Lembrar os mártires da região amazónica
Entre 10 e 15 de Novembro decorreu em Manaus, no coração da Amazónia brasileira, o V Congresso Missionário Nacional, evento que reuniu mil e 200 religiosos de todo o País, motivados pelos lemas “Ide! Da Igreja local até aos confins do mundo” e “Corações ardentes, pés no caminho”. Este congresso serviu, no fim de contas, de introito ao VI Congresso Missionário Americano (CAM 6), que terá lugar em Porto Rico, de 19 a 24 de Novembro de 2024.
Organizado pelas Pontifícias Obras Missionárias do Brasil, em conjunto com o Conselho Missionário Nacional e com o apoio da arquidiocese de Manaus, o evento abriu com Missa Solene e contou com palestras, debates, oficinas, trabalhos de grupo temáticos e momentos de oração, que foram alternando com várias visitas missionárias às comunidades locais.
“Receber”, “ouvir”, “esclarecer”, “partilhar” e “proclamar” foram as palavras-chave que, em ordem cronológica, caracterizaram o Congresso, havendo a destacar as palestras diárias que aprofundaram a espiritualidade missionária através da reflexão e do diálogo, e pretenderam demonstrar, no âmbito do Congresso, como viver o Evangelho intensamente. “Da Amazónia aos confins do mundo”, “A responsabilidade da Igreja local pela Missão Universal” e “As Pontifícias Obras Missionárias (POM) ao serviço da Missão Universal da Igreja” foram algumas das palestras proferidas, a última das quais da responsabilidade da irmã Regina da Costa Pedro, Directora Nacional das Pontifícias Obras Missionárias no Brasil.
A fé, o espírito de missão universalista e a ajuda material formam a base do “carisma fundacional das POM” e orientam os Congressos Missionários na América, carisma esse que contribui para despertar a consciência missionária universal naquele continente. Os Congressos não pretendem ser um mero evento, antes “um processo que visa encorajar um novo fervor missionário nas Igrejas locais”. E isso é conseguido através da reflexão missiológica, recorrendo a “textos-base norteadores”, simpósios, fóruns e congressos regionais. Estes, no seu percurso preparatório, abordam a identidade missionária da Igreja orientada para a missão universal. Ou seja, os Congressos Missionários têm no seu ADN a Missio Ad Gentes, “paradigma de todo o trabalho da Igreja”, nas palavras de D. Maurício da Silva Jardim, presidente da Comissão para a Missão e Cooperação Intereclesial da Conferência Episcopal Brasileira.
Ad Gentes (Às Nações) é um decreto do Concílio Vaticano II sobre a actividade missionária que reafirma a necessidade das missões e da “salvação em Cristo”. O documento estabelece a evangelização como um dos objectivos fundamentais da Igreja Católica e reafirma o vínculo entre a evangelização e a caridade para com os pobres. Ad Gentes apela ainda à “formação de comunidades cristãs fortes” e estabelece directrizes para a formação e actuação dos missionários.
Embora a consciência missionária dos crentes tenha amadurecido nas últimas décadas, no que diz respeito à Ad Gentes ainda é necessário maior zelo e compromisso. Seja por falta de conhecimento, negligência, excesso de actividades pastorais ou por qualquer outro motivo, é evidente que grande parte das Igrejas locais na América ainda não adoptou uma abordagem Ad Gentes.
De entre os objectivos específicos há a destacar, entre outros: o conhecimento de novos caminhos de actuação missionária a partir da experiência evangelizadora da Igreja na Amazónia; a promoção da reflexão sobre a consciência e a acção missionária das Igrejas locais e a implementação do Programa Missionário Nacional.
“Estou convencido de que os Congressos Missionários têm sido um ‘kairos’ (momento certo) para as Igrejas locais na América e no Brasil. Porém, há um longo caminho a percorrer, enfrentando muitas vezes dificuldades e resistências na hora de assumir a missão Ad/Inter Gentes”, afirmou à agência noticiosa FIDES o presidente da Comissão para a Missão e Cooperação Intereclesial da Conferência Episcopal Brasileira, D. Maurício da Silva Jardim.
No âmbito do Congresso, inúmeros fiéis participaram numa peregrinação “em honra dos Mártires da Região Amazónica”, lembrando todos aqueles, conhecidos e menos conhecidos, que “sacrificaram as suas vidas pelo povo da floresta, pelo cuidado da casa comum, até ao fim”, em toda a América do Sul.
Durante a homilia inaugural, celebrada no mesmo local onde São João Paulo II celebrou a Santa Missa por ocasião de sua visita a Manaus, D. Maurício Jardim recordou as palavras do Papa Francisco na Mensagem para o Dia Mundial das Missões 2018, e enfatizou: “Neste Congresso sonhamos revitalizar a missão Ad Gentes das nossas Igrejas até aos confins da terra. O Espírito Santo encoraja-nos a avançar no processo de uma genuína conversão missionária”. E, como sinal dessa vontade profunda, continuou: “Busquemos inspiração nos passos dos mártires da região amazónica”.
No final da celebração foi anunciada oficialmente a transferência do missionário brasileiro padre Josemar Silva, da arquidiocese de Florianópolis para a arquidiocese de Nampula, em Moçambique.
Joaquim Magalhães de Castro