BEATO JOÃO MARIA DA CRUZ, SCJ, É HOJE CELEBRADO

BEATO JOÃO MARIA DA CRUZ, SCJ, É HOJE CELEBRADO

Quando a missão fala mais alto

No passado dia 23 de Agosto comemoraram-se os 87 anos do martírio do beato Juan Maria de la Cruz, ou João Maria da Cruz, padre da Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus, que conhecemos como “Padres Dehonianos”. Trata-se, já agora, de uma congregação religiosa clerical de direito pontifício, fundada oficialmente em 28 de Junho de 1878, pelo venerável padre francês León Dehon (1843-1925, primeiro superior geral desde a fundação até à sua morte).

Acolheu esta congregação o padre Mariano García Méndez, presbítero da diocese de Ávila (Espanha), onde se ordenou a 18 de Março de 1916. O padre Mariano, nascido em 25 de Setembro de 1891, em San Esteban de los Patos, província de Ávila, começou a vida eclesiástica como sacerdote diocesano, embora na realidade tenha iniciado o noviciado nos Frades Pregadores (Dominicanos) em 15 de Agosto de 1913, no convento de São Tomás de Ávila, casa de noviciado da Ordem. A vocação para a vida religiosa foi traída pela sua fraca saúde, pelo que deixou os Dominicanos e foi concluir Teologia no Seminário diocesano.

Depois da ordenação sacerdotal em 1916, trabalhou afincadamente em várias paróquias até 1925: Hernansancho e Villanueva de Gómez, posteriormente também em San Juan de la Encinilla. Mas a vocação religiosa, de vida consagrada, esteve sempre acesa no jovem Mariano. A fraca saúde também pesava na sua vida paroquial, retirando-lhe energia para calcorrear as paróquias onde ministrava. Em 1921 foi trabalhar na diocese de Vitória (Gasteiz), no País Basco, sendo capelão dos “Hermanos de la Instrucción Cristiana” (Menesianos, “Irmãos da Instrução Cristã”), fundados como “Frères de l’instruction chrétienne de Ploërmel” (FICP) em 1819, pelo padre Jean-Marie de La Mennais (1780-1860). Esteve assim quase um ano, quando pediu ao bispo diocesano para entrar na Ordem dos Carmelitas Descalços (OCD). Autorizado, inicia o noviciado em Larrea (Vizcaya). Mas a sua saúde mais uma vez o fintou, para mais na ascese e dureza da vida contemplativa do Carmelo. Regressou pouco tempo depois à diocese de origem, Ávila, para a paróquia de Santo Tomé de Zabarcos, corria o ano de 1923. No ano seguinte, em 1924, ficou encarregado da paróquia de Sotillo de las Palomas (Toledo), que estava então em território diocesano de Ávila.

Por motivos militares, tinha de ir frequentemente a Madrid, onde frequentava a igreja das Irmãs Religiosas Reparadoras. Através da madre María del Gran Poder, superiora da comunidade, conheceu, em 1925, o padre Guillermo Zicke, o responsável pela instalação da Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus em Espanha. Perante a inquietação do padre Mariano, o padre Zicke falou-lhe sobre a espiritualidade e forma de vida da Congregação. Acendeu-se então o rastilho dehoniano na vida do padre Mariano, bem como alguma estabilidade espiritual, que tanto procurava.

No dia 31 de Outubro de 1926, depois do postulantado e noviciado, o padre Mariano recebia os primeiros votos, tendo mudado o nome para João Maria da Cruz. A primeira comunidade que integrou foi a de Novelda (Alicante), onde noviciara e professara. Ficou também professor de Religião no Colégio Padre Dehon, em Novelda. Em 1927 foi em peregrinação a Itália, encantando-se com Roma e arrebatando-se nas catacumbas de São Calisto, diante da memória dos mártires. No regresso, assume funções no Seminário dehoniano de Puente la Reina, em Navarra. Até 1936, durante nove anos, será promotor vocacional e angariador de donativos para a sua congregação.

No Verão de 1936, depois de muitas andanças, vai descansar para o antigo convento trinitário junto do Santuário de Nossa Senhora de Tejeda, em Garaballa, diocese de Cuenca. Mas pouco tempo depois de chegar, perante os fortes sinais de guerra (que seria a trágica Guerra Civil de Espanha, 1936-1939) e violência anticlerical, o superior dos Dehonianos de Garaballa, padre Lorenzo Cantó, ordena à comunidade que se espalhasse pela região. Ao padre João Maria cabe-lhe ir para Valência, de autocarro, disfarçado de civil, dirigindo-se para a casa de uma devota benfeitora da Congregação, perto da igreja dos Santos Juanes. Ao passar em frente a esta, que estava a ser incendiada, foi detido e levado para a prisão, onde assumiu que era sacerdote. Esteve preso até 23 de Agosto, de 1936, data em que foi fuzilado, com mais nove companheiros, todos os dez enterrados numa vala comum. Tudo decorreu na localidade de Silla, perto de Valência, na quinta de El Sario, lugar de La Coma.

Em 1940, os restos mortais do padre João foram desenterrados, tendo sido posteriormente transladados para Puenta la Reina (Navarra). A sua beatificação iniciou-se em 1959, processo que culminou em 11 de Março de 2001, quando o Papa João Paulo II proclamou beato o padre João Maria da Cruz, a par de outros mártires espanhóis da Guerra Civil. É celebrado no dia 22 de Setembro. Hoje, portanto.

Vítor Teixeira 

Universidade Fernando Pessoa

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