A IGREJA CATÓLICA NA GUINÉ EQUATORIAL

A IGREJA CATÓLICA NA GUINÉ EQUATORIAL

Beatificação do catequista mártir José Si Esono

O Presidente da Conferência Episcopal da Guiné Equatorial, D. Juan Domingo-Beka Esono Ayang, bispo de Mongomo, em entrevista à Agência FIDES, recorda que após quase uma década de cerrada perseguição pelas autoridades do País – de 1968 a 1979 – a Igreja Católica vive hoje uma nova dinâmica. “De três dioceses com dois bispos, passámos a cinco dioceses com seis bispos”, diz o prelado. Foi, aliás, essa traumatizante experiência o verdadeiro motor da evangelização, tendo a Igreja permanecido “presente e activa”, malgrado os empecilhos de toda a natureza.

A Guiné Equatorial, localizada na costa oeste de África, foi, depois de se tornar independente de Espanha em 1968, uma ditadura marxista durante mais de onze anos. A Igreja Católica foi perseguida, o culto proibido e os templos convertidos em armazéns de cacau e café. Os catequistas foram os que mais sofreram, através de represálias e das mais diversas formas de humilhação. Entre eles, destaca-se José Si Esono, cujo processo de beatificação decorre já, como primeiro passo para a canonização “que se pretende submeter” ao Dicastério para as Causas dos Santos. “Durante a nossa visita Ad Limina à Santa Sé tivemos a oportunidade de apresentar o caso do catequista José Si Esono, muito venerado na Guiné Equatorial”, recorda a propósito D. Juan Domingo-Beka Ayang. Além do venerado catequista, há o caso de uma freira, Imelda Makole, co-fundadora de uma congregação feminina local (“Missionárias Oblatas de Maria Imaculada e São José”, agora “Missionárias de Maria Imaculada”), e ainda processos de beatificação de outros catequistas e leigos, presentemente em andamento. O que diz muito do papel fundamental dos catequistas no exercício do ministério pastoral naquele país. Desde o primeiro anúncio do Evangelho na Guiné Equatorial, os catequistas foram considerados o “braço direito” dos sacerdotes, e ainda são “os responsáveis pelas comunidades de base”.

Também o bispo de Ebibeyín, D. Miguel Angel Nguema Bee, evoca a impressionante história de José Si Esono, o primeiro mártir catequista da Guiné Equatorial, na década de 1930. Nascido na pequena aldeia de Ebansok, José ouviu falar de Cristo pela primeira na cidade costeira de Bata, onde habitualmente vendia o café que produzia no seu terreno. No mercado local, aproximar-se-ia dele um missionário claretiano que lhe ensinaria a rezar o Terço. José percebeu que após aquela oração com o sacerdote algo mudara na sua vida. Ao regressar à aldeia, decidiu partilhar com os conterrâneos o que aprendera. E como estes queriam saber mais sobre essa oração, ele falou-lhes do europeu que encontrara em Bata, o qual gostaria de convidar para sua casa. E assim foi! José procurou o missionário em Bata e informou-o do interesse do seu povo na aprendizagem do Terço. E, já agora, queria que ele lhe explicasse quem era essa Maria para a qual rezavam… Foi assim que os missionários claretianos chegaram a Ebansok. “Não havia estradas na altura”, sublinha D. Miguel Angel. Foi, pois, uma viagem perigosa de 125 quilómetros a pé através de densa floresta e num território com tribos em conflito. José não só conseguiu que toda a sua gente acolhesse o Evangelho como também aceitasse o “homem branco”, até então considerado hostil, pois era “o colono que maltratava e oprimia”.

Anos depois do início da missão, Esono começou a criticar os conterrâneos pelo facto de continuarem a recorrer a amuletos após as orações a Jesus e a Maria, pedindo-lhes que lhe entregassem esses objectos, pois queria queimá-los. Indignado, o chefe da aldeia não só recusou o pedido como o acusou de querer subverter a tradição. “O cacique não mais o via como o catequista que os ensinara a rezar, mas sim como alguém que pretendia extirpá-los daquilo que os seus antepassados lhes haviam deixado”, conta D. Miguel Angel. Acusado de bruxaria, José Si Esono foi queimado vivo na fogueira, deixando com o seu martírio um testemunho de fé inabalável. Foi ele que, com o seu exemplo, conseguiu que a evangelização penetrasse em tais paragens. Ainda hoje são os catequistas que alimentam o elo fundamental. “O catequista não é apenas aquele que dá Catecismo ou a formação, tendo em vista a preparação para os sacramentos. Ele é sobretudo o líder da comunidade cristã. Sem catequistas não haveria fé”, explica.

Na diocese a cargo de D. Miguel Angel existem apenas 46 sacerdotes e é difícil atender às mais de 347 capelas existentes. Daí a importância dos catequistas, que continuam o trabalho da celebração da Palavra ao Domingo ou de animação da vida de oração no seio da comunidade durante o resto da semana. Na Guiné, a actividade do catequista é voluntária; para eles é importante dedicar grande parte da sua vida a Deus Nosso Senhor. Quanto às vocações para o Sacerdócio, elas não faltam; e o Seminário Maior de Bata está lá para as acolher. De cerca de quarenta cresceu para noventa o número de seminaristas, em apenas alguns anos. As instalações tornaram-se, portanto, demasiado pequenas e já não conseguem satisfazer as necessidades do crescente número de candidatos. D. Miguel Angel lança o apelo: “Necessitamos urgentemente de mais espaços e instalações para poder oferecer uma formação adequada aos futuros sacerdotes”.

Joaquim Magalhães de Castro

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