As Lições de Belém (2)

Os Pastores não perderam tempo

Estava-se na noite de 14 de Abril de 1912 e o navio efectuava a sua viagem inaugural. Subitamente, o telefone tocou, no interior da ponte de comando, mas o oficial de turno pensou que o que estava a fazer de momento seria mais importante do que atender aquela chamada. Assim, deixou o telefone tocar. Após uns longos três minutos, finalmente, decidiu atender. Quem chamava era o vigia do cesto da gávea.

«Temos um “iceberg” mesmo à nossa frente», gritou o vigia, «invertam as máquinas!».

Porém, já era tarde demais. O Titanic chocou com a muralha de gelo e afundou-se, afogando mil e 600 dos dois mil passageiros.

O tempo é muito valioso. Quando os pastores ouviram as notícias do recém-nascido Messias, «dirigiram-se para lá apressadamente (Lucas 2:16)» para verem por si próprios. Alguns meses antes, quando Maria teve conhecimento da gravidez da sua prima Isabel, Ela «dirigiu-se para sua casa rapidamente (Lucas 1:39)». As coisas importantes não podem esperar. Maria e os pastores perceberam o que era importante.

E eu? Apresso-me para o quê? O que é que adio? Que coisas considero importantes? Quais são as minhas prioridades? Onde se encontra o meu coração? «Onde estiverem as coisas que prezas, será o lugar onde estará o teu coração (Mateus 6:21)». E onde o teu coração estiver, também estará o teu tempo!

O monsenhor Emery Kabongo trabalhou como assistente do secretário pessoal do Papa São João Paulo II, de 1982 a 1988. Estando em funções há pouco tempo, o secretário pessoal do Santo Pontífice, monsenhor Stanislaw Dziwisz, disse-lhe: «Nada é tão urgente que seja necessário perturbar o Santo Padre quando este está em oração».

«Todas as coisas deste mundo devem esperar quando o Papa se encontra a falar com Deus», como disse o bispo Kabongo a Wlodzimierz Redzioch no livro “Histórias sobre São João Paulo II”.

A nossa atitude não é exactamente o contrário? Tudo o que se relacione com Deus pode esperar quando estamos a fazer qualquer outra coisa para nós. Muitas das vezes estamos muito ocupados para termos tempo para Ele, e encontramos milhares de desculpas para mantê-Lo fora dos nossos compromissos. Mas quando as coisas correm mal e os acidentes acontecem perguntamos: “Onde está Deus?”.

Estamos sempre absorvidos com nós próprios e temos dificuldade em virar as nossas atenções para Ele, e mesmo assim quando rezamos queremos que ele nos preste, sempre, atenção e esteja atento às nossas directivas. Facilmente nos esquecemos quem na realidade é o Senhor. «Estas pessoas honram-me com os seus lábios, mas os seus corações estão longe de mim (Mateus 15:8)».

Quantas vezes nos comportamos como aquele estudante, que estava tão aborrecido com a palestra do professor, que passava o tempo a olhar para o seu relógio. O professor não pôde deixar de verificar esse facto e perguntou-lhe: «Senhor Jonas, posso saber porque não pára de olhar para o seu relógio?».

«Oh… pois… senhor, estava apenas preocupado com a possibilidade do senhor não ter tempo para finalizar esta magnífica palestra».

Não somos nós muitas vezes tentados a olhar para os nossos relógios enquanto rezamos ou estamos na Missa? «Muitos cristãos esbanjam tempo e têm suficiente lazer para a sua vida social (aqui não há pressa). E também são vagarosos nas responsabilidades profissionais, à mesa e quando se divertem (aqui, também não há pressas).

Mas não é estranho que esses mesmos cristãos se sintam tão apressados que queiram apressar o Padre, na sua ansiedade de reduzir o tempo dedicado ao Sacratíssimo Sacrifício do Altar?» (São Josemaría, Caminho, ponto nº 530).

Jesus Cristo, meu Senhor, meu Salvador, Tu deste-me a totalidade do Teu ser. Em contrapartida eu ofereço-Vos o meu pensamento, eu ofereço-Vos o meu coração, eu dou-Vos o meu tempo, todo o tempo que porventura Vós necessitais de mim.

Pe. José Mario Mandía

jmom.honlam.org

(Tradução: António R. Martins)

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