Iniciação musical gratuita no Luxemburgo
Nesta nossa primeira Primavera no Luxemburgo, a sensação que temos é que o País tem mais para oferecer do que aquilo que poderíamos esperar. Aliás, fomos crescendo ouvindo de quem aqui vive há vários anos que as opções eram reduzidas. No entanto, talvez por ser tudo novidade, temos a sensação que a oferta é diversificada e para todos os gostos.
Diariamente recebemos, por correio ou email, informações sobre dezenas de eventos culturais. Exposições, ateliês, concertos, são apenas alguns dos exemplos que nos podem ocupar de manhã à noite e de segunda-feira a Domingo. Opções para todos os gostos e para todas as idades.
Na passada semana, o Governo anunciou que a iniciação musical passa a ser gratuita, em todo o território nacional, nas escolas de música e conservatórios. Segundo apurámos, a iniciativa é única no mundo e demonstra um esforço enorme por parte de quem lidera o País em oferecer acesso à cultura a todas as franjas da população. Até ao momento, havia o sentimento generalizado de que a cultura, especialmente a musical, era apenas acessível aos mais afortunados. De acordo com o Imprensa local, esta situação sempre incomodou a classe política, que agora deu um passo na direcção certa.
Nós próprios vamos aproveitar esta “promoção” e inscrever a Maria numa escola de música, para poder continuar as aulas de violino que havia iniciado em Portugal.
Entretanto, a chegada do bom tempo trouxe uma oferta cultural ao ar livre que nos surpreendeu. Basta prestarmos atenção no trajecto entre a nossa casa e a capital para nos apercebermos que diariamente são realizados eventos, uns previamente organizados, outros mais espontâneos.
Para quem pensa que os arraiais populares são coisa do Sul da Europa, mais concretamente em Portugal, desengane-se. Aqui também não há falta deles! Todas as aldeias e vilas organizam as suas festas e romarias, que atraem centenas de pessoas e são aproveitadas pelos locais como justificação para sair de casa e confraternizar ao ar livre. Para ser um arraial bem português, só faltam as sardinhas!
É raro o dia em que não existe um mercado de rua numas das muitas aldeias espalhadas pelo País ou um outro qualquer evento que leva as pessoas a deixar o interior das suas habitações. O bom tempo ajuda, claro, o que aliado a uma oferta diversificada contribui para que a vida no exterior pareça agora mais activa do que nos meses frios.
Olhando as agendas culturais que fomos guardando desde que aqui chegámos, rapidamente podemos concluir que a única diferença é que agora a vida é feita mais no exterior, pois o tempo a isso convida. O número de eventos e a diversidade da oferta cultural é praticamente a mesma do que no Inverno, sendo apenas mais visível para o cidadão menos atento.
Nos locais que já visitámos, incluindo aqueles que vos temos descrito, não pagámos bilhete de entrada. Esta é mais uma das situações que nos surpreendeu, contribuindo para que tenhamos visitado tudo o que encontrámos. É que na nossa família sempre seguimos a política de não pagar aquando da visita a monumentos ou espaços culturais. Consideramos, pois, que tais lugares devem ser de livre acesso para que todos – sem excepção – possam usufruir.
Felizmente, mesmos nos países onde se paga para visitar museus e afins (Portugal é um desses exemplos…) há sempre dias gratuitos e como tal organizamos sempre as nossas visitas para o efeito.
Já fomos criticados várias vezes por mantermos esta postura, por pensarem que não queremos gastar dinheiro naquilo que é importante. No entanto, não é essa a razão. Apenas defendemos que a cultura deve estar ao alcance de todos. Se for a pagar deixa de ser cultura para ser um mero negócio, sendo que apenas quem tem dinheiro pode dela usufruir. Claro que temos a noção que nada é linear na vida, mas queremos continuar coerentes com a nossa forma de pensar e agir.
Assim, preferimos fazer um donativo ou comprar um qualquer “recuerdo” nas lojas dos museus ou dos monumentos, ao invés de pagar bilhete de entrada.
João Santos Gomes