Estatísticas oficiais são enganadoras.
O economista Albano Martins disse a’O CLARIM que a proposta relativa à alteração do regime jurídico de arrendamento poderá vir a não reflectir a situação real do mercado imobiliário. Em causa está o mecanismo de coeficiente de controlo das rendas, a ser implementado em determinados contratos pelo Chefe do Executivo, quando assim o entender.
A medida será sempre de cariz excepcional e transitório, conforme o projecto de lei apresentado por nove deputados na Assembleia Legislativa. A definição do coeficiente terá em conta vários índices económicos, tais como o Índice de Preços do Consumidor, a taxa de inflação ou a média salarial.
Exemplificando que «as estatísticas [oficiais] têm vindo a apresentar comportamentos negativos no índice de preços, embora cada vez menos negativos», Albano Martins acredita, mesmo assim, que «as rendas já estão a aumentar», um crescimento que «ainda não se traduz» nas estatísticas. «Provavelmente, a partir de Agosto já se irá notar esse crescimento», adiantou.
No seu entender, a razão para este «desfasamento» é algo que carece de explicação, visto «o mercado imobiliário acompanhar a evolução do Jogo». «Há qualquer coisa de inadequado na maneira como os Serviços de Estatística [e Censos] recolhem a informação», salientou, acrescentando: «Tenho algumas dúvidas se os indicadores são, de facto, representativos do universo das rendas».
Na mesma linha de ideias, disse «acreditar que as diferenças tenham, por vezes, a ver com o facto das rendas não terem sido “mexidas”», por «haver contratos que ainda não terminaram», sendo aqui «natural esse desfasamento».
Contudo, «se o mercado de imobiliário sobe durante um ano e as rendas não acompanham, mesmo com um desfasamento de alguns meses, seguramente é sinal que as estatísticas [oficiais] não estão a funcionar bem», vincou. Para ele, «é natural que a “renda” acompanhe o mercado imobiliário porque nada mais é do que a remuneração do valor do imóvel como se fosse um juro num banco».
Jones Lang LaSalle
Para Albano Martins, «é muito estranho que após o anúncio de medidas para o arrendamento, que não se sabem ainda bem como serão implementadas, apareça logo alguém ligado ao sector imobiliário [responsáveis da Jones Lang LaSalle] a dizer que provavelmente até vão ser contraproducentes», dando a entender que «poderão ter um efeito contrário» ao esperado.
«É verdade que se o mercado de arrendamento funcionar livremente, como desejam, provavelmente os proprietários prefiram vender os seus imóveis, deslocando a oferta do mercado de arrendamento para o mercado de vendas», vincou Albano Martins.
«O que não disseram é que isso só funciona se também houver controlo no mercado de vendas. Não podem dizer isso, é claro, pois são os principais interessados no mercado imobiliário», frisou o economista, suspeitando que «não querem que haja qualquer tipo de intervenção no mercado imobiliário».
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
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