Se tudo correr bem, conforme o esperado, quando esta crónica for publicada esperamos estar sãos e salvos nas Antilhas Holandesas, mais propriamente na ilha de Curacao. A saída da Martinica foi planeada para o passado sábado, tendo pela frente quatro ou cinco dias de vela com vento ameno e em boa direcção. Seguimos sozinhos – eu, a Maria e o Noel – apesar de termos tentado encontrar companhia para esta etapa.
Os últimos dias em Martinica foram passados a abastecer o veleiro, não só a pensar na viagem até Curacao, mas também com um olho na travessia do Pacífico, a realizar no próximo ano. A nossa “casa” está repleta de vinho, queijos, cerveja, massas, arroz e até sumos portugueses. Isto para além de carnes e enlatados de toda a espécie. A nível técnico, felizmente, está tudo bem, pelo que nada há a registar.
As compras foram tantas que a conta bancária ficou depenada. Como Martinica é o último porto antes de chegarmos às Marquesas, onde iremos encontrar supermercados com produtos europeus, tivemos de aproveitar. Foram quatro viagens de carro e uma de bote para conseguirmos carregar tudo para o interior do veleiro, e dois dias para acondicionar tudo, de forma a que nada se parta. Até um presunto temos arrumado. Será a surpresa de Natal para a NaE, uma confessa apaixonada desta iguaria ibérica. Haverá presunto para muitas semanas. Haja melão e pão fresco, porque vinho já temos!
Durante a estadia em território francês ainda ponderámos adquirir uma vela principal em segunda-mão, como reserva, mas tal não foi possível por falta de verba. Também desistimos de comprar um balão e um pau de balão – itens que nos iriam facilitar a vida na travessia do Pacífico, onde iremos encontrar muito vento de proa. Agora teremos de remediar. Se outros o têm feito, também conseguiremos, com toda a certeza.
Sainte Anne revelou-se bastante reconfortante. Aqui reencontrámos amigos, comemos bem (tanto a bordo como em pequenos restaurantes da vila e noutros locais das redondezas) e o tempo esteve excelente. Chove todos os dias durante a noite. De dia a temperatura é amena, sem muito calor. Infelizmente, com todos os planos de abastecimento, houve pouco tempo para nadar e aproveitar as águas cristalinas. Por outro lado, houve tempo para voltar a visitar Sainte Pierre, a antiga capital da ilha, de que já vos falei anteriormente.
É bom verificar que as pessoas se lembram de nós em todos os estabelecimentos que frequentámos com mais assiduidade na anterior passagem pela ilha. Recordavam-se da Maria e mostravam-se algo intrigados por não verem a NaE.
Presenciámos a chegada e a partida de alguns amigos que fomos fazendo nas águas das Caraíbas. Nesta época do ano arranca a “season”. Todos os barcos estão a voltar à água e a rumar para Norte, nomeadamente para as Ilhas Virgens Britânicas e Saint Martin, onde ficam até Setembro, antes de retornarem para Sul, a fim de se protegerem das tempestades tropicais.
A nossa viagem para as Antilhas Holandesas deverá terminar na ilha de Curacao, visto ser a única onde não se paga ancoradouro. Depois iremos esperar pelos amigos do Gentileza, que irão parar em Bonaire para mergulhar. Ao que parece, a ilha é uma das Mecas do mergulho nas Caraíbas e um dos melhores locais do mundo para o efeito. Como são apaixonados por mergulho, mesmo estando com um prazo de chegada ao Panamá bastante apertado, não querem deixar passar a oportunidade.
Em Curacao esperamos encontrar o D. José, o português que nos acolheu em Luperon, na República Dominicana, quando recebemos o veleiro. Temos mantido contacto, tendo ficado combinado que iria a Curacao, onde viveu quase toda a sua vida profissional, para voltar a estar connosco uns dias. Na impossibilidade de não se conseguir deslocar, visto estar com problemas de saúde, já nos enviou o contacto de um amigo que estará à nossa espera e disponível para tratar de tudo o que for necessário, como se dele próprio se tratasse.
Esperamos que estes dias de navegação em alto mar, a solo – uma novidade para mim – decorram sem grandes problemas. De acordo com os prognósticos de tempo não haverá vento muito forte, nem chuva, assim como o mar deverá estar dentro de níveis bastante aceitáveis. Claro está que nestas coisas da navegação os imprevistos acontecem e as condições mudam de um momento para o outro.
Da minha parte garanto que tudo irei fazer para que cheguemos a bom porto sem problemas. Caso aconteça algo, não hesitarei em pedir ajuda.
Até às Antilhas Holandesas!
JOÃO SANTOS GOMES