Lento em zangar-se
No seu livro, “Desafios e Esperança, Histórias da Igreja Católica na China”, o cardeal D. John Tong conta-nos a história de um padre, que antes da implantação do Comunismo tinha uma paróquia com 200 crentes católicos.
“Algum tempo depois de 1949”, escreveu o cardeal, “deixou de ser autorizado a trabalhar como padre. Em troca, foi destacado para o transporte de carvão. O que era um trabalho muito duro para um homem educado, que não estava acostumado ao trabalho manual pesado”.
De início não compreendeu porque Deus tinha deixado que acontecesse o que lhe estava a acontecer. Mas, em vez de ceder à raiva e à auto-comiseração, decidiu fazer o seu trabalho mansamente.
“Finalmente, nos anos 80 do século passado, foi autorizado a regressar à sua igreja e retomar o Ministério Sacramental”, continuou o cardeal, “mas apenas podia pregar e rezar dentro da área pertencente à igreja. Apesar disso, uma multidão de 800 pessoas aglomeram-se agora nessa igreja, todos os fins de semana…”.
Jesus ensinou-nos: «Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra (Mateus 5:5)». A mansidão ajuda-nos a moderar e a controlar a nossa raiva. A mansidão ajuda-nos a conquistar corações.
O padre Salvador Canals escreveu: “Todos nós pensamos que é melhor e mais fácil fazer bem, sendo barulhentos e autoritários; que as pessoas podem ser ensinadas com ameaças e pressões; que o respeito se consegue apenas com levantar-se a voz e sendo-se autoritário” (In “Ascética Meditada”). No entanto, o Senhor Jesus, ensinando ou corrigindo os seus discípulos, disse: «Não há de quebrar a cana fendida, nem apagar a mecha que fumega (Mateus12:20, citando Isaías 42:3)». Em vez disso, Ele trata-os como amigos (cf João 15:15).
São Josemaría ensinou-nos que “o bom pastor não necessita de atemorizar as ovelhas” (Sulco 404). Disse-nos que o Apostolado Cristão constrói-se com amizade e confiança.
Mesmo quando temos que corrigir alguém que está errado, precisamos de ser gentis e amistosos, precisamos de moderar a nossa impaciência. “Quantas vezes a experiência nos ensinou”, referiu o padre Canals, “que as correcções e as censuras, se feitas sem uma abordagem mansa e humana, fecham o coração da pessoa que as deve receber. Este facto ajuda-nos a lembrarmo-nos que, quando deixamos de ser um pai, irmão ou amigo para com o nosso próximo, toda e qualquer palavra que saia da nossa boca carrega com ela o germe da esterilidade”.
A Boa Nova só pode ser disseminada através da amizade e da confiança. “Meu amigo, sentes nos teus ombros a responsabilidade sobre outras almas, o peso de outras vidas: nunca te esqueças que a confiança não pode ser imposta; deve ser inspirada e conquistada. E sem a confiança das pessoas que te rodeiam, que trabalham contigo e te servem, quão amarga será a tua vida e infrutífera a tua missão”. (“Ascética Meditada”). Quão amiúde nós gostaríamos que Deus corrigisse os maus comportamentos, invocando o fogo e enxofre do céu para castigar o prevaricador. Mas Nosso Senhor disse que essa não é a sua forma de agir (cf Lucas 9:55).
“O teu mau humor, a tua aspereza, a tua rigidez (não muito cristã!) é a razão de te encontrares só, na solidão de alguém que é egoísta, amargurado, eternamente descontente ou ressentido com tudo; assim é também porque estás cercado, não por amor, mas por indiferença, frieza, ressentimento e falta de confiança ” (“Ascética Meditada”).
Qual é o fruto da mansidão? “Quando tu tens nas tuas mãos os corações das pessoas que queres melhorar, e estiveres em condições de as atrair com a mansidão de Cristo, já fizeste, pelo menos, metade do teu caminho apostólico. Quando eles te amarem e confiarem em ti, quando se sentirem contentes, o terreno está pronto a ser semeado. Porque os seus corações estarão como o terreno fértil, pronto a receber o grão branco das tuas palavras de apóstolo e educador. Se souberes como falar sem magoar, apesar de teres que corrigir ou reprimir, os seus corações não se fecharão à tua palavra. A semente cairá em terreno fértil e a colheita será abundante” (“Ascética Meditada”).
Ó Jesus, manso e humilde de coração, faz os nossos corações assemelharem-se ao Vosso.
Pe. José Mario Mandía