Chamada para a Grandiosidade (24)

A Paz Interior: Fruto da Humildade

O beato Álvaro del Portillo era visto, por quem o conhecia, como o cúmulo da serenidade. Uma história da sua juventude demonstra bem essa característica.

Quando ainda era um jovem estudante de engenharia, o seu irmão mais novo, Carlos, derrubou acidentalmente um frasco de tinta sobre alguns desenhos que Álvaro tinha estado a fazer. Naturalmente, Carlos ficou apreensivo sobre qual seria a reacção do irmão.

No entanto, para sua surpresa, quando Álvaro chegou a casa, sentou Carlos no seu colo, explicou-lhe quão importante era aquele projecto e gentilmente avisou o irmão para ser mas cuidadoso da próxima vez. Apenas isso!

Uma das consequências da humildade é uma paz interior e serenidade mais profundas. E por que é assim?

A explicação é bastante simples. A humildade faz-nos reconhecer a nossa pequenês e mostra-nos a grandiosidade de Deus. Faz-nos verificar que somos crianças e leva a colocarmo-nos nas mãos de Deus Nosso Pai.

Santa Teresa de Ávila dizia: «quien a Dios tiene nada le falta – sólo Dios basta» (quem Deus tem, nada lhe falta – apenas Deus é suficiente).

A pessoa que aceite a sua pequenez é como um bebé que dorme seguro e protegido nos braços da mãe. «Estou sossegado e tranquilo, como criança saciada ao colo da mãe; a minha alma é como uma criança saciada! (Salmo 131:2)».

Significa este facto que renunciamos a todas as responsabilidades? De maneira nenhuma. Queremos ser crianças, mas crianças responsáveis. Assim daremos o nosso melhor para cumprirmos os nossos deveres, mas deixando que Deus decida os resultados.

Por outro lado, o orgulho que não nos deixa ver a verdade leva-nos a pensar que temos que estar sempre no controlo dos acontecimentos.

Leva-nos a pensar que todos, incluindo Deus, devem fazer o que dizemos. O que, na realidade, é uma grande ilusão.

O orgulho faz-nos preocupados e apreensivos, gastando as nossas energias em coisas que estão fora do nosso controlo.

O orgulho faz-nos ficar irritados quando algo não corre como nós queremos.

O orgulho gera ansiedade, raiva.

Mas a humildade gera a Paz.

Uma pessoa que tenta ser humilde é como as águas profundas: mesmo que a tempestade se desenrole violentamente à superfície, a calma mantém-se nas profundezas.

A humildade lembra-nos que somos um instrumento nas mãos de Deus. O nosso papel é estarmos disponíveis, sempre e quando Deus precisar de nós, durante o tempo que Deus necessitar, e deixar que Deus tome conta dos resultados.

Durante a Reforma Protestante no século XVI, São Francisco de Sales, um homem paciente e pacífico, decidiu ir até à Suíça, onde todos se tinham convertido ao Calvinismo, para tentar trazê-los de volta para a Fé Católica.

Ninguém se deixou convencer. Pensaram que estava louco. Apenas um primo o acompanhou na viagem. O pai pensou que ele tinha enlouquecido e recusou dar-lhe qualquer tipo de ajuda. A Diocese era muito pobre para poder mantê-lo.

Durante três anos vagueou pelos campos. As pessoas fechavam-lhe a porta na cara e apedrejavam-no. Nos frígidos Invernos da Suíça, os pés congelavam tão terrivelmente que sangravam enquanto abria caminho na neve. Não tinha um lugar para dormir. Uma vez dormiu numa árvore para se proteger dos lobos, amarrou-se a um dos ramos da árvore para não cair e na manhã seguinte estava tão enregelado que teve que ser “cortado” da árvore.

Ao fim de três anos o primo deixou-o e ele ainda não tinha conseguido nenhuma conversão. Mas mantinha a calma.

Como ninguém lhe abria a porta, escrevia os sermões, copiava-os à mão e passava-os por debaixo das portas para dentro das casas. Falemos de “marketing” de porta em porta! E como os adultos não falavam com ele, ele falava com as crianças.

O resultado? Quando voltou para casa tinha convertido 40 mil pessoas ao Catolicismo.

Pe. José Mario Mandía

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