeiros Voluntários de Mira. Desde o início da crise, estes bombeiros (homens e mulheres), agrupados em equipas de oito elementos, cumprem turnos de 24 horas, descansando de seguida 48 horas. Para minimizar o cansaço, muitos vêm-lhes oferecendo todo o tipo de produtos, desde a sempre indispensável comida (até sobremesas lhes oferecem) a jogos para ocuparem as horas livres – uma boa forma de ajudar a passar o tempo.

João Santos Gomes

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