CISMAS, REFORMAS E DIVISÕES NA IGREJA – CCXXXVIII

CISMAS, REFORMAS E DIVISÕES NA IGREJA – CCXXXVIII

O Pentecostalismo – X

A organização pentecostal tem variações, nas suas diversas regionalizações ou divisões, denominações ou congregações. Mas existem elementos comuns. Vimos já o papel dos Diáconos e Apóstolos. Recordemos os demais cargos.

Os primeiros são os Profetas. Estes, no Pentecostalismo, são considerados como os porta-vozes espirituais. Para o Pentecostalismo, são portadores de uma mensagem de Deus dirigida à igreja ou ao mundo e relacionada com o futuro. Os cessacionistas, um ramo pentecostal, reservam, todavia, o termo exclusivamente para profetas bíblicos, enquanto outras igrejas consideram que os profetas continuam a existir na actualidade. Da mesma forma que nas redes apostólicas, também em certos grupos carismáticos existem “ministérios proféticos”, que segundo os pentecostais são cargos “escolhidos” por Deus.

Depois temos os Evangelistas, anunciadores ou pregadores da “boa nova”. Vários evangelistas – no conceito pentecostal – são mencionados na Bíblia, incluindo o próprio Jesus Cristo ou o apóstolo Paulo. Hoje, os pentecostais sustentam que todos os cristãos devem ser evangelistas e, portanto, pregar o Evangelho, tanto em lugares públicos como privados. Algumas denominações pentecostais criaram mesmo um estatuto importante para os evangelistas mais aptos. Contudo, alguns destes evangelistas de topo têm sido criticados por pedirem para serem contratados pelos seus serviços e exigirem dinheiro ou maiores privilégios para a sua actividade evangelizadora, quase como se fossem mais gestores famosos do que anunciadores da “boa nova”.

Temos ainda os Pastores, também conhecidos como Ministros em muitas igrejas. É o ministério mais numeroso entre os pentecostais e desempenha um papel de liderança, cuidando dos crentes e atraindo novos fiéis para a igreja. A sua conduta, de acordo com os ensinamentos da igreja, deve ser inatacável e sem motivos para se pôr em causa. Em algumas igrejas, o pastor é a mais alta autoridade, sendo aquele que tem a última palavra em todas as decisões. Em igrejas com governo presbiteriano (influência da Igreja Presbiteriana, calvinista), os pastores podem receber indicações do corpo de anciãos que tutela a denominação. Os pastores são geralmente pessoas com estudos bíblicos efectuados em organizações religiosas e por vezes possuem qualificações ministeriais. Os pastores costumam realizar baptismos, pregações e visitas aos seus paroquianos e aos doentes.

Por fim, temos os Professores ou Mestres. Em algumas igrejas é um ministério equivalente ao de pastor, mas noutras cumprem um papel específico de instrução bíblica para outros crentes.

AS CONTROVÉRSIAS PENTECOSTAIS

Vários grupos cristãos têm criticado o movimento pentecostal e carismático por prestar muita atenção às manifestações místicas, como a glossolalia, apresentada como uma evidência obrigatória de um baptismo do Espírito Santo para um crente, além das quedas no chão, dos gemidos e gritos, durante as sessões espirituais, bem como um recorrente “anti-intelectualismo” por parte da hierarquia.

Uma doutrina particularmente controversa que foi abraçada pelos pentecostais é a chamada “teologia da prosperidade”, que se difundiu nas décadas de 1970 e 1980 nos Estados Unidos, principalmente por tele-evangelistas pentecostais e carismáticos. O movimento carismático, ou neopentecostalismo, surgiu nos Estados Unidos no final da década de 1950 a partir de movimentos religiosos existentes, sob o nome de “Neopentecostalismo”. A designação “movimento carismático” começou a ser usada pelo ministro luterano norte-americano Harald Bredesen (1918-2016) em 1962. Entre os seus primeiros promotores estavam David DuPlessis (1905-1987), sul-africano, ministro das Assembleias de Deus até 1962, além do ministro inglês da Igreja Episcopaliana Dennis Bennett (1917-1991). Os esforços deste movimento, no entanto, centraram-se sempre mais na revitalização e renovação da sua “liturgia” do que na evangelização e no trabalho missionário. São frequentemente criticados por movimentos mais antigos por causa das suas novas doutrinas não enquadradas na Bíblia, como a procura de dinheiro e de sucesso nos negócios, no que se designa como a “teologia da prosperidade”. As suas “liturgias”, mais massivas, mas mais leves e superficiais, semelhantes aos programas de “show-bizz” televisivo, têm também sido criticadas. São consideradas mais como “shows” de captação de fundos e de animação de massas, prometendo mais a riqueza e não tanto a salvação pela fé.

Ou seja, esta doutrina concentra-se no ensino da fé cristã como um meio de enriquecer financeira e materialmente, através de uma “confissão positiva” e de uma contribuição para os ministérios. Promessas de cura divina e prosperidade são garantidas em troca de certas quantidades de doações (o que é completamente contra o postulado na Bíblia). A fidelidade através do dízimo tornaria possível evitar as maldições de Deus, os ataques do diabo e a pobreza, pregam os ministros desta teologia da prosperidade. Mas a prática de oferendas e de dízimos ocupa muito tempo nos cultos, que praticamente são sessões de ofertório e de justificação do mesmo pelos pregadores. Muitas vezes associada ao dízimo obrigatório, esta doutrina é por vezes comparada a um negócio religioso. Em 2012, o Conselho Nacional de Evangélicos da França publicou um documento denunciando a doutrina, mencionando que a prosperidade era de facto possível para um crente, mas que essa teologia levada ao extremo leva ao materialismo e à idolatria, que não é o propósito do Evangelho. Por isso, muito pastores pentecostais que aderiram à teologia da prosperidade têm sido criticados por jornalistas pelo seu estilo de vida de ostentação e luxo, através da exibição de roupas de luxo, grandes moradias, carros de gama alta, jactos particulares, grandes investimentos, etc.

Outra controvérsia prende-se com o “negócio” das curas, que começa com o ensino da cura pela fé. Em algumas igrejas, o preço da oração contra promessas de cura tem sido observado e rentabilizado. Alguns pastores e evangelistas foram acusados de alegar falsas curas, pagas… Algumas igrejas, nos Estados Unidos ou na Nigéria, por exemplo, chegaram mesmo a desencorajar os seus membros em relação à vacinação ou ao uso de medicamentos, afirmando que estes são apenas para os fracos na fé, pois com uma confissão positiva os fiéis não precisariam desses “remédios” e ficariam imunes. Em 2019, em Mbandjock, nos Camarões, associaram-se três mortes numa igreja a essa negação. Esta, recorde-se, não é representativa de todas as igrejas evangélicas, como referiu o Conselho Nacional de Evangélicos da França, que defende que a Medicina é uma das dádivas de Deus aos humanos. Algumas igrejas e organizações humanitárias evangélicas desenvolvem, aliás, programas de saúde médica.

Vítor Teixeira 

Universidade Fernando Pessoa

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *