Em não nos levarmos muito a sério
Era mais uma daquelas audiências de quarta-feira em Castel Gandolfo, durante o primeiro ano como Papa, em 2005. Bento XVI estava de saída para o encontro do Dia Mundial da Juventude, na cidade de Colónia (Alemanha), e estava a dirigir-se à multidão que o aplaudia continuamente. Depois de se ter despedido em várias línguas e de os convidar a irem ao encontro do Dia Mundial da Juventude, despediu-se com um aceno final e virou-lhes as costas para sair.
Poucos segundos depois, voltava sorrindo e reconhecendo: «Esqueci-me de cumprimentar os Italianos!», e ele e a multidão riram.
Depois de se dirigir aos italianos, acenou novamente e desapareceu, mas apenas alguns segundos, pois regressou mais divertido que nunca. «Esqueci-me do mais importante. Esqueci-me de vos Abençoar». Mais gargalhadas.
O Papa Bento XVI disse numa entrevista: «De vez em quando Deus dá-nos uma palmadinha amigável e diz-nos: “Não te leves demasiado a sério!”».
O orgulho faz com que as pessoas pensem que são como Deus (cf Génese 3:5) e com isso não brincam com Deus; uma pessoa orgulhosa odeia ser alvo de risadas ou ridicularizada. “O pagão esforça-se para ser contido, auto-suficiente, satisfeito e obcecado de si próprio. O Santo encontra toda a sua suficiência em Cristo, apenas, e não precisa de mais nada para si. Não há caminho mais seguro para a perdição do que tomarmo-nos a nós próprios demasiado a sério” (Francis Randolph, “Wisdom at Play”).
Santa Teresa de Ávila rezava assim: “Livrai-nos, Senhor, dos santos de cara triste”.
São João XXIII visitou um hospital em Roma, o Hospital do Espírito Santo. Pouco depois de ter entrado no edifício foi apresentado a uma religiosa que dirigia o hospital.
«Santo Padre», disse ela, «sou a superiora do Espírito Santo».
«Tem muita sorte», disse o Papa: «Eu sou apenas o Vigário de Cristo».
Numa das suas cartas, onde falava longamente sobre a oração, Santa Teresa de Ávila acabava dizendo: “Parece-me que consegui explicar este assunto, mas talvez o tenha tornado mais claro apenas para mim”.
Enquanto a doença de Parkinson do Papa João Paulo II progredia, os jornalistas perguntavam-lhe muitas vezes como se sentia. Numa ocasião, respondeu: «Do pescoço para cima, nada mal». Noutra altura, disse: «De facto não sei. Ainda não li os jornais». (Referia-se ao facto dos jornais estarem sempre a especular com o seu estado de saúde).
Mesmo do ponto de vista humano, o sentido do humor é muito importante. “Não deixamos de rir porque envelhecemos. Envelhecemos porque deixamos de rir” (Michael Pritchard). Há estudos que parecem mostrar que o riso é bom para a saúde.
Algumas pessoas podem contrapor que os Evangelhos nunca falam sobre o sorriso ou riso de Jesus. Mas o padre Joseph Soria, no seu livro sobre São Josemaría (“Maestro de buen humor”, “Mestre de Bom Humor”, ou “Professor de Bom Humor”) dá-nos uma explicação razoável: Jesus de facto sorria sempre, mas se os Evangelhos tivessem referido esse facto, teriam que o repetir muitas vezes… «E Jesus sorriu, e disse…».
Se Jesus estivesse sempre sério e solene, as crianças não gostariam de se aproximar Dele (cf Mateus 19:14, Marcos 10:14, Lucas 18:16), mas elas aproximaram-se Dele.
Quando se dirigiu à Cúria Romana, poucos dias antes do Natal de 2014, o Papa Francisco lembrou a todos: «Um pouco de bom humor é muito bom para nós! Faria-nos muito bem rezar frequentemente a oração de São Tomás More: Eu rezo-a todos os dias, e isso ajuda-me muito».
Assim, vamos rezar com o Santo Padre:
“Concedei-me, Senhor, uma boa digestão e também algo para digerir.”
“Concedei-me um corpo saudável e o necessário bom humor para o manter.”
“Concedei-me uma alma simples que saiba reconhecer tudo o que é bom e que não se amedronte facilmente em face do mal. Antes pelo contrário encontre os meios de pôr as coisas de volta nos seus lugares.”
“Dai-me, Senhor, uma alma que não conheça o tédio, os resmungos, suspiros e lamentos, nem os excessos de ‘stress’ devido a essa coisa chamada ‘EU’.”
“Concedei-me, Senhor, o sentido do bom humor.”
“Permiti-me a graça de ser capaz de receber uma piada para descobrir na vida um pouco de alegria e ser capaz de a partilhar com os outros.”
Pe. José Mario Mandía