O Evolucionismo Teísta – 1
O evolucionismo teísta, ou evolução teísta, é um dos três grandes pontos de vista sobre a origem da vida que se colocam a par, ou em colisão, com a Igreja e a sua doutrina sobre a origem da vida. As outras abordagens são o evolucionismo ateísta (ateu), (também conhecido como Darwinismo) e a criação especial. Para a Igreja Católica, como se sabe, Deus é o criador que dá a vida a todos os seres vivos, conferindo ao ser humano um lugar especial, o que o dota de uma dignidade intrínseca à própria humanidade criada por Deus. Deus imprime no coração de cada pessoa uma “lei natural”, que deve ser a matriz para a orientação da conduta dos seres humanos. Por um simples acto da sua vontade, Deus fez, criou, o mundo – a partir do nada, pois, no princípio, só Ele (que é Eterno) existia. Mas vejamos as Fontes…
Narra-se nas Sagradas Escrituras, no Génesis, que Deus criou o mundo em seis dias e ao sétimo dia, descansou. Estes “seis dias” serão uma metáfora que pode corresponder a épocas que podem ter durado milhões de anos. A intenção dos “autores sagrados”, recorde-se, não era a de escrever obra científica, em sentido empírico e exacto, factual ou produzir narrativas para leituras literais. Apenas e tão somente, a intenção era levar aos homens o conhecimento de Deus. Nada mais. O que é já de si uma empresa monumental. Por isso, usava-se a linguagem contemporânea, o estilo e a simbólica coevos, aludindo-se a fenómenos da natureza, empregando imagens alegóricas. Na Bíblia a inspiração é divina, com Deus a revelar-se a Si mesmo e a dar a conhecer o mistério da Sua vontade. O Génesis faz parte da revelação feita por Deus antes da vinda de Jesus.
A linguagem de Deus não é humana, é Palavra dada através de outros homens que Ele escolheu, antes de o fazer através do Filho, no Novo Testamento. A palavra humana tem limitações e condicionamentos: de tempo, de espaço, de grupo étnico, de cultura. No Génesis, como em todo o Antigo Testamento, a palavra de Deus revela-se pela Tradição, por exemplo, passando para uma nova Revelação no Novo Testamento, onde se manifesta ainda mais a Inspiração, que caracteriza e distingue a Bíblia de todos os outros livros. A Bíblia fala verdade, mas uma verdade que é preciso descobrir. Que é a verdade da salvação humana, verdade religiosa, apenas a verdade que Deus quis que se plasmasse nas Escrituras. É uma verdade progressiva, pelo que se tem que ler a Bíblia como um todo e não cada livro isoladamente. Como os crentes na salvação, que valem como um todo e não cada um por si, como sentencia o relativismo.
A INTERPRETAÇÃO DOS TEXTOS
A constituição Dei Verbum (DV, 12) refere que “Porque Deus na Sagrada Escritura falou por meio dos homens e à maneira humana, o intérprete da Sagrada Escritura, para saber o que Ele quis comunicar-nos, deve investigar com atenção o que os hagiógrafos realmente quiseram significar e o que aprouve a Deus manifestar por meio das suas palavras”. Para tal, conforme ensina o Concílio Vaticano II, deve-se ter em conta os géneros literários e os sentidos bíblicos, os quais são:
– o literal, aquele que o autor quis dar ao texto;
– o pleno, o significado mais profundo do texto;
– o típico, quando pessoas, acontecimentos, instituições, etc., representam e prefiguram, por vontade de Deus, pessoas, acontecimentos, instituições de ordem superior;
– o acomodatício, no qual se dá às palavras das Escrituras um sentido diferente daquele que o autor queria dar.
A Sagrada Escritura deve ser lida e interpretada com o mesmo espírito com que foi escrita. Os teólogos e exegetas, os cientistas porque não, devem observar este preceito e ter em conta o que acima se expôs. Será que se tem sempre? Talvez não, e os erros de análise daí derivam, criando-se interpretações erróneas, que são mal entendidas e criam ainda mais concepções que se desviam do sentido original e do fim para que os textos foram revelados. Por isso, deve-se ler o Génesis, o livro da Criação, de forma cuidada, atenta e inserir nos devidos contextos da época em que foi lavrada a sua escrita. Com base nestes pressupostos, devemos analisar então o que é o evolucionismo, no caso o teísta, para mais tarde vermos o ateísta (ou “ateu”, embora o melhor termo aqui seja o que usámos, por oposição a teísta).
Antes de tudo, o que é o evolucionismo? É uma teoria elaborada e desenvolvida por diversos cientistas para explicar as alterações sofridas pelas diversas espécies de seres vivos ao longo do tempo, na sua relação com o meio ambiente onde elas habitam, defendendo, em suma, o processo de evolução dessas espécies por meio de modificações lentas e progressivas de acordo com o meio ambiente e os diversos factores que as rodeiam.
O principal cientista ligado ao evolucionismo foi o inglês Charles Robert Darwin (1809-1882), que publicou, em 1859, a obra sobre a origem das espécies por meio da seleção natural ou a conservação das raças favorecidas na luta pela vida, ou como é mais comummente conhecida, “A Origem das Espécies”. Muitas vezes falamos de Darwinismo, como sinónimo de evolucionismo. A par deste, ou contra, para muitos, está o criacionismo. Ambas as teorias fazem parte da ancestral polémica gerada pela discussão entre Ciência, Filosofia e Religião, sobre as origens do Universo e da própria Humanidade. Assim como o evolucionismo, o criacionismo é uma teoria que tenta explicar a origem da vida e a evolução do homem. No entanto, é importante ressaltar que a teoria cracionista segue uma linha de pensamento distinta da teoria evolucionista. Em primeiro, aborda a questão do ponto de vista religioso. Deste modo, sustenta que todos os seres vivos existentes foram criados por um ou mais entes inteligentes. Esta é a hipótese de maior recepção em todo o planeta, elaborada em oposição à teoria evolucionista, mais empírica e científica.
O criacionismo baseia-se na crença na criação divina, conforme está narrado na Bíblia Sagrada, mais especificamente no referido livro de Génesis. Numa interpretação literal, Deus criou todas as coisas, inclusivamente o homem. As mais diversas culturas e religiões possuem a sua versão própria do criacionismo, não sendo um exclusivo do Cristianismo, mas de muitos sistemas religiosos mais antigos.
Na confluência destas teorias, ou na tentativa de as confluir, surgem as derivações do evolucionismo, neste caso do teísta. O evolucionismo teísta, ou evolução teísta, é assim uma concepção filosófica de matriz criacionista que procura conciliar a ideia de uma divindade criadora e a teoria da evolução das espécies, em particular a dos seres humanos. Esta teoria concebe a ciência moderna actual como a forma pela qual o homem, com as suas capacidades outorgadas por Deus, descobre gradualmente a grandeza da criação, de que faz parte.
Vítor Teixeira
Universidade Católica Portuguesa