CARLOS ANOK CABRAL, DIRIGENTE DA CONFRARIA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO DE FÁTIMA

CARLOS ANOK CABRAL, DIRIGENTE DA CONFRARIA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO DE FÁTIMA

«Muitos católicos chineses virão a Macau para ver as relíquias»

Depois da igreja de Nossa Senhora de Fátima, a igreja da Sé Catedral. O bispo D. Stephen Lee presidiu, ao final da tarde de ontem, à cerimónia de entronização de um conjunto de relíquias de Santa Jacinta e de São Francisco Marto. Os objectos sagrados – fragmentos dos caixões em que os Santos Pastorinhos foram sepultados – foram transportados para Macau por Carlos Anok Cabral. O dirigente da Confraria de Nossa Senhora do Rosário de Fátima foi à Cova da Iria com o propósito de recolher um conjunto de relíquias. Regressou a Macau com dois! Em entrevista a’O CLARIM, o reputado chefe macaense explica como se desenrolou o processo.

O CLARIM– Há um significado muito especial na vinda destas relíquias para Macau. Estes objectos sagrados podem contribuir para o reforço da devoção mariana no território?

CARLOS ANOK CABRAL –Dentro do Santuário de Fátima há uma capela para cuja construção os católicos macaenses contribuíram. O bom relacionamento que o Santuário de Fátima mantém com os católicos de Macau data dessa altura. Mas mesmo antes disso, aquando da criação da paróquia de Nossa Senhora de Fátima, aqui em Macau, o Santuário e o então bispo de Leiria ofereceram a imagem de Nossa Senhora de Fátima que está hoje na Paróquia. O novo pároco de Fátima, o padre Michael Cheung, que chegou a Macau há cerca de dois anos e tal, sempre alimentou a intenção de solicitar as relíquias dos Pastorinhos. Porquê? Uma vez que a Paróquia tem como padroeira Nossa Senhora de Fátima, que há cada vez mais católicos chineses devotos da Virgem do Rosário de Fátima e que os Pastorinhos foram canonizados em 2017, o padre Cheung foi falar com o bispo D. Stephen Lee e disse-lhe que gostava de perceber, junto do Santuário de Fátima, se existia a possibilidade da Paróquia solicitar relíquias de Santa Jacinta e de São Francisco Marto. O Bispo falou com o padre Michael Cheung e disse-lhe para falar comigo. Naquela altura eu também não conhecia o padre Cheung. Foi através do padre Cyrill [Jerome Law, Jr.] que estabeleci contacto com o padre Michael e que tive, então, a oportunidade de ficar a conhecer melhor o projecto que ele concebeu e o que pretendia ao certo.

CL– Foi um processo difícil? Qual foi a resposta do Santuário e da Postulação de Francisco e Jacinta Marto?

C.A.C. –Nós não sabíamos de todo que, afinal de contas, a concessão das relíquias estava a cargo da Postulação de Francisco e Jacinta Marto. Cuidávamos que era o Santuário de Fátima que tinha essa responsabilidade. O reitor reencaminhou esse pedido para a Postulação, que acedeu de pronto ao pedido e se mostrou disponível para conceder essas duas relíquias à paróquia de Nossa Senhora de Fátima. O processo de aprovação demorou, mais ou menos, entre dez a quinze dias. Entretanto, num acto de gentileza, o reitor do Santuário de Fátima, o padre Carlos Cabecinhas, ofereceu as duas imagens dos Pastorinhos que foram abençoadas no Domingo passado, na paróquia de Nossa Senhora de Fátima.

CL– As imagens foram, então, oferecidas pelo Santuário?

C.A.C. – As imagens foram oferecidas pelo Santuário. As relíquias foram concedidas pela Postulação de Francisco e Jacinta Marto. No dia 9 de Julho, se não me engano, dirigi-me ao Secretariado da Postulação para levantar as primeiras relíquias, as que foram solicitadas pela paróquia de Nossa Senhora de Fátima. Entretanto, quando fui recebido pelo Secretariado, entregaram as relíquias e nós registamos o momento com uma fotografia; e ocorreu-me, em conversa com a responsável pela Postulação, perguntar se não existiria a possibilidade de obter mais um conjunto de relíquias para a paróquia da Sé Catedral (…). A resposta do Secretariado foi muito rápida. Foi-me dito para falar com o Bispo, porque, da parte da Postulação, havia a disponibilidade para conceder mais um conjunto de relíquias, desta feita para a paróquia da Sé Catedral. Para isso, bastaria que fosse feito um pedido formal e, uma vez que eu estava em Portugal, podia também trazer para Macau esse conjunto de relíquias.

CL– De repente, deu por si como guardião de dois conjuntos de relíquias. É uma grande responsabilidade, até do ponto de vista espiritual?

C.A.C. – Sim. Em primeiro lugar porque nunca pensei que tal fosse possível. Nunca pensei que conseguíssemos as relíquias. Mas ainda fizemos um outro pedido ao reitor do Santuário de Fátima, por causa das orações dos Pastorinhos. Eu e a Cecília Xavier, irmã do falecido cónego Luís Lei Xavier, falámos com a secretária pessoal do reitor do Santuário e o que lhe dissemos é que tínhamos pena que o Santuário tivesse apenas sete línguas oficiais. Disse-lhes que em Portugal não se conseguia encontrar nenhuma pagela em língua chinesa. No Santuário há pagelas em Francês, Alemão, Italiano, Espanhol e Polaco, mas não se consegue encontrar nada em Chinês. Explique a razão porque havia a necessidade de incluir a tradução em Chinês. Mais tarde enviámos um pedido…

CL– Há a possibilidade, então, de a língua chinesa poder vir a ter uma maior representatividade no Santuário de Fátima?

C.A.C. – Fizemos um pedido nesse sentido, para que a língua chinesa seja considerada como língua oficial no Santuário de Fátima. Entretanto, já demos um primeiro passo e a oração aos Pastorinhos, cujas pagelas estão em Português, Inglês e em várias línguas, tem já uma tradução em Chinês. Traduzimos a oração para Chinês e enviámos para o Santuário de Fátima, e a Comissão responsável pela preparação das pagelas aprovou a tradução e equiparou-a a uma tradução oficial do Santuário. O que quer isto dizer? Quer dizer que temos legitimidade e autorização para que esta oração, traduzia para língua chinesa, seja reproduzida e divulgada através da paróquia de Nossa Senhora de Fátima. O Santuário concedeu todos os direitos à Paróquia para a impressão das pagelas dessa oração em língua chinesa, para que sejam distribuídas aqui em Macau.

CL– Acredita que, com a vinda destes dois conjuntos de relíquias, Macau se pode tornar um centro de peregrinação para os católicos chineses?

C.A.C. –Penso que muitos desses católicos, depois da pandemia de Covid-19 estabilizar e das restrições na fronteira com a China continental diminuírem, virão a Macau para ver as relíquias dos Santos Pastorinhos. Isto é algo que me parece que vai acontecer. Há residentes que têm relações de parentesco com a China continental e, por isso, há já algumas pessoas na China que sabem que chegaram aqui a Macau dois conjuntos de relíquias dos Santos Pastorinhos (…). Acredito que muitos católicos da China continental virão a Macau para tentar perceber de que relíquias se trata, embora as relíquias não sejam relíquias de primeira classe….

Marco Carvalho

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *