Diversificação também preocupa Luanda.
Macau assume-se cada vez mais como plataforma privilegiada entre a China e os Países de Língua Portuguesa, refere Belarmino Barbosa. A’O CLARIM, o delegado de Angola no Fórum Macau fala sobre a diversificação económica angolana com o objectivo de fugir à dependência do petróleo e explica a importância do investimento chinês no seu país.
O CLARIM – Angola prepara-se para ter a maior participação de sempre na MIF [Feira Internacional de Macau]. Trata-se de uma aposta clara na RAEM como plataforma entre a China e os Países de Língua Portuguesa?
BELARMINO BARBOSA – É sim, porque o IPIM [Instituto de Promoção do Comércio e Investimento de Macau] resolveu criar uma estrutura um pouco paralela à MIF, ao ter um pavilhão com relevância, como aconteceu no ano passado com Portugal. Este ano a relevância vai para Angola, com a participação de cerca de setenta empresários angolanos. O pavilhão é, realmente, um aporte [contributo] para o projecto de ter Macau como plataforma para o lançamento dos nossos produtos, tanto para Macau, como para a China de um modo geral.
CL – O que Angola tem para oferecer?
B.B. – Temos diversos produtos industriais de fabrico nacional, incluindo alimentares e também de bebidas, tais como sumos, cervejas e vinhos. E há o nosso café! São produtos variados da nossa indústria e da nossa agricultura que podem ter como alvo a China continental, que por sua vez já tem estruturas criadas para a recepção de produtos dos Países de Língua Portuguesa, no sentido de promover e incentivar o intercâmbio comercial entre os vários países.
CL – Será que o Fórum Macau está a ter cada vez mais relevância nas relações entre a China e os PLP? Ou será que ainda há um grande caminho a percorrer?
B.B. – O Fórum Macau está a fazer o trabalho que lhe compete, que é criar uma plataforma que una os Países de Língua Portuguesa num desafio voltado para a economia e para o comércio. Nesse sentido, está a fazer um bom trabalho.
CL – Angola tem passado por um período complicado devido à diminuição do preço do petróleo e às restrições para a aquisição de dólares americanos. A diversificação económica é o caminho apontado. Está a ser difícil?
B.B. – O petróleo ainda é a nossa principal fonte de receitas, mas a diversificação da economia está a ser feita de modo bastante acelerado, contrariando assim algumas opiniões. Como é sabido, o novo Governo foi recentemente empossado. E uma das linhas de força do novo Presidente, Sua Excelência João Lourenço, é exactamente incrementar ainda mais a diversificação da economia. Está patente a ideia de que só com o petróleo não iremos conseguir avançar em direcção a um maior desenvolvimento do País…
CL – Diversificar em que áreas?
B.B. – Essencialmente, na agricultura, na indústria agro-alimentar, nas pescas e no turismo.
CL – E qual é o ponto da situação relativo ao investimento chinês?
B.B. – A China é o maior credor de Angola desde há vários anos. Os financiamentos da China foram para a recuperação do nosso país, que saiu de uma situação de guerra, ajudando-nos na reconstrução de infra-estruturas – estradas, pontes, etc. No início do próximo ano vai provavelmente ser-nos entregue um dos maiores aeroportos de África, o qual contou com financiamento chinês. Outros projectos estão a ser incrementados na agricultura. A China entrou em força. Estão também a ser construídas cidades com financiamento chinês. É muito vasto e diversificado o investimento da China em Angola.
CL – E o investimento de empresários angolanos na China?
B.B. – É muito débil, diria quase nulo. A situação de crise [em Angola] não permite que haja muitos desenvolvimentos neste aspecto. Temos problemas a nível cambial que dificultam a saída de dinheiro para investir aqui. Acredito que o novo Governo irá encontrar uma solução para ajudar os empresários angolanos a expandirem os seus negócios para a China e para outros países.
CL – Angola tem um novo Presidente ao fim de trinta e oito anos. Trata-se de uma herança pesada aquela que foi herdada por João Lourenço?
B.B. – Pesada, não é o termo. Quando fazemos uma análise do género temos que ter sempre em conta o passado. Saímos de uma situação de guerra – para além dos vinte e sete anos de guerra civil, há que somar mais catorze anos de guerra colonial. De uma situação com mais de quarenta anos de guerra, foi preciso reconstruir o País. Para a dimensão que tem… Acredito que, podendo eventualmente fazer-se mais, muita coisa já foi feita. E este Presidente [João Lourenço] irá dar continuidade ao trabalho que já foi feito, ao levar o País adiante através da diversificação económica.
Igreja Católica promove a paz e a unidade nacional (Caixa)
Ao ser convidado a fazer um retrato da Igreja Católica em Angola, Belarmino Barbosa referiu que, «embora seja um país laico, todas as religiões estão admitidas, sendo uma delas a Igreja Católica». No seu entender, «o Governo teve sempre um bom relacionamento com a Igreja Católica», algo que «também aconteceu no período em que Angola abraçou o Socialismo» ou «até mesmo depois do fim da guerra, quando o Governo deu um grande apoio para a recuperação de instalações, como foi o caso das igrejas». Por todas estas razões, Belarmino Barbosa enalteceu «o relacionamento muito bom» entre ambas as partes.
Quanto ao garante da paz em Angola, frisou que a Igreja Católica «é uma das participantes no processo, assim como são muitas outras entidades», lembrando também que «a Igreja Católica tem contribuído muito para a sensibilização das populações de várias províncias no sentido de promover a paz e a unidade nacional».
PEDRO DANIEL OLIVEIRA