Igrejas Católicas Orientais apelam à Paz

CONFLITO ISRAELO-ÁRABE

Igrejas Católicas Orientais apelam à Paz

Logo após o ataque dos militantes do Hamas em território israelita – na madrugada de sábado, 7 de Outubro – que daria origem ao actual conflito no Médio Oriente, o padre Gabriel Romanelli, pároco da paróquia católica de Gaza, dedicada à Sagrada Família, veio expressar «os avassaladores sentimentos de incerteza carregados de tristes pressentimentos» que prevalecem entre a população local. «Ninguém sabe o que está para vir e, infelizmente, não há sinais de que o que agora começou possa terminar em breve», dizia. Premonitória, a dedução do sacerdote. Até porque na memória de todos estão ainda bem frescas outras fases deste “eternizado” conflito…

Recorda o padre argentino, membro do Instituto do Verbo Encarnado, que perante situações bem menos graves do que a actual se desencadearam longos e desgastantes confrontos. Antevendo similar cenário, o padre Romanelli evocou o apelo do Papa Pio XII pouco antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial: «Nada se perde com a paz, tudo se perde com a guerra». Expressão, de resto, repetida posteriormente por São João Paulo II. Resta-nos – como diz o padre Gabriel – «rezar e esperar que o conflito termine o mais rapidamente possível, para tornar menos difícil a cura das feridas e depois trabalhar em prol da justiça e da paz» que, do fundo dos seus corações, tantos israelitas e palestinianos almejam.

Também o Religiões pela Paz, movimento que promove o diálogo inter-religioso a nível internacional, “como caminho para a reconciliação e a paz”, face à escalada do conflito, admitiu que “sem o reconhecimento do Estado de Israel e do direito do povo palestino ao seu próprio Estado independente”, nada mudará. Esta organização, de resto, está em sintonia com a congénere Rabinos pelos Direitos Humanos, sedeada em Israel, que recusa encarar a actual tragédia como “uma inevitabilidade do destino”. Nenhuma pessoa – homem, mulher ou criança – deve viver com medo ou buscar refúgio em abrigos ou fora da sua terra natal. “A segurança não é um privilégio: é um direito fundamental de qualquer ser humano”, escreve essa organização num comunicado divulgado por alguma da Imprensa israelita. E esse direito à segurança há muito foi roubado a todos os habitantes da Terra Santa, sejam eles israelitas ou palestinos. “Este é um ciclo que tem de acabar”, assina o porta-voz da Rabinos Pelos Direitos Humanos. Lamentando desde já todas as vítimas, esta organização religiosa não duvida da “nova realidade que nos espera”, uma vez terminado o confronto militar. A grande questão que se coloca é: “vamo-nos deixar levar por esses conceitos falhados que repetidamente se revelaram prejudiciais, ou vamos enveredar por um caminho fundamentalmente diferente?”. Um caminho que garanta não apenas a paz dos israelitas, mas também a dos palestinos.

Entre as organizações que sempre estiveram envolvidas a nível humanitário na Terra Santa consta a Ordem de Malta, que agora exige a interrupção imediata da “espiral de violência”. Nenhum acto terrorista ou uso indiscriminado da força contra populações inocentes é justificado. Enquanto apela ao “respeito pelo direito internacional humanitário, pelo Estado de direito e pela protecção das pessoas inocentes apanhadas no conflito”, a Ordem de Malta chama a atenção para a protecção que é devida aos que trabalham nos hospitais e primeiros socorros. Como se sabe, aqueles que ajudam abnegadamente doentes e necessitados tornam-se eles próprios, muitas das vezes, vítimas.

Num comunicado conjunto os Patriarcas Católicos do Médio Oriente pediram aos seus fiéis para que intensificassem as suas orações, “implorando ao Senhor Jesus Cristo” para que restaure a paz na terra onde Ele próprio nasceu. Ao mesmo tempo, apelam às grandes potências e à comunidade internacional para que trabalhem para o fim da guerra na Terra Santa, “implementando as resoluções internacionais adoptadas pelas Nações Unidas” que reconhecem o “direito à autodeterminação” dos povos.

Os responsáveis das cinco Igrejas Católicas Orientais presentes no Médio Oriente e no Norte de África – em Roma desde o início de Outubro para participar na Assembleia do Sínodo dos Bispos – reuniram-se para “partilhar informações, considerações e desejos pastorais sobre o momento que as suas comunidades atravessam no contexto desta nova guerra”. Participaram no encontro o Patriarca sírio-católico Ignace Youssif III Younan, o Patriarca maronita Béchara Boutros Raï, o Patriarca caldeu Luis Raphael Sako, o Patriarca copta-católico Ibrahim Isaac Sidrak e o Patriarca da Igreja católica arménia Raphael Bedros XXI Minassian. Estes cinco chefes das Igrejas Católicas Orientais – segundo um comunicado divulgado após o encontro – fizeram eco às palavras e apelos feitos pelo Papa Francisco desde o início do novo surto de violência na Terra Santa, expressando, como o Papa, a sua proximidade com as famílias das vítimas e de “todos aqueles que viveram e vivem ainda horas de terror e dor”.

Entretanto, o Patriarca latino de Jerusalém, Pierbattista Pizzaballa, em nome dos bispos católicos da Terra Santa, convidou todas as paróquias e comunidades religiosas para um dia de jejum e oração pela paz e reconciliação. Esta iniciativa teve lugar na passada terça-feira, 17 de Outubro.

Cerca de mil e 100 cristãos vivem hoje em Gaza. Tal como os muçulmanos, estes cristãos, cujas raízes históricas remontam a dois milénios, estão isolados do resto do mundo, incluindo dos locais sagrados na Cisjordânia.

Joaquim Magalhães de Castro

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