Muitos cristãos continuam a pensar que a santidade é para os santos; aquelas mulheres e homens extraordinários que estão mais próximos de Cristo, que é o Santo. A santidade não é para eles. Não é verdade! Todos os seguidores de Cristo, em particular, são chamados à santidade, a tornarem-se santos. Jesus diz-nos a todos: Sede santos como o vosso Pai é santo.
Os elementos essenciais da santidade são permanentes. Vêm, sobretudo, do próprio tempo de Jesus, que é o rosto da santidade de Deus e o nosso caminho para a santidade: Ele ama todos incondicionalmente e os necessitados de uma forma especial. Está intimamente unido a Deus na oração mais profunda, e faz sempre a vontade de Deus (cf. Vaticano II, Lumen Gentium, 42). Os elementos clássicos da escada da santidade: “A oração cheia de fé, a meditação da Palavra de Deus, a celebração da Missa, a adoração eucarística, a reconciliação sacramental, as obras de caridade, a vida comunitária e a acção missionária” (Papa Francisco).
Na sua inspiradora Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate (GE), ou “Alegrai-vos e exultai” (19 de Março de 2018), o Papa Francisco diz-nos que quer apenas “repropor a chamada à santidade de uma forma prática para o nosso tempo” e chamar a nossa atenção para certos aspectos significativos da santidade hoje.
Na mesma exortação, o Papa Francisco convida a todos a ouvir o chamamento de Deus à santidade. Como repete muitas vezes o Vaticano II, todos somos chamados à santidade. A nossa santa Igreja, Mestra e Mãe, apresenta-nos os modelos a seguir: os santos canonizados e os anónimos, que podem incluir as nossas mães, avós e outros entes queridos. Todos os santos de todos os tempos apontam para Jesus e seguem-no, a começar por Maria Nossa Senhora (cf. GE, 3, 124 e 176), os apóstolos, os mártires, as virgens, os confessores, pessoas comuns que vivem vidas extraordinárias de fidelidade e de serviço. Podemos e devemos esforçar-nos por estar entre eles. É difícil ser santo? O convertido Leon Bloy responde: “Um passo para além da mediocridade e és um santo”.
Ser santo – só com a graça e o amor de Deus – é possível: a nossa colaboração é “essencial” (São Francisco de Sales, em “O Amor de Deus”). Precisamos de uma determinação… determinada! Temos que querer realmente ser santos: “querer, querer, querer” (São Tomás de Aquino). “Eu quero, eu quero, com a bênção de Deus, ser santa” (Santa Teresa de Calcutá). Afinal, ser santo significa realmente fazer a vontade de Deus, ou seja, cumprir os mandamentos que estão centrados no amor. Santidade significa simplesmente: fazer o que temos de fazer todos os dias com amor; pôr um pouco de amor em tudo o que fazemos – grande ou pequeno. Estejamos certos disto: a santidade significa felicidade aqui e no futuro.
No fundo, a santidade consiste na união amorosa com Cristo: união com o Senhor Crucificado e Ressuscitado. É deixar que a Santíssima Trindade – que habita em nós, se amamos Jesus – actue em nós através da graça divina, que nos purifica, eleva e ilumina.
UM PASSO PARA ALÉM DA MEDIOCRIDADE E ÉS UM SANTO
Santidade significa imitar Jesus, o virtuoso. Todas as virtudes, enraizadas na graça divina, estão ligadas entre si, centradas no amor e actuando através do amor fiel e esperançoso. O agente da santidade é o Espírito Santo, que nos conduz pelo caminho do amor. Para além das virtudes teologais da fé, da esperança e da caridade, as virtudes morais infusas são também sinais e meios de santidade, especialmente a humildade, a oração, a misericórdia, a alegria, a paciência, a mansidão, a justiça, a verdade, a temperança, a coragem e a paz.
A santidade é uma conversão contínua: “Morrer para a morte e viver para a vida”; morrer para a carne, morrer para o que é velho em nós e viver a novidade da vida em Deus. Não podemos alcançar a luz do fogo do amor senão através da purgação: através do túnel escuro do sofrimento até à luz da graça e do amor de Deus em nós; através da cruz e da morte para o pecado até à vida, à salvação, à felicidade. O nosso grande inimigo é Satanás, o maligno, que “como um leão que ruge, anda à procura de alguém para devorar” (cf. 1 Pd., 5, 8).
O caminho da santidade é percorrido através da prática das virtudes e da rejeição dos vícios. É a melhor maneira de manter à distância os nossos inimigos comuns – o mundo, o demónio e a carne. Isto significa concretamente a obediência aos mandamentos através da prática das virtudes e da rejeição dos vícios. A prática das virtudes (bons hábitos) é o caminho para erradicar os vícios (maus hábitos), para os combater, nomeadamente: orgulho, inveja, avareza, ódio, mentira, injustiça, violência, complacência, dogmatismo, intransigência, consumismo, etc.
O nosso principal inimigo a combater constantemente é o nosso próprio eu, o nosso “ego gordo”, as nossas inclinações agressivas e egoístas que devemos combater através de um processo contínuo de desapego. Palavras para reflectir: Quando queremos que o amor de Deus viva e reine em nós, amortecemos completamente o amor-próprio; pelo menos enfraquecemo-lo (São Francisco de Sales).
As bem-aventuranças são “o bilhete de identidade” dos cristãos e retratam o Mestre para todos (GE, 63). Jesus é a bem-aventurança de Deus. Ele viveu as bem-aventuranças com um amor incondicional pela Humanidade. As bem-aventuranças são a Carta Magna dos cristãos, mas não apenas para chegar ao céu: a felicidade começa aqui, hoje. Todas as bem-aventuranças têm um denominador comum: a felicidade.
José María Cabodevilla afirma que as oito bem-aventuranças são oito formas de felicidade. “De certa forma, todas elas coincidem com a pobreza e a humildade” (J. L. Larrabe). A primeira bem-aventurança, a pobreza de espírito, está presente em todas as outras; os pobres de espírito são também os que choram, os mansos, os sedentos de justiça, os misericordiosos e os puros de coração. Bem-aventurados os pobres em espírito, ou seja, bem-aventurados os que conhecem a sua necessidade de Deus; o Reino de Deus é deles. Palavras para reflectir: “Um homem pode não ter dinheiro no bolso e, no entanto, ter a alma cheia de avareza” (Fulton Sheen). O Doutor Angélico diz que a caridade, o amor de Deus é a causa da felicidade e da alegria. Ao contrário, a falta de amor torna tudo sem valor na perspectiva do Reino.
E para concluir: vamos para o céu pelo caminho da santidade. À santidade rumamos ao praticar os mandamentos pelo caminho das virtudes em torno da virtude da caridade como amor a Deus e ao próximo, e testemunhando as bem-aventuranças com a graça de Deus e os Dons do Espírito Santo. É difícil ser santo? Não é assim tão difícil; é apenas um passo para além da mediocridade.
Pe. Fausto Gomez, OP