Sínodo evoca excluídos e marginalizados na Igreja e na sociedade
O relator-geral da XVI Assembleia Geral do Sínodo apelou, na segunda-feira, ao desenvolvimento de um trabalho de inclusão, para «todos», na Igreja, ao inaugurar a segunda fase dos trabalhos, iniciados a 4 de Outubro.
«Todos são convidados a fazer parte da Igreja. Na Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, o Papa Francisco reiterou as palavras “todos, todos”», disse o cardeal D. Jean-Claude Hollerich, arcebispo do Luxemburgo, perante as centenas de participantes reunidos no Auditório Paulo VI.
A reunião geral marcou o início dos debates em redor do documento de trabalho (Instrumentum laboris), com o tema “uma comunhão que irradia”.
«Estamos dispostos a fazê-lo com grupos que nos podem irritar, porque a sua maneira de ser parece ameaçar a nossa identidade? “Todos”[palavra pronunciada em Português, no discurso feito em Inglês]. Se agirmos como Jesus, estaremos a testemunhar o amor de Deus pelo mundo. Se não o fizermos, pareceremos um clube identitário», apontou o relator-geral.
O arcebispo do Luxemburgo evocou a vigília ecuménica de oração pelo Sínodo, que reuniu representantes de várias Igrejas e comunidades cristãs na Praça de São Pedro, a 30 de Setembro.
«O que é que isto significa para o ecumenismo? Como podemos viver a nossa fé católica de tal forma que a comunhão profunda que sentimos na vigília de oração antes do nosso retiro não seja uma bela excepção, mas se torne uma realidade comum?», questionou.
A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos decorre até 29 de Outubro, com o tema “Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão”; Francisco decidiu, entretanto, que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.
A Conferência Episcopal Portuguesa está representada no Sínodo pelo seu presidente e vice-presidente, D. José Ornelas e D. Virgílio Antunes, respectivamente.
O cardeal D. Jean-Claude Hollerich sublinhou que os primeiros dias de trabalho permitiram que «a Igreja sinodal se tornasse mais nítida como uma visão global».
«É preciso pensar, é preciso reflectir, mas a nossa reflexão não deve tomar a forma de um tratado teológico ou sociológico. Temos de partir de experiências concretas, da nossa experiência pessoal e, sobretudo, da experiência colectiva do Povo de Deus que falou durante a fase de escuta», sustentou.
Os participantes estão sentados, em mesas redondas, nas quais acompanham o desenrolar dos trabalhos, tanto nas reuniões gerais como nos trabalhos de grupo linguísticos (círculos menores), incluindo um de língua portuguesa.
Ao longo desta semana, os grupos são formados “com base nas preferências linguísticas e temáticas”, estando previstas três reuniões gerais para ouvir as comunicações dos círculos menores e para intervenções livres.
Após a intervenção do relator-geral, os participantes ouviram nova reflexão do padre Timothy Radcliffe, religioso dominicano que co-orientou o retiro espiritual preparatório para o Sínodo, entre 30 de Setembro a 3 de Outubro, o qual apelou à formação para «encontros profundamente pessoais uns com os outros», que vão além dos «rótulos fáceis».
«Tantas pessoas sentem-se excluídas ou marginalizadas na nossa Igreja porque lhes impusemos rótulos abstractos», advertiu.
A agenda sinodal começou com a celebração da Missa, na Basílica de São Pedro, sob a presidência do cardeal D. Béchara Boutros Raï, patriarca de Antioquia dos maronitas.
«A situação do mundo de hoje e o sofrimento dos povos, incluindo os pobres, os perdidos, os perseguidos, os rejeitados, os refugiados, as vítimas inocentes das guerras, os perdidos, os sem-abrigo, os feridos na sua dignidade: tudo isto desperta verdadeiramente a compaixão de Cristo, que nos elegeu um a um para plasmar estas feridas e lutar por um mundo melhor, para habitar a nossa casa comum em paz e tranquilidade», referiu o cardeal libanês, na homilia da Eucaristia.
A assembleia sinodal tem 365 votantes – 54 mulheres – a quem se somam, sem direito a voto, doze representantes de outras igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), oito convidados especiais e colaboradores da Secretaria Geral do Sínodo.
Outras 57 pessoas, entre elas vinte mulheres, vão participar como peritos, à imagem do que acontecia no passado, ou “facilitadores”, ou seja, “pessoas especializadas cuja missão é facilitar os trabalhos nas diferentes fases”, sem direito a voto.
Octávio Carmo
Agência ECCLESIA
Igreja «mais capaz de incluir os pobres, os últimos, os afastados»
O secretário-geral do Sínodo, cardeal D. Mario Grech, presidiu, na noite de 7 de Outubro, à recitação do Rosário pelos trabalhos sinodais, pedindo que dos mesmos surja uma mais Igreja «mais capaz de incluir».
«Na primeira fase do caminho, assim como nestes primeiros dias da assembleia, emergiu com força a necessidade de uma Igreja mais capaz de incluir os pobres, os últimos, os afastados, com particular atenção aos migrantes e refugiados, que representam uma urgência do nosso tempo em todos os continentes», disse o responsável da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos.
D. Mario Grech deixou votos de que todos sejam capazes de «alargar os espaços eclesiais» para acolher os migrantes e refugiados, permitindo que possam «contribuir para a missão comum».
«A actual reflexão sobre a sinodalidade não pode deixar de ter como objectivo a missão: a comunhão dos baptizados com Deus e entre si, que se deve manifestar cada vez mais na participação de todos na obra de todos, tem como meta uma Igreja mais extrovertida, mais voltada para os homens e mulheres do nosso tempo, numa palavra, mais missionária», disse ainda.
O “briefing” de sábado contou com a presença do cardeal D. Fridolin Ambongo Besungu, presidente do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagáscar (Secam), segundo o qual «ninguém veio com uma agenda para impor».
O.C.