Chamada para a Grandiosidade (22)

Não para ser servido

A história que se segue foi publicada por Pino Corrias na revista Vanity Fair, pouco tempo depois da eleição do Papa Francisco.

“Há poucas manhãs atrás, indo pelo corredor, o Papa descobriu do lado de fora da sua porta um guarda-suiço de pé, com a sua alabarda em posição de sentido.

Perguntou: ‘O que faz aqui? Esteve de pé toda a noite?’

‘Sim’, respondeu o guarda com deferência.

‘De pé?’

‘Substituí um meu companheiro’.

‘Não está cansado?’

‘É o meu dever, Sua Santidade, para sua segurança’.

O Papa Francisco olhou para o guarda com um certo carinho. Voltou para o seu quarto e um minuto depois regressou com uma cadeira nas mãos. ‘Pelo menos sente-se e descanse’.

O guarda arregalou os olhos: ‘Perdoe-me, mas não posso! O regulamento não o permite’.

‘O regulamento?’

‘O meu capitão’.

‘Ah sim? Bem, Eu sou o Papa, e peço-lhe para se sentar’.

Assim, entre o regulamento e o Papa, o guarda-suiço escolheu a cadeira. E também aceitou a sandes de geleia que o próprio Papa lhe levou, com o seu sorriso argentino. Antes que o guarda pudesse dizer alguma coisa o Papa desejou-lhe um bom apetite: ‘Bom apetite irmão’”.

Jesus disse: «O filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir (Mateus 20:28) e Ele ensinou aos Seus seguidores: “Aprendam comigo: porque Eu sou manso e de coração humilde” (Mateus 11:29)».

Os “humildes de coração” procuram servir, e não esperam ser servidos. A humildade trás com ela, necessariamente, não só o espírito de oração (conforme vimos da última vez) mas também o espírito de servir.

Um homem que se esforça para ser humilde reza e também serve (eu disse que se “esforça para ser humilde”, porque enquanto estivermos aqui, na terra, nunca poderemos vangloriar-nos conclusivamente e dizer: “Oh, graças a Deus, eu sou humilde!”).

Um homem que se esforça para ser humilde pensa pouco em si próprio e preocupa-se, com o coração e a alma, em Deus e nos outros.

Uma pessoa humilde rapidamente detecta as oportunidades para servir. Não espera que lhe peçam. Nossa Senhora, um modelo de humildade, nas bodas de Canaã, verificou que o vinho estava a acabar e fez algo para remediar a situação.

O verdadeiro servidor não descrimina. Na Última Ceia, Jesus, mesmo sabendo que Judas o trairia, e Pedro o negaria, lavou-lhes os pés, como aos outros.

O verdadeiro serviço nasce de um amor que não precisa de uma factura, de um reconhecimento do serviço prestado. Depois de Jesus ter transformado a água em vinho, Nossa Senhora não começou a contar, a todos, o milagre que acontecera e como Ela tinha ajudado a que isso acontecesse.

O verdadeiro serviço não chama a atenção sobre si próprio, não procura reconhecimento ou aplausos. E não faz uma “festa” do favor que acabou de prestar; apenas deseja dar maior glória a Deus: «Ele (Deus) deve aumentar, eu devo diminuir (João 3:30)».

O Verdadeiro Serviço é apanágio dos grandes líderes, cujo o objectivo não é tornarem-se grandiosos perante os homens, mas conduzir os seus homens à grandiosidade.

Monsenhor Vincent Tran Ngoc Thu, um dos secretários de São João Paulo II, disse que o Papa podia facilmente pegar no telefone e chamar qualquer um dos seus secretários, sempre que pudesse necessitar de alguma coisa. Mas raramente usou o telefone. Sempre que precisava de algo ia ao escritório da pessoa com quem queria falar.

Os cardeais que elegeram o Papa Bento XVI recordam como eles se comoveram com o seu discretíssimo serviço durante as reuniões que antecederam o conclave (reunião de cardeais para a eleição do Papa). Os cardeais estavam divididos em grupos, por línguas, e aconteceu que o futuro Papa Bento XVI era o Coordenador dos Cardeais e tinha que presidir aos encontros. Quando falava para um grupo o futuro Papa fazia-o nas suas próprias línguas. Não admira que os cardeais verificassem que ele seria o Pastor ideal para toda a Igreja. Porque quem quer que saiba como servir, sabe como liderar.

Pe. José Mario Mandía

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