CISMAS, REFORMAS E DIVISÕES NA IGREJA – CCXXXVI

CISMAS, REFORMAS E DIVISÕES NA IGREJA – CCXXXVI

O Pentecostalismo – VIII

Nesta história de expansão, de irradiação, mas também de problemas e controvérsias, de que forma se desenvolveu o Pentecostalismo no plano espiritual, das crenças e culto? As suas crenças fundamentais são a sua pedra angular, naturalmente, pelo que importa conhecer.

As organizações cristãs desta denominação têm como imperativo a promoção das quatro crenças fundamentais do Pentecostalismo. Apesar das múltiplas e diferentes correntes e organizações pentecostais, estas partilham quatro crenças fundamentais.

A primeira crença é a de que Jesus Cristo salva. Uma salvação que é encarada como um presente oferecido por Deus às pessoas com verdadeira fé. Esta salvação é concedida graças à crucificação de Jesus, como maior testemunho de fé. Nesse sentido, a maioria das confissões pentecostais acredita na doutrina do Arminianismo, que se opõe à doutrina calvinista da Predestinação. O Arminianismo (fundado nos Países Baixos por Jacobus Arminius, 1560-1609) sustenta a salvação através da cooperação do homem com a graça divina por meio da fé. Em contraste com o conceito calvinista de predestinação incondicional (ou “escolha”), o Arminianismo ensina que a Predestinação se baseia no conhecimento prévio de Deus, que tem o conhecimento prévio de quem viverá e não acreditará em Cristo, além da vontade do homem, pela assistência divina, que é livre para acreditar ou rejeitar Cristo. Devido à origem metodista e do movimento de Santidade (“Holiness Movement”) de muitos dos primeiros pregadores pentecostais, as igrejas que estes fundaram geralmente assumiam práticas que advinham do arminianismo wesleyano (de John Wesley, 1703-1791, fundador do Metodismo).

Durante o Século XX, quando as igrejas pentecostais começaram a estabelecer-se e a definir e incorporar formas mais padronizadas, muitas começaram a formular a sua própria teologia, a qual era, refira-se, totalmente arminiana. Na actualidade, as duas maiores denominações pentecostais do mundo, as Assembleias de Deus e as denominações da Igreja Pentecostal de Deus, mantêm oficialmente as visões arminianas, como a eleição condicional, que é a crença de que Deus escolhe para a salvação eterna aqueles que ele prevê que terão fé em Cristo. Essa crença enfatiza a importância do livre-arbítrio de uma pessoa. A visão contrária é conhecida como eleição incondicional, que é a crença de que Deus escolhe quem quer, com base apenas nos seus propósitos e sem ter em conta o livre arbítrio de um indivíduo.

BAPTISMO, CURA E ADVENTO DE CRISTO

A segunda crença fundamental é mais simples, do ponto de vista teológico e prático. É a crença de que Jesus Cristo baptiza através do Espírito Santo. Ou seja, a doutrina do baptismo no Espírito Santo ensinada por Jesus. O baptismo no Espírito Santo é uma doutrina cristã baseada no livro dos Actos dos Apóstolos do Novo Testamento, onde se narra que uma multidão de crentes teria recebido o Espírito Santo conforme Jesus lhes havia prometido. Esta doutrina é interpretada de diferentes maneiras de acordo com os diferentes grupos protestantes. Por um lado, as igrejas históricas (luteranos, presbiterianos, baptistas, etc.) acreditam que é algo que ocorre naturalmente na conversão da pessoa ao Cristianismo, sem que haja evidência sensorial, na forma de qualquer manifestação sentida, portanto, por humanos. Já os grupos pentecostais e carismáticos acreditam que o baptismo no Espírito Santo pode ocorrer na conversão ou em algum momento posterior, momento este que é caracterizado pelo dom de falar várias línguas (poliglossia) “desconhecidas” ou estrangeiras (xenoglossia).

A terceira crença é a de que Jesus Cristo cura. É a “cura pela fé”, cura esta que é como uma promessa cumprida por Jesus Cristo no momento em que aceitou a Sua crucificação. Como o crente aceita a sua conversão, metaforizada na crucificação de Jesus. A cura pela fé é uma prática ritual de orações e gestos (como a imposição de mãos) que supostamente provocam a intervenção divina para a cura física e espiritual. Os seus defensores e praticantes afirmam que a cura de doenças e deficiências é possível através da cura pela fé, graças à oração e a outros rituais, que segundo os mesmos estimulam a presença divina e o sanar do mal ou padecimento que se sofria.

A quarta crença é a de que Jesus Cristo está para chegar. A escatologia pentecostal concentra-se no retorno precoce de Jesus Cristo à Terra, dividido em dois momentos, o Êxtase (ou Arrebatamento) da Igreja de Cristo e o retorno de Jesus após a Grande Tribulação. O Êxtase, ou Arrebatamento da Igreja, também designado por “rapto da Igreja”, é um conceito escatológico e teológico sustentado por alguns grupos cristãos, particularmente dentro dos ramos do evangelicalismo, como os pentecostais, que consiste na crença de que quando Jesus descer do céu, os mortos que levavam uma vida cristã serão ressuscitados, além de que os crentes vivos serão arrebatados ou retirados da terra junto com aqueles (os crentes mortos entretanto ressuscitados), para todos encontrarem Deus no Céu. O termo é usado com mais frequência entre os teólogos cristãos conservadores nos Estados Unidos. O termo “Arrebatamento” também tem sido usado para uma união mística com Deus ou para a vida eterna no céu. As igrejas pentecostais não proclamam uma data para este evento, como fizeram as Testemunhas de Jeová, os Mórmons ou os Adventistas, mas não deixam de encorajar os seus crentes a viverem em consagração, santidade e trabalho cristão. Assim, acreditam que se prepararão melhor para a inevitabilidade, ainda que surpresa, desse advento de Cristo. Em geral, os pentecostais afirmam que para se receberem esses benefícios é necessário manter uma dedicação religiosa constante.

No que concerne às suas crenças gerais, como cristãos que são, os pentecostais são monoteístas. Os chamados pentecostais trinitários acreditam na Santíssima Trindade, enquanto os pentecostais “unicistas” (ou do “Nome de Jesus”) não crêem. Isto porque consideram que Deus se manifesta de muitas maneiras, sendo Jesus a sua última grande manifestação. Estes pentecostais unicistas defendem a doutrina da Unicidade absoluta de Deus, rejeitando a doutrina da Trindade, que diz respeito à pluralidade de pessoas numa única Essência Divina (O Pai, O Filho [ou Logos] e O Espírito Santo). Esta sustentação assenta no facto de que para eles Deus é apenas um único ser que Se manifestou de três maneiras (ou ministérios) diferentes para Se revelar ao homem (como o Pai, como o Filho e como o Espírito Santo). Ao contrário da vasta maioria das igrejas cristãs, os unicistas consideram Jesus Cristo, o Filho, como sendo tanto o Pai quanto o Espírito Santo.

Os pentecostais, em geral, vêem a Bíblia como um livro sagrado dentro do cânone bíblico protestante, considerando que os seus autores foram inspirados pelo Espírito Santo. Desta forma, a Bíblia representa a palavra de Deus e, portanto, é o seu governo incondicional de fé e de conduta.

Vítor Teixeira

Universidade Fernando Pessoa

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